Adenor Leonardo Bacchi ou simplesmente Tite é ninguém menos que o comandante que vai liderar o Brasil na busca pela tão sonhada sexta estrela na Copa do Mundo da Rússia. Em pouco tempo de trabalho, ele conseguiu feitos incríveis como a classificação antecipada para o Mundial, recorde de invencibilidade e o resgate de alguns atletas, mas de longe, o mais importante foi recuperar a confiança e trazer novamente o apoio do torcedor.
"Sou um ser humano, tenho os mesmos sentimentos que vocês têm e por condição da vida, de me preparar dia a dia. Não imaginei ser técnico da Seleção, não planejei, faço meu melhor a cada dia. Estabeleço metas a curto e médio prazo, aprendi que futebol é assim", disse o treinador em entrevista coletiva no dia que foi apresentado como novo técnico brasileiro.
No mesmo dia ele também falou sobre como pretendia ver o Brasil atuando dentro de campo, o que parecia complicado tendo em vista a pouca evolução tática da equipe desde a chegada de Dunga, seu antecessor.
"Triangulações, troca de passes e infiltrações. De transição, perder a bola e ter iniciativa em pressão alta, média ou baixa. Organização de bola parada importante e consistente. Desafio de me reinventar".
Reinventar, é exatamente essa palavra que podemos resumir a carreira de Tite como treinador, que começou há cerca de 27 anos lá no pequeno Guarany de Garibaldi, no Rio Grande do Sul, estado esse muito importante em sua carreira. Foram 13 anos de trabalho por lá entre passagens por Caxias, Veranópolis, Ypiranga, Juventude até chegar ao Grêmio em 2001.
Três anos depois de começar a carreira, Tite levantou a primeira taça, na época a frente do Veranópolis foi campeão da segunda divisão do Campeonato Gaúcho. Mas foi somente sete anos depois que ganhou algo de relevante, sendo campeão da primeira divisão do Campeonato Gaúcho com o Caxias em cima do Grêmio de Ronaldinho Gaúcho.
Título que influenciou a sua ida para o Grêmio no ano seguinte. Logo no primeiro ano duas taças, o Campeonato Gaúcho e a Copa do Brasil em cima do Corinthians, primeira conquista de Tite a nível nacional. Na época, o atual treinador da Seleção utilizava o esquema 3-5-2, recuando Anderson Polga para atuar como um líbero entre os dois zagueiros.
Os laterais apoiavam muito e tinham as jogadas de ultrapassagem pelo corredor como ponto mais forte. No meio-campo, Eduardo Costa era o volante de marcação e jogava centralizado, mais a frente um volante de velocidade que ajudava na marcação(Tinga) e outro que cadenciava o time(Zinho). A dupla de ataque era formada por Marcelinho Paraíba e Luiz Mario, que se movimentavam bastante.
No primeiro grande título de Tite, ele armou uma equipe forte defensivamente, por vezes chegou a ser chamado de retranqueiro por ter essas características em suas equipes. Um dos pontos mais fortes daquele Grêmio era a bola parada, tanto as cobranças de falta quanto os escanteios.
Depois de três anos de Grêmio, Tite se transferiu para o São Caetano, o primeiro clube que assumiria fora do Rio Grande do Sul, ainda que não tenha conquistado títulos fez um bom trabalho. No ano seguinte, ele assumiu o Corinthians. Em sua primeira passagem por lá não teve sucesso por problemas com a MSI, investidores da equipe na época. Em 2005, ele chegou ao Atlético-MG e também fracassou, foi apontado como um dos responsáveis pela queda da equipe.
Depois disso, o treinador passou por Palmeiras e Al Ain dos Emirados Arabes, mas também sem muito destaque. Em 2008, por fim, retornou ao Rio Grande do Sul, desta vez para assumir o Internacional. Por sua ligação com o Grêmio sofreu muita rejeição, mas com títulos conseguiu conquistar a torcida.
No Colorado, quando voltou a levantar taças, Tite utilizou o 4-4-2, ainda com um time bem forte defensivamente, mas um meio-campo de muita movimentação que tinha como principal característica as infiltrações, sem esquecer da habilidade do camisa 10(D'Alessandro), que sabia criar espaços e sempre tirava uma jogada da cartola.
