Embora ainda esteja se recuperando de uma lesão na panturrilha, Alisson não tem do que reclamar sobre 2019. O goleiro foi um dos jogadores mais decisivos de um Liverpool que, embora não tenha conquistado o título inglês, fez sua melhor campanha em termos de pontos e quebrou o recorde de jogos sem sofrer gols [21] na Premier League, além de ter sido um dos protagonistas na conquista da Champions. Somado a isso, a taça da Copa América conquistada com o Brasil pouco depois.
A soma desempenho + importância para sua equipe + títulos conquistados coloca o arqueiro de 26 anos como um dos jogadores a ser lembrado na lista que a France Football irá divulgar para o tradicional prêmio Bola de Ouro, que será entregue em dezembro deste ano. Em longa entrevista concedida ao jornal Marca, da Espanha, Alisson falou sobre o excelente momento, e respondeu com uma mistura de orgulho e ceticismo em relação à possibilidade de receber a congratulação individual.
“Fico orgulhoso, mas sei que não é fácil. É ainda mais difícil para um goleiro, mas também tenho a consciência tranquila. Isso significa que estou fazendo bem o meu trabalho e tem gente que valoriza”, disse, ciente da dificuldade que é ver um goleiro receber a premiação: “é um tema muito complexo. A diferença é que o goleiro não marca gols, evita (risos). E as pessoas gostam de comemorar gols. É o momento mais importante do futebol. Creio que os atacantes se destacam um pouco mais. É algo natural, mas, pouco a pouco, as coisas estão mudando”.
Yashin, o único goleiro que conseguiu
A opinião de Alisson é embasada pela história. Em todos os tempos, somente um arqueiro recebeu a tradicional premiação: o mítico Lev Yashin, considerado pela FIFA o melhor de sua posição em todo o século passado, foi o eleito em 1963.
Aqui, contudo, cabe uma reflexão. Diferentemente dos dias atuais, em que ser ao menos um finalista de Champions League ou Copa do Mundo é uma obrigação extraoficial para ser um candidato, décadas atrás a Bola de Ouro não premiava apenas os grandes campeões. Yashin, inclusive, prova isso. Naquele 1963, o Dínamo de Moscou defendido pelo “Aranha Negra” sequer disputou a antiga Copa dos Campeões da Europa – decidida por um excelente Benfica de craques como Eusébio e Coluna, contra um Milan de Gianni Rivera. Também não era ano nem de Eurocopa, que poderia justificar a escolha por Yashin.
Quais jogos Alisson vei perder por causa de sua lesão?
O moscovita tinha, ao seu favor, o fato de ser um revolucionário de sua posição: brilhou no título da Euro 1960, primeira edição do torneio, e também esteve no elenco soviético presente no Mundial de 1962. O estilo arrojado para a época, que o levava a atirar-se aos pés dos atacantes para fazer defesas, algo raro até então, aliado ao mito que cercava o goleiro da fechada União Soviética também contribuíram – além da própria qualidade de Yashin, que seguiu reverenciado década depois. Mesmo assim, difícil imaginar que o “Aranha Negra” tivesse sido melhor do que Gianni Rivera ou Eusébio naquele 1963 – vale destacar que apenas europeus recebiam o prêmio então.
Alisson teria que ser um “revolucionário”
Depois de Yashin, somente dois goleiros conseguiram estar entre os três finalistas da Bola de Ouro. Dois alemães, mas nenhum deles ficou com o galardão. Oliver Kahn, em 2001 e 2002, teve um peso gigante no título de Champions League do Bayern e no vice mundial da Alemanha – onde foi quase perfeito até falhar na decisão contra o Brasil.
Neuer repetiu o feito em 2014, quando foi campeão do mundo, e talvez tenha sido o único que chegou tão longe carregando consigo um traço de revolução: simbolizou, de vez, a necessidade do goleiro em jogar com os pés, desempenhando esta função com mais assiduidade a partir do momento em que Guardiola passou a treinar o Bayern – embora outros de sua posição já fizessem isso mais longe dos holofotes europeus.
Alisson concorre para como melhor goleiro no FIFA The Best
Ser decisivo sob as traves, portanto, está longe de ser o bastante para garantir a um goleiro o troféu Bola de Ouro. É preciso algo a mais, quase que uma aura mítica ou lendária. E embora tenha sido eleito o melhor de sua posição no continente, com justiça absoluta, Alisson ainda não tem este status. Talvez jamais tenha.
Além disso, evidentemente é preciso lembrar de nomes que encantaram ou decidiram mais ao longo da última temporada, como Lionel Messi, Cristiano Ronaldo e o zagueiro Virgil van Dijk, companheiro de Alisson no Liverpool e que, por ter sido um dos protagonistas da excelente campanha dos Reds, aparece como um dos favoritos.