A agónica marca de penáltis de Stamford Bridge serviu para que Londres levasse o seu dérbi à final da Europa League em Bakú, onde o Arsenal esperava o Chelsea depois de fintar o Valência em Mestalla no tempo regulamentar. Dois novos passaportes ingleses que certificaram a autoridade da Premier League este ano.
Enquanto Theresa May negoceia em sede parlamentar a saída do Reino Unido da União Europeia, quatro equipas de Inglaterra monopolizam as finais da Champions e da Europa League, graças a quatro técnicos estrangeiros, num claro exemplo de vantagens da mestiçagem.
Para além do forte investimento em contratações por causa dos milionários acordos pelos direitos televisivos, os clubes ingleses conseguiram converter a Premier League na Meca dos treinadores estrangeiros. Pela capacidade económica, cultura futebolistica e foco mediático, Inglaterra foi o sitio certo para os grandes treinadores da época.
Apesar da grande oposição do "establishment", os clubes entenderam a necessidade de se reinventarem, dotando o seu caraterístico futebol físico da tática dos melhores técnicos estrangeiros. Uma mistura perfeita que esta temporada começou a dar frutos.
Apesar de só terem havido duas ausências de equipas inglesas nos quartos-de-final da Champions League desde a disputada entre Manchester United e Chelsea em 2008, o futebol espanhol, com Real Madrid e Barcelona, dominou a última década com uma autoridade quase inquestionável.
No entanto, a Premier League soube ler o contexto histórico e os grandes clubes encomendaram a sabedoria dos técnicos estrangeiros. Perante a impossibilidade de assinar Cristiano Ronaldo ou Messi, City, Liverpool, United, Tottenham, Chelsea, Arsenal e companhia entregaram os seus bancos a líderes que não são de língua inglesa.
Jürgen Klopp repete a final da Champions League -também disputou uma da Europa League-, depois de multiplicar exponencialmente a competitividade de um Liverpool capaz de humilhar o todo-poderoso FC Barcelona do melhor jogador de todos os tempos.
Mauricio Pochettino levou o Tottenham à primeira final da Champions da sua história, depois de dois mercados de transferências sem contratar pela construção de um novo estádio e sem Harry Kane, nem outa meia equipa lesionada. Uma proeza escrita com tinta de justiça poética.
Unai Emery demonstrou o seu idilio com a Europa League e conseguiu levar o Arsenal à final na sua primeira temporada em Londres. Apesar de estar longe de lutar pela Premier League, o técnico espanhol abandonou o PSG para liderar os "gunners" noutra final europeia.
Maurizio Sarri teve que conviver toda a temporada com uma guerra civil no balneário, sufocando o inferno interno sem descuidar a competitividade da sua equipa. Sem saber o que acontecerá em Baku, o italiano já tem no bolso o passaporte para a Champions League e uma final da Europa League.
Entretanto, convém recordar que, capricho do destino, o Manchester City é a equipa que depende de si própria para conquistar a Premier League. Quer dizer, nem Tottenham, nem Liverpool, nem Arsenal, nem Chelsea, que são as melhores equipas inglesas na Europa, parece que vencerão o campeonato doméstico. Um clube "citizen", por certo, treinado por Pep Guardiola, que também não é britânico.