São gigantes espalhados por todo mundo, principalmente no Brasil e na Europa. Vivemos em um país onde o futebol é extremamente popular e existem grandes e tradicionais equipes em todo o território nacional. Além disso, o pai e/ou a mãe costuma passar a paixão para o filho (a). Apesar de o amor e a escolha por times europeus ao invés de brasileiros estar crescendo cada vez mais nos últimos anos, ainda é normal e mais comum que os brasucas escolham equipes do país para amar e torcer. Ainda assim, quando não é o caso, a escolha acaba sendo alguma agremiação europeia, quase sempre grande, ou gigante, como Barcelona, Real Madrid, Manchester United, Bayern de Munique e por aí vai.
Não é comum torcer pra valer por uma equipe de um centro alternativo. Deixando claro: torcer, não simpatizar. Comprar camisas e produtos do clube, conhecer os jogadores do presente e do passado, a história, ver todos os jogos ou acompanhar sempre e estar por dentro das notícias. Muitas vezes, até a língua e a diferença no fuso horário são fatores que influenciam na hora de escolher um time alternativo, além da menor exposição na mídia.
Por tudo isso, escolher um time japonês, ainda que o Brasil tenha uma gigantesca colônia nipônica, não é normal no país. A língua e o fuso horário totalmente diferentes já são fatores que complicam o acesso as notícias e aos jogos, que chegaram a ser transmitidos por canais abertos e fechados na TV no país, mas atualmente não são. No entanto, isso não impede que brasucas torçam e acompanhem as equipes e o futebol japonês.
Existem vários tupiniquins que torcem, de verdade, por agremiações da terra do Sol nascente. Inclusive e, principalmente, pelo Kashima Antlers, que neste domingo (18), às 8h30 (de Brasília), encara o poderoso Real Madrid na final do Mundial de Clubes, no Nissan Stadium, em Yokohama, no Japão.
Um deles é Gustavo Queiroz, que celebrou como nunca o triunfo do Kashima por 3 a 0 sobre o Atlético Nacional, na última quarta-feira (14), na semifinal da competição. O que torna tudo ainda mais curioso é que o time colombiano e sua torcida, após as belíssimas demonstrações de solidariedade e humanidade depois da tragédia envolvendo a Chapecoense, conquistaram os brasileiros, que garantiram uma torcida em peso pelos Verdolagas no Mundial.
O torcedor brasileiro do Kashima Antlers, porém, garante que não ficou dividido e torceu como sempre pelo seu time. "Fico muito contente por tudo que o Atlético fez pela Chape. Foram homenagens maravilhosas e com certeza adquiri um certo carinho pelo clube, mas meu time do coração é o Kashima, então dificilmente eu ficaria dividido. Torci muito pela vitória do Antlers, independentemente da comoção.
Até porque para nós (torcedores do Kashima) também é um momento histórico e estávamos ansiosos demais por algo assim. Conseguimos mostrar nossa grandeza para o mundo inteiro", comenta, em entrevista à Goal Brasil .
A vitória e a classificação da equipe japonesa foram surpreendentes. Não apenas porque o Atlético Nacional é o melhor time das Américas em 2016 e vinha em grande fase com seu ótimo esquadrão comandado pelo excelente técnico Reinaldo Rueda, mas também porque o próprio Kashima Antlers, apesar do título da J-League e de contar com bons jogadores, era uma surpresa no Mundial e não inspirava muita confiança em seus torcedores, inclusive no próprio Queiroz.
Afinal, a agremiação nipônica não foi bem no segundo semestre da temporada e decepcionou, mesmo com a conquista nacional. O bom desempenho no Mundial é uma enorme surpresa.
"Fiquei feliz demais com o resultado e me surpreendi. Confesso que não estava tão confiante para o jogo. Antes da partida, eu só queria que o Kashima jogasse de forma digna, de igual para igual com os Verdolagas, para deixar uma boa impressão para o mundo inteiro, que estava ligado na partida. Fiquei satisfeitíssimo com o que vi. Nem parecia o Kashima que vi jogar nesse segundo semestre! (risos)", confessa o torcedor.
"Muitos amigos viviam tirando sarro da minha cara por torcer para uma equipe japonesa. Foi um momento de extrema felicidade, ainda mais que pude tirar uma casquinha deles por conta da vitória. Sobre os sentimentos, acho difícil achar um só. É uma mistura de felicidade com alívio e uma pitada de surpresa. Não me sentia bem assim desde o título do meu amado Corinthians no Mundial em 2012", conta.
Entre os brasileiros que torcem para times japoneses, o Kashima Antlers está entre os mais populares. Afinal, além de ser um dos mais vencedores e tradicionais clubes do Japão, o Kashima contou com grandes craques em sua história, entre eles, ninguém mais ninguém menos que Zico. Esses são os fatores que fazem os tupiniquins torcerem ou simpatizarem com a equipe de Ibaraki. No caso de Queiroz, no entanto, a paixão pela agremiação começou de uma forma totalmente inusitada.
"É uma história bem peculiar e uma escolha aleatória, mas quando comecei a acompanhar e descobri a grandeza do clube, tive a certeza de que fiz a escolha certa. Em 2004/2005 eu ganhei meu primeiro console e jogava Winning Eleven com a seleção japonesa. Comecei a gostar da seleção. Em 2006, eu ganhei um álbum completo da Copa do Mundo do meu pai e vi muitos jogadores do Kashima, incluindo o Yanagisawa, artilheiro máximo da Master League na época.
Eu "escolhi" o time assim, via álbum. Mas só fui ter o primeiro contato com a equipe mesmo em 2008, quando comecei a ver a J-League e acompanhar todos os resultados do time de perto", revela.
Todo mundo tem um jogador favorito em seu time, e com o torcedor brasileiro do Kashima Antlers não é diferente. A equipe tem ótimos nomes como o experiente e excelente meia Mitsuo Ogasawara, o talentoso Gaku Shibasaki, além do ótimo atacante Mu Kanazaki e do bom meio-campista Yasushi Endo.
Gustavo Queiroz, porém, tem outra preferência, e das boas: o autor do terceiro gol contra o Atlético Nacional, conhecido por ser decisivo, já que 60% de seus tentos na carreira foram marcados após os 35 minutos do segundo tempo.
"Eu era muito fã do Shibasaki, mas, graças ao Aires, um amigo que torce pelo Kashima e mora no Japão, descobri que ele na verdade é um grande mala sem alça. Acho que não tenho um ídolo exatamente nesse elenco atual, mas gosto bastante do estilo de jogo do Yuma Suzuki. É um garoto com um potencial gigantesco e tem tudo para fazer história no clube", comenta.
Quanto a aposta para a decisão contra o Real Madrid, o brasileiro tem os pés no chão. "Acho que essa até o mais otimista torcedor concordaria comigo. Provavelmente 2 a 0 para o Real. É muito difícil imaginar que o Kashima vá surpreender tanto assim a ponto de desbancar o melhor time do mundo, que está há quase 40 jogos sem saber o que é uma derrota", reconhece.
A história será escrita às 8h30 (de Brasília), deste domingo. O Real tenta o pentacampeonato do Mundial de Clubes, enquanto o Kashima Antlers quer surpreender ainda mais. A equipe japonesa é a primeira asiática na final do torneio. Obviamente, os Blancos são os favoritos, mas é bom não duvidar do time nipônico, que já provou várias vezes, inclusive neste ano, que é mestre na arte da surpresa.