A campanha do Ajax na Champions League encanta pelo enredo da camisa gigante que após anos no ostracismo volta a demonstrar força, mas também por seguir o DNA histórico dos holandeses em revelar jovens atletas que impressionam pela qualidade técnica. Os semifinalistas, que na última terça-feira (30) saíram em vantagem na luta por uma vaga na finalíssima, ao baterem o Tottenham fora de casa por 1 a 0, também impressionam com a rotação com a qual diferentes jogadores se mostram decisivos neste mata-mata.
Em Londres, por exemplo, o nome do jogo foi o meia-atacante Donny van de Beek. O jogador de apenas 22 anos fez o gol da partida e também teve grande participação na criação de jogadas em uma exibição que, mesmo fora de casa, encantou quem buscava acompanhar futebol de qualidade. Na zaga, Matthijs de Ligt fez história como capitão mais jovem em uma semifinal de Champions League (19 anos e 261 dias) e vem dando grande segurança para o sistema defensivo: é um dos principais alvos das maiores potências econômicas do continente.
Quem já está vendido é o meio-campista Frenkie De Jong, que parece um gênio em seu auge apesar dos 21 anos. Pessoas de dentro do Ajax chegam até mesmo a dizer que o camisa 21 é uma espécie de Johan Cruyff que, ao invés de jogar livre do meio para o ataque, faz essa função na construção de jogadas desde o seu campo defensivo para a frente. Ao lado de De Ligt, vem sendo um dos maiores protagonistas na equipe de Erik Ten Hag nesta Champions League.
Mas a campanha que levou o clube novamente aos holofotes nobres da Europa conta com outros jogadores decisivos. Levando em consideração o mata-mata desta Champions League, Ziyech, David Neres, Schone e Dusan Tadic também chamaram para si a luz principal do espetáculo. Na derrota por 2 a 1 para o Real Madrid, no primeiro encontro pelas oitavas, Neres deu a assistência para Ziyech diminuir. Os 4 a 1 na volta marcaram uma das maiores exibições individuais na história moderna das noites europeias: Tadic fez um gol e deu duas assistências na inesperada eliminação dos espanhóis. Schone, David Neres e Ziyech também balançaram as redes.
A histórica vitória sobre o Real Madrid levou David Neres para a Seleção Brasileira, no lugar do cortado Vinícius Júnior, e nas quartas de final o ex-jogador do São Paulo mostrou que pode ser titular também na equipe de Tite: fez um golaço no empate por 1 a 1 com a Juventus. A vaga na semifinal foi garantida com triunfo por 2 a 1 sobre os italianos dentro de Turim: Van de Beek empatou após gol de Cristiano Ronaldo e De Ligt garantiu a vitória em uma noite inspirada também de De Jong e Schone no meio-campo.
Fazendo jus à sua história, o Ajax revela jovens e busca ser competitivo sem abrir mão do bom futebol jogado. Tudo isso sem passar perto da verdade inverdadeira nos bordões que dizem que o importante é ganhar independente do modelo de jogo. Sempre buscando a posse de bola, os passes, interações com outros companheiros e chegadas efetivas ao ataque, a equipe holandesa alia à sua narrativa o melhor dos dois mundos: a história boa de se acompanhar com um futebol delicioso de se assistir. Esta mistura também está nas suas peças em campo, com as muitas qualidades individuais aparecendo em perfeita harmonia com a formatação de uma equipe.
Não chega a ser novidade na história do Ajax. Os esquadrões das décadas de 1970, do final dos anos 80 e início de 90 também eram marcados por diversos brilhos individuais que conseguiam se encaixar perfeitamente em uma equipe. E todos os seus principais jogadores tiveram uma carreira tão vitoriosa quanto bonita. Já podemos esperar o mesmo desta atual geração.