O futebol turco voltou a investir pesado e, com isso, atraiu jogadores de alto nível. Mariano, que recentemente chegou a ser colocado como alvo do Barcelona, trocou o Sevilla pelo Galatasaray no último mercado de verão. Apesar de ter sido colocado "à venda" pelo clube espanhol, o lateral-direito está entusiasmado com o novo desafio profissional e a real possibilidade de ser campeão nacional pela primeira vez na carreira.
Integrante da "diferenciada" escola de laterais brasileiros, o experiente jogador de 31 anos, em entrevista exclusiva ao 'Blog Ora Bolas', rasga elogios a Jorge Sampaoli, que o teria segurado na Espanha caso não tivesse acertado com a Seleção argentina, ainda aposta no sucesso de Ganso na Europa e alimenta o sonho de ser o reserva de Daniel Alves na Copa do Mundo da Rússia.
O futebol turco investiu forte na última janela de transferências. O que mais te atraiu para fechar com o Galatasaray?
Foi o desafio. Tive a oportunidade de trocar o Brasil pela França, onde pude realizar o sonho de jogar na Europa, e depois veio a Espanha. Tracei os objetivos e aceitei os desafios. Gosto de ser desafiado, principalmente em grandes campeonatos. A Turquia, que tem investido bastante, é mais um objetivo alcançado. Chegaram outros nomes de peso, como o Pepe, o Giuliano, o Maicon, o que ajudou a aumentar o nível do futebol turco. Sou um privilegiado de defender as cores do Galatasaray, que tem o planejamento de ser campeão nacional nesta temporada e voltar a disputar a Liga dos Campeões.
Chegou a hora do Mariano ser campeão nacional? Não conseguiu conquistar o principal título dos países por onde passou...
[Risos] Tomara Deus que sim, estamos batalhando por isso. Estamos na liderança, temos uma boa folga [seis pontos de diferença para o vice-líder Goztepe, 23 contra 17]. Temos sete vitórias e dois empates em nove jogos. O título é o nosso principal objetivo. Por causa das contratações recentes, que foram cerca de oito ou nove, temos surpreendido muita gente com os nossos resultados. Fui campeão com o Bordeaux [Copa da França], com o Sevilla [Liga Europa], e espero ter o mesmo sucesso no Galatasaray.
O que, de fato, te fez sair do Sevilla?
O clube não fez uma proposta de renovação e, logo depois, surgiu a proposta do Galatasaray. O Sevilla queria me negociar. Conversamos e foi bom para os dois lados. Eu, por estar adaptado, e a minha família também, e por estar muito bem no país, queria ter ficado no clube. Porém, não houve acordo para ficar. O Sevilla deixou claro que queria me vender e, então, apareceu a Turquia. A proposta foi boa para o clube. Além disso, já tenho 31 anos, pesou também o lado financeiro. A minha saída foi numa boa hora. Sou muito grato ao Sevilla por tudo. Foram duas grandes temporadas, consegui o título da Liga Europa... Sigo na torcida pelo Sevilla, um clube que vou carregar para sempre no coração.
Ficou frustrado ou chateado pela falta de uma proposta de renovação de contrato?
Poderia ter acontecido de... Ah, sei lá. Eles me falaram: "A gente quer que você fique, mas o pensamento nosso hoje, diante da proposta do Galatasaray, é que não podemos recusar a venda. Não vamos ter essa oportunidade outra vez. Se a gente renovar com você, que já tem 31 anos, o Galatasaray ou outro clube não vai oferecer no futuro o mesmo de agora. É uma proposta boa para todos". Foi isso.
Saiu do Sevilla com a sensação de dever cumprido? Ou poderia ter feito mais?
Sempre procurei fazer o meu melhor. Sempre. Cheguei ao Sevilla e logo fui campeão [da Liga Europa], então a sensação é de dever cumprido. Posso dizer que encerrei o ciclo de forma satisfatória, assim como aconteceu no Bordeuax, onde conquistei a Copa da França.
O que absorveu do pouco tempo de trabalho com o Jorge Sampaoli no Sevilla?
Aprendi bastante com ele, é um treinador que quer vencer a todo custo e exige o máximo do jogador. Cresci muito profissionalmente. O Sampaoli me deu uma confiança imensa. Se ele tivesse ficado no Sevilla, eu também teria ficado. Digo isso porque ele veio falar comigo, disse que queria continuar comigo e gostava muito do meu futebol. Ele tem um jeito meio maluco, mas é uma pessoa do bem, tem um grande coração.
O Sampaoli ficou manchado por ter deixado o Sevilla para assumir a seleção argentina?
Ficaram tristes, óbvio, porque existia um projeto em andamento. Mas, ao mesmo tempo, também entenderam o lado dele. Era uma oporunidade única, de treinar a Seleção do próprio país. Todos sabiam que ele almejava isso, souberam respeitar a decisão dele.
Você chegou mesmo a negociar com o Barcelona depois que o Daniel Alves foi negociado com a Juventus?
O que eu soube foi mais pela imprensa, ninguém do Barcelona me procurou pessoalmente. Na ocasião, muitos falaram que o negócio não vingou por causa do passaporte, por ser estrangeiro, mas, na verdade, ninguém do Barcelona me telefonou. Foi mais coisa de imprensa mesmo, de comentáros na mídia.
