Times brasileiros vão reduzir salários dos jogadores?
Sem acordo com sindicato de atletas, clubes estão negociando diretamente com os jogadores uma saída para a crise provocada pelo novo coronavírus
Sem acordo com sindicato de atletas, clubes estão negociando diretamente com os jogadores uma saída para a crise provocada pelo novo coronavírus
A pandemia do novo coronavírus paralisou o futebol ao redor do mundo e complicou a vida financeira de muitos clubes. E no Brasil não é diferente, com os times sofrendo sem o pagamento de direitos de TV e com patrocínios suspensos. A exemplo de outros países, uma das saídas tem sido a redução salarial dos elencos.
O problema é que em solo brasileiro não houve acordo coletivo entre a Comissão Nacional de Clubes (CNC) e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf). Desta maneira, cada clube está resolvendo a situação de um jeito com seus elencos.
Quais times anunciaram cortes nos salários? Como são os acordos?
Boa parte dos clubes da elite do futebol brasileiro já anunciou cortes nos salários de jogadores e/ou funcionários. As negociações não são fáceis, mas o momento de crise fez com que alguns atletas compreendessem as decisões. Veja caso a caso a seguir.
Atlético-MG
Jogadores, dirigentes remunerados, membros da comissão técnica e funcionários sofreram um corte de 25% dos vencimentos. A medida foi tomada de forma unilateral e vai se estender "pelo período em que perdurarem os efeitos da pandemia", segundo nota oficial assinada pelo presidente Sérgio Sette Câmara.
"Eu penso em defender o clube, eu não fico preocupado se o funcionário chiou ou não chiou. Se alguém tiver insatisfeito, a gente faz o desligamento", declarou o mandatário à Rádio 98FM.
Bahia
No último dia 6 de abril, em conversa via redes sociais, o presidente Guilherme Bellintani confirmou que houve um acerto e que os jogadores "foram parceiros" do clube. A redução foi de 25% nos salários de atletas, além dos membros da comissão técnica e da diretoria, até a volta do futebol.
Com relação aos demais funcionários e aos atletas das divisões de base, estão sendo negociadas medidas de redução de jornada e suspensão de contratos. Os descontos chegarão a, no máximo, 20% dos vencimentos. O pagamento de quem recebe até 1,5 salário mínimo será mantido.
A diretoria do Tricolor, que estimou um prejuízo de R$ 25 milhões com a paralisação, chegou a um acordo com os jogadores no fim do março - mas uma das condições era não tornar público os valores que seriam cortados.
Segundo o jornal Zero Hora, uma das medidas foi pagar os direitos de imagem dos atletas correspondente ao período de paralisação apenas no ano que vem.
Nesta terça-feira (28), o Inter anunciou um acordo pela readequação salarial junto aos jogadores do grupo. Conforme o comunicado divulgado pelo clube, os cortes serão aplicados a partir do mês do maio, mas por questões de confidencialidade, não foram divulgados maiores detalhes.
A diretoria também destacou a posição dos atletas, que se mostraram compressíveis com a situação. A medida segue o plano de contenção de gastos da atual gestão, que prevê um prejuízo de R$ 100 milhões com as perdas de receita.
Palmeiras
Nesta quinta-feira (30), o Palmeiras informou que cortará em 25% o salário dos membros do departamento de futebol, o que inclui jogadores, comissão técnica, o gerente Cícero Souza e o diretor Anderson Barros.
“A proposta prevê também a postergação dos pagamentos referentes a direitos de imagem dos atletas – os de abril serão divididos entre os meses de agosto e dezembro de 2020, enquanto os de maio serão divididos entre janeiro e junho de 2021. Todos os jogadores concordaram com as decisões, que são pontuais e serão avaliadas de forma recorrente”, anunciou o clube em comunicado oficial.
Santos
A diretoria do clube paulista acertou com os jogadores que o salário de abril terá uma redução de 30%, sendo que 15% será pago de forma parcelada a partir do momento em que a bola voltar a rolar e os outros 15% não serão reembolsados. O Santos está em crise financeira e chegou a atrasar o pagamento de vencimentos e direitos de imagem. De acordo com o UOL, a proposta inicial era um corte de 50%, mas foi recusada pelo grupo de atletas.
