Ao assinar com o Real Madrid, Julen Lopetegui já sabia que iria conviver com uma enorme e inacreditável pressão. No clube global, não basta vencer, é preciso jogar bem. Dois empates seguidos já significam crise. Notícias e especulações aparecem por todos os lados, assim como análises e críticas. Isso já é "normal" no Santiago Bernabéu.
No entanto, Lopetegui aceitou um desafio ainda maior e com mais pressão. O espanhol, afinal, tem a responsabilidade de substituir "apenas" Zinedine Zidane, um dos maiores ídolos da história do clube.
Zizou ganhou tudo pelo clube como jogador e também como treinador, e mais de uma vez. Depois de encantar como um dos maiores craques de todos os tempos, o gênio também brilhou como comandante, liderando o time no histórico tricampeonato da Champions League, além de conquistar uma La Liga, uma Supercopa Espanhola, dois Mundiais de Clubes e duas Supercopas da Europa.
E para complicar ainda mais, após assinar com os Blancos, Lopetegui viu seu desafio aumentar ainda mais com a transferência de Cristiano Ronaldo para a Juventus. O Real perdeu "apenas" um dos maiores jogadores da história, artilheiro máximo do clube com 450 gols, goleador da equipe nas últimas temporadas e também da Champions League nos últimos seis anos, vital e decisivo em todas as conquistas do time.
Com isso, além da pressão já "natural" do Real Madrid, Lopetegui ainda precisará reconstruir um time sem seu principal jogador e artilheiro, tendo a responsabilidade de substituir um dos maiores técnicos da história do clube e manter a equipe no topo. É enorme desafio.
Por enquanto, o único reforço foi Odriozola, jovem jogador de confiança do treinador, convocado para a Copa do Mundo, que será opção para Carvajal na lateral-direita. Florentino Pérez, porém, prometeu grandes contratações, e os Blancos devem contratar pelo menos uma estrela.
Após os rumores envolvendo Neymar e Kylian Mbappé esfriarem, parece cada vez mais provável que ambos seguirão no PSG e Eden Hazard será o novo craque dos Blancos. Outro nome muito especulado é o goleiro Thibaut Courtois. Harry Kane, que chegaria para ser o novo goleador merengue, também aparece nas manchetes.
Os três seriam excelentes reforços e certamente mudariam o Real de patamar. No entanto, como eles ainda não chegaram, a realidade de Lopetegui é outra.
Ficou claro na última temporada que o Real de Zidane tinha sérios problemas, especialmente táticos. O time sofreu em vários jogos e demorou para engrenar. Cometeu vários erros, ficou longe da briga pelo título da La Liga, mas conquistou o tri da Champions League graças ao talento individual de seus jogadores.
Cristiano Ronaldo foi absurdo contra PSG e Juventus, já contra o Bayern de Munique, os tão criticados Keylor Navas e Karim Benzema foram decisivos, enquanto o também cornetado Gareth Bale foi o craque da final. Os coadjuvantes de luxo Casemiro, Marcelo, Luka Modric e Toni Kroos também jogaram demais, e o Real, mesmo com problemas, fez história.
No entanto, era tão nítido que algo estava errado, que Zidane, mesmo no topo, com respaldo e já histórico, além de ter a confiança e o carinho dos jogadores no vestiário, conseguindo controlar um grupo cheio de estrelas, pediu demissão dias depois de conquistar o tricampeonato da Champions.
Como Zizou fez, Lopetegui precisará manter um vestiário cheio de estrelas harmonioso, tendo boa relação com seus atletas. Além disso, precisará corrigir os problemas da equipe, como os buracos na defesa, que teve muitas vezes a dupla de zaga e Casemiro sobrecarregados, e um ataque mais organizado, equilibrado e menos dependente do brilho individual.
Apesar disso, o espanhol tem uma boa base em mãos. Ainda que criticado, Keylor Navas foi fundamental para o Real em vários momentos, especialmente na semifinal europeia contra o Bayern de Munique, quando protagonizou alguns milagres, salvando os Blancos.
