A história do único ídolo em comum de Boca Juniors e River Plate

Gabriel Batistuta, Claudio Cannigia, Hugo 'Loco' Gatti, Oscar Ruggeri e tantos outros. Não são poucos os nomes históricos que defenderam tanto Boca Juniors quanto River Plate, os eternos rivais e gigantes argentinos que, neste sábado (24), às 18h (de Brasília), se enfrentam no Monumental de Núñez pelo jogo de volta e decisivo da final da Copa Libertadores.
Más de 90 jugadores vistieron la camiseta de #Boca y #River, acá algunos de ellos. ¿Quién es el más respetado y quién el más odiado por las hinchadas? Para @goalenespanol
No entanto, por uma saída conturbada, fazer mais sucesso em um clube do que no outro ou qualquer outro motivo, nenhum deles acabou ídolo nos dois gigantes, sempre de apenas um, e ainda acabaram tido como traidores e com a imagem arranhada com a torcida de um dos clubes, especialmente por conta da troca. Apenas um craque conseguiu a proeza de não ser odiado e se consolidar ídolo tanto de Boca Juniors quanto de River Plate.
O nome do gênio é Norberto Menéndez, o único que foi três vezes campeão nacional por cada um dos rivais, e isso nas décadas de 1950 e 1960, quando ser campeão argentino ainda era a glória máxima de todos os clubes do país. Nenhum outro jogador conseguiu fazer algo perto do que Norberto fez.
O talentoso atacante foi revelado pelo River Plate, e estreou pelos Millonarios em 1954, com apenas 17 anos, justamente contra o Boca Juniors, em La Bombonera, e ainda venceu o clássico. Mostrando ótimo arranque, talento, habilidade e toques curtos, Menéndez acabou rapidamente se tornando titular e formou uma excelente dupla com outro histórico craque argentino: Omar Sívori.
Mostrando enorme talento, Menéndez foi tricampeão argentino seguido entre 1955-57. Na época, ser campeão argentino ainda era a maior glória para os clubes do país e apenas o Racing tinha um tricampeonato nacional seguido profissional.
5 de diciembre de 2017
Os feitos levaram o atacante, vice-artilheiro do Campeonato Argentino na conquista de 57, com 14 gols, à seleção hermana principal (ele já tinha ganho a medalha de ouro nos Pan-Americanos de 1955), pela qual ele foi o autor do primeiro gol da Albiceleste em Eliminatórias de Copa do Mundo, quando balançou as redes três vezes em quatro jogos, e o centroavante titular no Mundial da Suécia, em 1958.
A campanha na Copa, no entanto, foi desastrosa. Menéndez marcou um gol nos 3 a 1 sobre a Irlanda do Norte após uma derrota para a então atual campeã Alemanha Ocidental na estreia. No entanto, a Argentina, que se achava uma das favoritas ao título, acabou massacrada pela Tchecoslováquia no último jogo do grupo: 6 a 1, naquela que é até hoje a derrota mais elástica da Albiceleste, que terminou eliminada logo na primeira fase.
Para piorar, o atacante ainda tinha levado uma multa por ficar uma dia trancado no quarto dormindo enquanto ocorriam treinos antes do início da Copa. O River, base daquela seleção, acabou afetado pelo desastre, com muitos outros jogadores afetados pelas críticas, e do tricampeonato nacional nos anos anteriores, ficou apenas no 5º lugar em 1958 e 1959. Depois do vice, em 1960, Menéndez, cheio de suspensões por indisciplina, foi vendido ao Huracán.
Apenas um ano depois, ele acabou negociado com o Boca Juniors, o que faz muitos até hoje garantirem que a venda ao Huracán foi apenas uma fachada para ele não ir diretamente do River para os Xeneizes.
Un día como hoy de 1994 falleció Norberto Menéndez, un caso único: Fue 3 veces campeón en RiBer, de donde había surgido, y 3 veces en Boca. pic.twitter.com/A4ZFjN4Fd8
Em La Bombonera, Menéndez atuou mais recuado para municiar o artilheiro brasileiro Paulinho Valentim, e brilhou intensamente. O craque foi tricampeão argentino - não de forma consecutiva - no Boca (1962, 1964 e 1965) como foi no River, e ganhou os três títulos pelos Xeneizes justamente sobre seu ex-time, e ainda marcando gols importantes e históricos.
26 de mayo de 2017
Em 1964, Menéndez marcou o gol do empate contra os Millonarios que deu ao Boca o título argentino na penúltima rodada. Um ano depois, anotou o tento da vitória sobre o River a três minutos do fim, colocando os Xeneizes de forma isolada na liderança e garantido o título. Os dois clássicos foram lembrados em um Top 10 de triunfos do clube de La Bombonera em clássicos sobre o River no Book of the Xentenary, o livro oficial do centenário boquense.
Nos anos seguintes, porém, o Boca perdeu o gás e ficou longe da briga pelo título argentino. Menéndez acabou deixando o Boca em 1968 como grande ídolo, assim como foi no River Plate, mas com um trauma. Em 1967, o craque bateu o carro a 120km/h em uma árvore, em acidente que matou dois amigos que o acompanhavam. Deprimido, ele foi condenado a dois anos em regime semiaberto e decidiu se aposentar. Ele acabou sendo convencido a voltar a jogar por Colón e o uruguaio Defensor em algumas partidas, mas terminou a carreira de forma definitiva em 1971.
O craque boêmio, porém, conseguiu a raridade de encerrar sua carreira como o único tricampeão argentino e ídolo tanto de Boca Juniors quanto de River Plate.