A linha defensiva era formada por Bolivar, Indio, Alvaro e Kleber, muitas vezes o lateral atuava mais como ala, formando uma linha de quatro. O meio-campo era postado como um tradicional losango, com um volante que saia em velocidade na transição ofensiva(Sandro). Além dele, Guiñazu e Magrão ajudavam a dar pegada no meio. No ataque, muita velocidade com Taison ou Alex e Nilmar como referência.
Por lá, Tite faturou a Copa Sul-Americana de 2008, o Campeonato Gaúcho em 2009 e a Copa Suruga também em 2009. Em 2010 retornou ao mundo árabe, onde ficou apenas três meses. Em outubro do mesmo ano assumiu o Corinthians na reta final do Brasileirão, substituindo Adilson Baptista. Dos 8 jogos restantes venceu cinco e empatou três, faturando uma vaga na Pré-Libertadores.
Quando tudo parecia caminhar bem, o Corinthians de Tite foi eliminado pelo Tolima na pré-Libertadores, algo que jamais havia acontecido na história de clubes brasileiros, mas contrariando o universo do futebol em terras canarinho, a diretoria do Timão decidiu manter o treinador e lhe deu respaldo.
Com a aposentadoria do Ronaldo que veio logo em seguida e a saída de Roberto Carlos, Tite teve liberdade para montar uma nova equipe. Ele deixou de lado o 4-4-2 que utilizara e adotou o 4-2-3-1, com o qual faturou praticamente todos os títulos possíveis.
A base do time era formada por Julio Cesar, Alessandro, Chicão, Leandro Castan e Fabio Santos; Ralf e Paulinho, além de Willian ou Emerson, Danilo ou Alex e Jorge Henrique. À frente, Liedson era o responsável pelo comando de ataque.
Muito forte defensivamente, esse Corinthians ficou famoso pela movimentação constante dos jogadores que ocupavam todos os espaços dentro de campo com uma compactação dificilmente vista no futebol brasileiro antes. A velocidade e a força nas bolas paradas seguiram sendo uma marca de Tite. Com essa formação, ele faturou o Brasileirão 2011, a Copa Libertadores 2012 e o Mundial de Clubes também em 2012, além da Recopa Sul-Americana em 2013, e o Campeonato Paulista.
Depois de várias conquistas, inclusive as duas maiores e inéditas na história do Corinthians(Libertadores e Mundial), Tite não teve seu contrato renovado no final de 2013 e acabou deixando o clube. No ano seguinte, decidiu pela "sabatina" e não aceitou ofertas de ninguém, ele queria descansar, estudar e se preparar para um grande sonho: a Seleção Brasileira.
No entanto, depois da eliminação na Copa do Mundo de 2014 e as várias especulações de que ele seria o novo treinador brasileiro, Dunga foi anunciado para a decepção de todos. Na época, Tite disse em entrevista a ESPN que havia se preparado para o posto, deixando claro que esperava pelo convite.
Melhor para o Corinthians que anunciou o retorno do treinador. Tite voltou ao clube para a sua terceira passagem em 2015 e apesar de um início bastante conturbado com saída de jogadores importantes, eliminações na Libertadores e Copa do Brasil, ele reinventou novamente a equipe, implantou o 4-1-4-1 e bateu o ano como campeão brasileiro, com o recorde de aproveitamento do na era dos pontos corridos, melhor defesa, melhor ataque e equipe mais disciplinada.
Posse de bola, disciplina tática, compactação, transição ofensiva com velocidade, infiltrações pelos corredores laterais, preenchimento dos espaços e muita qualidade individual e coletiva, foram as principais características do 4-1-4-1 de Tite no Corinthians.
E como podemos acompanhar, depois de mais um sucesso do treinador e o fracasso de Dunga na Seleção, Tite foi, enfim, convidado a assumir o Brasil, num momento conturbado e com a pressão pela classificação para a Copa do Mundo da Rússia. Com o 4-1-4-1, ele tirou de letra o desafio e colocou o Brasil no Mundial, recuperou a autoestima do torcedor e o bom futebol da Canarinho.