O Cruzeiro enfim teve um grande teste na temporada contra o São Paulo no Morumbi e o torcedor não poderia ficar mais satisfeito com o resultado do confronto. Mas a pergunta é: A atuação agradou?
Existe um erro crasso na maior parte das avaliações das partidas e a insistência e recorrência no mesmo, além de demonstrar inocência, chegam a incomodar pela ignorância. Em uma partida de futebol, existe um adversário. E o estilo de jogo, a qualidade técnica, a organização tática e várias outras variáveis do rival influenciam diretamente no que será possível apresentar durante os 90 minutos.
Neste sentido, as partidas da modorrenta fase classificatória do Campeonato Mineiro diziam pouco ou quase nada para projetar o que a Raposa apresentaria no Morumbi. Mesmo os clássicos contra o Atlético-MG, disputados no Mineirão e em circunstâncias de importância bem diferentes de uma eliminatória de Copa do Brasil, não ajudavam a traçar perspectivas. Era um teste de dificuldade inédita na temporada. E o Cruzeiro passou com louvor!
Outro erro crasso é a interpretação de que uma postura reativa é sinônimo de retranca. José Mourinho acumulou títulos na Europa atuando de forma reativa e isto não foi suficiente para que, no Brasil, atuar a partir do seu campo de defesa, buscando transição em velocidade e aproveitar os espaços de um rival avançado seja uma opção de jogo interpretada como consistente. E que nem sempre o resultado reflete se esta foi uma boa postura ou não, bem como a possibilidade que um duelo apresenta para fazer diferente.
O Cruzeiro teve na última quinta-feira um Morumbi com bom público e um rival muito qualificado pela frente. A dupla de zaga formada por Rodrigo Caio e Maicon foi a melhor que o time celeste enfrentou neste ano com sobras. E não fosse a excelente atuação do segundo, principalmente no primeiro tempo, era provável que já tivesse ido para o intervalo em vantagem.
Com um dos melhores ataques da temporada no Brasil, o São Paulo apresenta muitas peças a serem neutralizadas. Luiz Araújo não vem bem, mas é liso. Cícero é um perigo nas bolas aéreas, Lucas Pratto confere mobilidade interessante ao ataque e Jucilei tem um poder de penetração importante. Durante a partida, tudo isso pouco apareceu. Mérito de um sistema defensivo organizado para correr poucos riscos. E que conseguiu passar ileso.
O Cruzeiro foi perigoso durante os 90 minutos e o triunfo lembrou bastante a postura que a Raposa teve em terras paulistas em outros confrontos históricos no Morumbi como o 3x0 de 2013, quando o São Paulo teve 58% de posse de bola e finalizou 17 vezes contra 11 do time celeste. Ou das quartas-de-final da Libertadores de 2009, quando o golaço de Henrique na segunda etapa encerrou uma longa pressão são-paulina visando reduzir a vantagem cruzeirense obtida no jogo de ida
Vencer o São Paulo no Morumbi atuando no campo deles e oferecendo um jogo franco não só não é normal na história celeste como não é tarefa simples para ninguém. Organizado, cauteloso, com um contra-ataque assustando e uma bola parada decisiva (foi para isso que Thiago Neves veio), a vitória azul foi construída com autoridade e deve ser compreendida através do seu verdadeiro tamanho e não como o resultado de um Cruzeiro "retrancado", "covarde" e outras palavras que chegaram a ser utilizadas, principalmente até o primeiro gol cinco estrelas.
Ainda há muito para se jogar em 2017, mas o Cruzeiro do Morumbi ofereceu bons motivos para a torcida animar.
Rafinha elogia Mano Fábio, enfim, de volta Últimas do Cruzeiro João Henrique Castro é professor, historiador e, obviamente, cruzeirense. Daqueles que sabe que nada brilha mais no céu do que as cinco estrelas que traz no peito.