Tetracampeão do mundo com a Seleção Brasileira, Mauro Silva tem uma história de amor e respeito ao manto 'verde-amarelo', foram anos de dedicação e conquistas como a Copa do Mundo de 1994, título que o Brasil não faturava há 24 anos, e que veio em grande estilo contra os italianos na grande decisão. A trajetória de Mauro na 'canarinho' começou em 1991, num amistoso contra a Argentina.
Em entrevista exclusiva a 'Brasil Global Tour' ele relembrou a estreia com a camisa '5' que deu início a uma grande era no meio-campo brasileiro.
Seleção Brasileira
"Como eu não vou lembrar? Um jogo difícil lá na Argentina, 3 a 3. Renato Gaúcho, Bebeto, Cafu. Foi um jogo importante, o meu primeiro como titular, a minha estreia, eu tinha sido convocado no jogo contra o México, em Los Angeles, então esse foi o meu primeiro como titular", relembrou.
"Uma alegria enorme vestir a camisa da Seleção, a número '5' pela primeira vez e consegui o empate fora de casa, eu tive um desempenho, modéstia parte razoável porque acabei ficando como titular depois daquele jogo", acrescentou.
Desde então, Mauro Silva se tornou uma referência de qualidade, eficiência e solidez no meio-campo brasileiro, ao lado de Dunga formou uma das mais emblemáticas duplas de volantes que passaram pela Seleção. Em 1994, no mundial dos Estados Unidos, Mauro foi titular em todos os jogos e quase marcou o gol que daria o título ao Brasil antes da decisão por pênaltis.
"A minha maior lembrança é o Baggio chutando o pênalti para fora e o Brasil comemorando o título depois de 24 anos, aquela imagem é inesquecível. Quando a gente fala de um aspecto coletivo para todo o brasileiro foi o momento mais marcante, porque esses 24 anos pesavam muito nas costas da entidade da Seleção, não pode ficar tanto tempo sem ser campeão do mundo. Mas para mim, pessoalmente, tem um lance que eu chuto uma bola no final do segundo tempo que bate na mão do Pagliuca e bate na trave, quase eu faço o gol do título. Até hoje quando eu vejo esse lance eu torço para a bola entrar", disse.
Se Mauro Silva e Dunga fizeram sucesso defensivamente, eles também foram responsáveis por Bebeto e Romário terem mais liberdade para brilharem lá na frente. Sem hesitar, o ex-volante disse ter sido uma das alegrias de sua vida atuar com a dupla decisiva na conquista do tetra.
"Essa dupla é incrível, quando você tem um ataque com Bebeto e Romário tudo fica mais fácil, uma das melhores duplas de atacante que eu tive a oportunidade de atuar junto. Porque no clube você tem grandes jogadores né? O Bebeto estava comigo no La Coruña, mas eu não tinha o Romário, então uma dupla de ataque tão incrível com tanto talento para a gente na Seleção era um sonho", explicou.
Além disso, acrescentou: "Foi um prazer vestir a camisa da Seleção, ser campeão do mundo e jogar ao lado de Bebeto e Romário, foi uma das grandes alegrias da minha vida".
Fase no Deportivo La Coruña
Se Mauro fez história na Seleção, o mesmo aconteceu Deportivo La Coruña, foram treze anos vestindo e honrando a camisa do Dépor, onde é considerado o maior ídolo da história do clube espanhol. Outros brasileiros também passaram por lá como o próprio Bebeto e o Rivaldo, mas a relação do ex-camisa '5' com o clube é diferente e foi por isso, que mesmo com propostas melhores, ele preferiu seguir fazendo história na Galícia.
"Tive algumas propostas sim, inclusive interessantes mas a minha história com o Coruña, eu voltei lá semana passada né, e os torcedores, eles me elegeram como o melhor jogador da história do clube, um clube com 110 anos de história é algo meio impensável assim. Eu não tenho palavras para agradecer esse reconhecimento porque é algo além da questão técnica", agradeceu.
"Eu tecnicamente falando, Bebeto, Rivaldo, Djalminha grandes craques e eles escolheram o Mauro Silva, me da impressão que é um conjunto de coisas. Além do aspecto jogador, minha relação com o clube, os três anos que fiquei lá, o meu sacrifício, por ter tido propostas e recusado, tem uma relação muito especial", disse.
"Eles fizeram uma homenagem outro dia e eu acabei ficando muito emocionado, e também tenho uma relação muito intensa com a faculdade, com a prefeitura, não sei é um milagre o que acontece entre o Mauro Silva e o La Coruña", concluiu.
Os feitos históricos do Dépor de Mauro Silva
Tantos anos de dedicação ao clube foram recompensados com títulos, mesmo num país onde Real Madrid e Barcelona, com poder aquisitivo muito maior, dominam, o Coruña de Mauro Silva conseguiu feitos históricos e que ele lembra com bastante orgulho.
"Para quem perdeu o Espanhol em 93/94 , o Bebeto ainda estava lá comigo, por causa de um pênalti no último minuto, um time que nunca tinha ganhado o Campeonato Espannhol, foi um gole duro e o título da temporada 99/00 quando o La Coruña se torna campeão pela primeira vez, esse foi o momento mais especial da minha história. Foram seis títulos, conquistas, cinco edições de Liga dos Campeões, vitórias memoráveis, a Copa do Rei contra o Real no Santiago Bernabeu, mas a conquista do Espanhol era um trauma que a gente tinha, então foi o momento muito especial", explicou.
Falando em Champions League, o La Coruña de Mauro Silva protagonizou uma das viradas mais incríveis da competição. Depois de perder para o Milan por 4 a 1 dentro do San Siro, o time espanhol conseguiu a remontada vencendo os italianos por 4 a 0 no jogo da volta. Outro momento marcante na carreira do ex-volante.
"Incrível, quartas de final da Liga dos Campeões, você vai no San Siro e perde de 4 a 1, precisa conseguir essa virada contra o poderoso Milan com Cafu, Dida, Nesta, Kaká, Pirlo, Seedorf... uma constelação toda e você consegue 4 a 0, 3 a 0 no primeiro tempo é uma das coisas que o La Coruña, momentos com letras de ouro na história do futebol espanhol e na história do clube", disse.
Djalminha, camarada e amigo
Treze anos no clube fizeram com que Mauro atuasse com inúmeros jogadores e como citado a cima Djalminha foi um desses, considerado pelo ex-volante um dos grandes craques do futebol brasileiro, o ex-atacante, apesar de muito talento, não teve sucesso na Seleção Brasileira, o que para Mauro foi um desperdício.
"Um dos grandes craques, uma pessoa que gosto muito, considero um amigo, me diverti muito jogando com ele, um talento incrível mas é difícil dizer (por que não deu certo na Seleção), ele tinha um talento grande, realmente foi um desperdício da Seleção Brasileira não ter usado, não ter contado mais com o potencial, a qualidade dele", questionou.
"Talvez pelo caráter, algumas decisões que ele pode ter tomado atrapalharam ele. Eu convivi com ele muito tempo e é uma pessoa muito bacana, erro todo mundo comete na carreira e ele é um cara muito competitivo, ganhador, realmente uma pena, acho que quem perdeu foi o futebol brasileiro porque com certeza ele ia fazer o torcedor passar momentos mágicos", disse sobre o companheiro.