A difícil vitória contra o lanterna em Pamplona mostrou que, ao menos de momento, o esquema com três zagueiros (quer seja no 3-5-2 ou no 5-3-2) é uma temeridade. O time fica muito espaçado tanto na fase defensiva quanto na fase ofensiva. Acaba não conseguindo nem criar, nem destruir. Contra o Napoli, não era hora para testes e Zidane sabe muito bem disso. Lançou mão do habitual 4-3-3/4-4-2 — a variação depende da circunstância do jogo — com o consagrado trio Casemiro, Kroos e Modrić para fazer a equipe funcionar. James, surpreendentemente, foi o escolhido para atuar do lado direito. O colombiano cumpriu bem as suas atribuições defensivas e, se não foi brilhante no ataque, pelo menos não destoou.
O Madrid começou com muita intensidade, levando perigo duas vezes já no primeiro minuto. O problema é que o Napoli também atacava, e bem. Linhas adiantadas, pressão no campo de ataque e avanço em bloco, o que fez até com que a defesa madridista ficasse em inferioridade numérica em algumas ocasiões. Chamou atenção a facilidade com que os italianos encontraram jogadas em profundidade pelo meio, algo incomum para os 'merengues', que geralmente sofrem mais para defender os lados do campo. Em uma dessas infiltrações, Insigne viu Keylor Navas completamente fora de posição e bateu colocado de longe para abrir o placar. Uma falha que definitivamente não pode acontecer em um jogo desse porte. Não muito tempo depois, Benzema empatou de cabeça, fazendo justiça ao equilíbrio que se via em campo. Menção honrosa para o maravilhoso cruzamento de trivela de Carvajal no lance.
Em relação ao atacante francês, foi o melhor em campo. Na Champions, sua efetividade goleadora não se ressentiu tanto — é o artilheiro da equipe no torneio — mas sua capacidade associativa sim. Até que ontem voltamos a ver o que faz dele o melhor centroavante do mundo. Sua imensa qualidade e inteligência para sair da área, ajudar na criação de jogadas e fazer tabelas é o aspecto em que ele mais se sobressai em comparação a outros de sua posição.
Voltando ao jogo, o Real Madrid conseguiu ter mais controle das ações no terço final da primeira etapa, até porque os napolitanos sentiram a parte física depois do início frenético e ameaçaram um pouco menos. Ao retornar do intervalo, os madridistas vieram com a mesma intensidade que demonstraram no início do jogo. Dessa vez, no entanto, a pressão foi premiada com gols. Foram duas bolas na rede em 10 minutos, obras de arte de Toni Kroos e Casemiro. O gol do alemão saiu após grande jogada de Cristiano Ronaldo, que não marcou, mas teve ótima atuação coletiva. Se for para escolher uma "versão" do português, sem dúvida prefiro a que vimos quarta-feira. Já o tento de Casemiro foi um pombo sem asa memorável, de fora da área e sem deixar a bola cair.
Valente, o Napoli, mesmo cansado, seguia atacando com muitos jogadores. Diga-se, o jogo foi franco, de ida e volta, lá e cá, o tempo inteiro. Marcelo poderia ter feito o quarto, bem como Mertens podia ter marcado o segundo, em chance que surgiu depois que Navas saiu jogando errado pela segunda ou terceira vez na partida.
3-1 é um bom placar, não pode ser desprezado, mas não é resolutivo. Deixa uma brecha para que haja emoção em Nápoles. O time italiano deu trabalho no Bernabéu e contará com o inferno de San Paolo — como disse seu próprio treinador — no jogo de volta, razões pelas quais o Madrid precisa entrar em campo com muita disposição e sangue frio, como se não houvesse vantagem.
Se pecar por preguiça ou soberba, o esquadrão blanco arderá em fogo azul. Mas, se tiver boa postura, por mais difícil que o jogo possa ser, avançará naturalmente, mantendo o sonho de alcançar o céu em Cardiff. O Napoli tem qualidade e é muito bem montado, mas a superioridade técnica madridista existe e deve se fazer prevalecer. Para a volta, inclusive, o Real Madrid provavelmente contará com um fato "novo" que pode ser muito importante: Gareth Bale. O retorno do galês está próximo e se ele estiver bem fisicamente no inicio de março, sua velocidade pode ser letal no contra-ataque, já que o Napoli vai ter que buscar o resultado e possivelmente dará mais espaços do que no jogo de ida.