Zizou conhece o ofício. Já dizia na prévia que não seria nada fácil, ao contrário do que o resultado da ida indicava. Nenhuma chance de ser um jogo sem história. Afinal, como os madridistas bem sabem, o improvável e o impossível não são tão próximos assim. O Sevilla não cairia sem lutar, muito menos ao estar nutrido da considerável força de seu ambiente. Para os 'merengues', a classificação não era o único objetivo em pauta. Alcançar a 40ª partida seguida sem derrota significaria o recorde de invencibilidade no futebol espanhol. Não era algo prioritário, mas tem sua importância. A empolgada comemoração do terceiro gol — completamente intranscendente para efeitos de Copa do Rei — dá a medida.
Das histórias maravilhosas que o futebol proporciona: o Barcelona chegou ao derradeiro clássico da temporada passada carregando uma invencibilidade de 39 jogos. Aquele memorável 1-2 findou a sequência azulgrana. Uma semana depois — tinha uma derrota para o Wolfsburg no meio do caminho — iniciou-se a jornada madridista que chegaria a bater o recorde que o próprio Madrid freou em um primeiro momento. Nesse meio tempo, os blaugranas tiveram ocasião de derrubar os blancos e manter o recorde, mas esqueceram de combinar com o eterno Sergio Ramos.
Dessa vez, não coube ao capitão ser o herói da noite. Mas é claro que ele não ficou de fora da festa. Bateu um pênalti de cavadinha aos 83 minutos, diminuindo o placar para 3-2. Foi Benzema quem, no já bendito e sagrado minuto 93, concretizou um dos poucos empates felizes da história do Real Madrid.
Dignos de nota os dois primeiros tentos do jogo. O Sevilla abriu o placar em um gol contra patético de Danilo, uma presença cada vez mais questionável no elenco madridista. A camisa parece pesar-lhe uma tonelada. Todo o contrário do que acontece com Asensio, autor do gol que colocou um momentâneo 1-1 no placar. Gol não, golaço. Uma arrancada impressionante. 70 metros, conduzindo a bola em alta velocidade. Tardou apenas 11 segundos em resolver a jogada. A despeito das oscilações próprias da idade, Marco Asensio nunca se esconde quando é chamado. E talento lhe sobra, isso é flagrante.
Enfim, tinha que ser com sofrimento. Com emoção, perseverança e caráter. Quando, pela enésima vez, tudo parecia perdido. Mas, fazendo jus aos seus valores constitutivos e, como não, à sua implacável história recente, o Real Madrid não largou o osso.
Muito da sequência de 40 jogos sem perder está relacionada com esse aspecto. Talento, sim, mas sobretudo, muito trabalho e esforço. Tantas vezes a equipe esteve no fio da navalha. E, como se de uma fobia à derrota se tratasse, caçou o improvável sem cessar até torná-lo realidade.
Um cuidado
Infelizmente, cedo ou tarde, a derrota chegará. Faz parte não só do futebol, mas da vida. Nada é infinito. É uma lei natural. Assim sendo, Zidane tem trabalhado a cabeça dos jogadores para que, depois de tantos jogos, um revés não pareça maior do que realmente é. A ideia é minimizar a sensação de susto para que o time não se perca.
O Barcelona é o exemplo perfeito de que tal prevenção convém. Após cair para o Real Madrid no Camp Nou e perder sua sequência, os 'azulgranas' foram ladeira abaixo até o fim da temporada e quase perderam uma Liga que estava ganha.
Mas, por enquanto, os brancos estão invictos. Podem curtir. Já são 40. E contando....