São Paulo
Segundo informações do UOL, a diretoria apresentou uma proposta de uma redução salarial de 50% aos atletas, mas não houve aprovação unânime. A partir disso, o corte foi aplicado de modo unilateral, o que não agradou parte dos jogadores, apesar do apoio de alguns líderes do elenco, como Dani Alves, Alexandre Pato e Hernanes. A principal reclamação gira em torno dos direitos de imagem, que estão atrasados.
Por que não existe acordo coletivo por redução de salários?
Porque a Fenapaf não concordou com uma série de propostas inicial da CNC, como a redução do salário em 25% durante o período sem jogos. Na contraproposta, a entidade que representa os atletas também pediu férias de 30 dias em abril. Esta acabou rejeitada pelos clubes, que decidiram apenas conceder férias até o dia 20.
"Ficou definido apenas a concessão de férias. São 20 dias agora e reavaliação da situação no dia 15 de abril. Lá se avalia novamente o quadro. Sobre a questão salarial, não houve nenhuma resposta definida. Cada clube vai definir com seus jogadores. Até porque são realidades muito diferentes", disse o secretário-geral da CBF, Walter Feldman, na ocasião. Abaixo, veja os clubes que ainda não se acertaram com os atletas.
Atlético-GO e Goiás
Diante da indefinição no cenário nacional, os dois representantes do Estado de Goiás na Série A se reuniram diretamente com o Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de Goiás (Sinapego), mas também não chegaram a acordo. Tanto o Dragão quanto o Esmeraldino ainda não têm acerto para enxugar os gastos neste período.
Athletico-PR
A diretoria pretende reduzir os salários dos atletas, mas ainda não houve avanços e as conversas só devem evoluir depois das férias coletivas. Por conta das dificuldades financeiras, o clube acabou atrasando o pagamento dos direitos de imagem referentes ao mês de abril.
Coritiba
Após anunciar que não cortaria o salário de seus jogadores, o Coritiba deve reduzir cerca de 25% dos vencimentos de seus atletas. O clube também projeta a suspensão de contratos de profissionais da área administrativa do clube. Não houve acordo até o momento.
Os principais problemas apontados para a mudança de postura foram a queda no faturamento e a escassez de receitas.
Flamengo
Mesmo com seu grande poderio financeiro, o Flamengo repensou sua decisão sobre não reduzir o salário de seus atletas e já negocia um acordo. Segundo o site Globoesporte.com, o rubro-negro estuda uma redução em 25% nos vencimentos de quem recebe acima de R$ 4 mil.
Sport
O Sport espera negociar um corte no salário de seus atletas, mas antes busca quitar o que está atrasado. "Ainda não resolvemos nada. É uma coisa que requer um certo cuidado. Estamos avaliando como fazer isso de uma maneira que todos não saiam perdendo tanto.", disse o executivo de futebol Lucas Drubscky à Folha de Pernambuco.
Vasco
O Vasco também trabalha para chegar a um acordo pela redução salarial de seus atletas. Porém, nenhuma decisão será tomada até que os haja um acerto sobre os vencimentos que estão atrasados, referentes aos meses de janeiro, fevereiro e março. Leandro Castán, um dos líderes do elenco, disse que as conversas só devem acontecer depois do retorno dos jogadores aos treinos.
Por outro lado, o Vasco comunicou a suspensão do contrato de parte dos funcionários por dois meses, entre os dias 1º de maio e 1º de junho.
E quem decidiu não cortar salários?
Botafogo
A diretoria do Botafogo trabalha para manter em dia os salários dos jogadores e não pensa em cortes neste momento. Porém, para seguir com a proposta, o Glorioso pretende reduzir sua folha salarial, se desfazendo de atletas com um alto salário.
O volante Gustavo Bochecha, revelado nas categorias de base do Botafogo, deve ser emprestado, o meia Cícero, já foi comunicado que não será utilizado pelo técnico Paulo Autuori. O zagueiro Joel Carli também tem um salário considerado alto pela diretoria e pode ser negociado. O lateral Marcinho também está no radar de Corinthians e Flamengo.
Red Bull Bragantino
Na contramão da maioria dos clubes, o Red Bull Bragantino afirmou que possui condições financeiras suficientes para não reduzir o salário de seus jogadores.