Mas chegou a alimentar a esperança de ir para o Barcelona?
Só do meu nome ter surgido como alvo do Barcelona foi um enorme privilégio. Claro que fiquei na expectativa, mas, como ninguém me procurou, sempre tive um pé atrás. A esperança, no entanto, sempre existiu.
Daniel Alves e Marcelo foram eleitos pela terceira vez consecutiva os melhores laterais do mundo. O que o lateral brasileiro tem de tão diferente?
A técnica. Todo jogador brasileiro tem esse diferencial, além, claro, da inteligência. A gente vê muito lateral europeu que é lateral mesmo, que fica atrás e defende mais. Nós, brasileiros, até temos a dificuldade para defender, mas temos a facilidade para corrigir isso aqui no futebol europeu. Sendo assim, a gente sempre se sobressai na técnica. Com um passe, com um cruzamento, com a nossa inteligência... O Daniel Alves e o Marcelo são provas disso.
Com um eventual título da Copa do Mundo na Rússia, o Daniel Alves será o maior lateral-direito da história do Brasil?
Pelo currículo, creio que sim. Basta ver a quantidade de títulos na carreira dele. Claro que respeitando outros grandes nomes, como o Cafu, mas em termos de conquistas e de futebol, podemos dizer que será o maior. Ou será o primeiro ou no minimo ficará entre os três maiores. Ele está na ponta da disputa, com certeza. Conquistou tudo em todos os clubes, além de ter uma bela história dentro da Seleção brasileira.
Como você encara o fato de o Dani Alves ter tanto sucesso? É bom ou ruim?
Todo jogador tem um espelho, alguém para olhar e tentar copiar ao máximo. O Daniel Alves certamente tinha um lateral acima dele antes, teve que esperar para conseguir espaço. Eu também estou na mesma situação, esperando o meu momento. A gente joga na mesma posição, disputa a mesma vaga na Seleção, mas isso não muda a minha admiração e o meu respeito. Torço muito por ele, é gente boa e nunca fez maldade para ninguém. Faz uns vídeos malucos nas redes sociais, mas é um cara do bem, brincalhão [risos].
Você chegou a ter um encontro com o Tite em Sevilha e, pouco tempo depois, foi chamado à Seleção brasileira. O que faltou para agarrar a oportunidade e ser convocado mais vezes?
Foi um prazer ter encontrado com o Tite, que acompanhou um treino e um jogo do Sevilla na Espanha. Sobre não ter agarrado a oportunidade, é que na verdade eu não tive a oportunidade de jogar. Digo isso, claro, respeitando o Fagner. O Fagner está um pouco na minha frente, porque, além de ser bom jogador, conhece muito bem o Tite, trabalharam juntos no Corinthians. O Tite é um treinador de grupo, que leva muito em consideração os jogadores que ele conhece ou trabalhou. Faz um grande trabalho na Seleção. Dentro ou não da Seleção, vou torcer pelo sucesso na Copa do Mundo da Rússia.
Quando o Fagner parecia garantido como reserva do Daniel Alves, o Danilo reapareceu. A segunda vaga na lateral direita ainda indefinida te faz sonhar com a Copa do Mundo?
A segunda vaga ainda está aberta, né? A imprensa fala bastante disso. Uma vaga é do Daniel Alves e a outra está aberta. Estou bem no Galatasaray e, se continuar assim, ainda acredito numa nova oportunidade. O maior exemplo disso é o próprio Danilo, que chegou no Manchester City agora, está bem e voltou a ser chamado. Tudo pode acontecer.
Por que o Ganso consegue ser incrível e, quase que ao mesmo tempo, "sumir do mapa"? Estiveram juntos no Sevilla...
É difícil falar de alguém com quem você conviveu tanto tempo junto. A gente sabe do potencial do Ganso, todos sabem, é um jogador com uma qualidade incrível. Ele chegou no Sevilla que é difícil de jogar, onde todo mundo é obrigado a correr. E o Ganso, como sabemos, tem características diferentes, joga mais com a bola, é muito técnico. Até teve algumas oportunidades, mas ainda falta ritmo. Joga um e fica três ou quatro jogos fora, isso para um jogador é muito complicado. Tem um potencial incrível e merece mais sequências de jogos. Ele precisa desta confiança para mostrar quem realmente é.
Você, como um jogador que teve sucesso no Bordeaux, tem acompanhado o desempenho do Malcom?
Tive o prazer de conhecer o Malcom em Bordeaux. Ainda tenho amigos na cidade, e certo dia estive lá para um aniversário e acabei conhecendo ele. Já acompanhava o futebol dele no Corinthians, é um jogador com muito talentoso, com potencial para crescer ainda mais. Está arrebentado na França, arrebentando mesmo. Acompanhei alguns jogos e pude notar isso. E também estou num grupo [no WhatsApp] com o Malcom, um grupo de brasileiros de Bordeaux. A gente conversa bastante, temos um bom relacionamento. Ainda acompanho muito o Bordeaux, que é um clube que tem um carinho enorme pelos jogadores brasileiros. O Malcom está mesmo arrebentando, tem apresentado um futebol de alto nível, e acredito que seja negociado ao término da temporada. Ou o Bordeaux vende ele para um grande clube ou precisará fazer de tudo para segurá-lo. Acredito que ele acaba por sair mesmo.