A linha de quatro defensiva com Carvajal, Varane, Sergio Ramos e Marcelo é espetacular e conta com alguns dos melhores jogadores do mundo em suas posições. O meio-campo segue o padrão e tem enorme talento com Casemiro, Kroos, Modric e Isco.
Isco, por sinal, é um dos trunfos de Lopetegui, que tirou o melhor do meia na seleção espanhola e pode fazer o talentoso jogador render nos Merengues como na Fúria, fazendo o meio-campo madrilenho ainda mais criativo, técnico e interessante. O rendimento superior do atleta na Espanha em relação aos Blancos inclusive foi uma das polêmicas no clube na última temporada. Com seu "melhor" comandante, o camisa 22 pode crescer e brilhar ainda mais.
Ele ainda possui boas opções como Nacho para a defesa, Lucas Vázquez para o ataque, o talentoso e excelente Asensio para o setor ofensivo, Kovacic para o meio-campo e Vinícius Júnior, que pode ser muito importante na linha de frente.
No entanto, mesmo tendo uma boa base, jogadores talentosos e a boa notícia de Isco, Lopetegui, além de corrigir alguns problemas, terá a missão de recuperar duas estrelas no Real Madrid.
Com o Chelsea fora da Champions League, as chegadas de Courtois e Hazard parecem bem prováveis, e ambos seriam reforços excepcionais. O goleiro é um dos melhores do mundo na sua posição, muito superior a Navas, por mais que o jogador de Costa Rica seja bom arqueiro, o belga é um dos melhores e mais talentosos futebolistas do planeta e está jogando um absurdo.
Mesmo com esses reforços, o Real ainda precisaria de um goleador e uma estrela, afinal, perdeu seu craque e principal artilheiro. Harry Kane e Robert Lewandowski, sempre especulados no Santiago Bernabéu, não parecem estar próximos de reforçar o time espanhol, mas Lopetegui já tem essas peças no seu plantel.
Ele tem Gareth Bale, excelente jogador e contratação mais cara da história do clube, e Karim Benzema, ótimo atacante e goleador. Ambos, porém, precisam ser recuperados. O galês, mesmo sofrendo com lesões, brilhou na decisão da última Champions League, sendo vital no tricampeonato europeu, com dois gols na final, um deles, uma pintura. No entanto, ele pode render muito mais e, sem CR7, ter um papel de maior destaque nos Blancos.
Já o francês, sem o gajo atraindo os holofotes, sendo o goleador, e não tendo a necessidade de sair do papel de referência e jogar pelos lados, para deixar o português se infiltrar e preparar jogadas para o craque, pode voltar a jogar mais próximo do gol e ser o artilheiro que já foi anteriormente. Como Bale, Benzema foi vital na última Champions, sendo decisivo contra o Bayern de Munique na semifinal, mas também deixou a desejar ao longo da temporada.
Lopetegui tem a missão de recuperar ambos e fazê-los render no nível máximo. Bale é um craque, capaz de desequilibrar qualquer partida com sua técnica, habilidade, velocidade e as perigosas finalizações com a canhota, enquanto Benzema tem boa técnica e sabe marcar gols. Os dois podem ser ainda mais importantes, estrelas e vitais no Real Madrid sem CR7, tendo mais espaço para decidir e menos preocupações em "trabalhar" para o craque, mas o treinador espanhol precisa recuperá-los.
As dificuldades são enormes, assim como o desafio. Não será nada fácil reconstruir o Real Madrid sem um dos maiores jogadores de sua história e convivendo com a pressão de substituir Zidane e manter um novo time no topo após três títulos europeus seguidos.
No entanto, Lopetegui tem um plantel talentoso e uma excelente base e deve receber ótimos reforços. Ele é competente o suficiente para recuperar Bale e Benzema e fazê-los render no nível em que podem, além de tornar o Real mais agressivo no ataque, trabalhando bem a posse de bola e jogando de forma organizada, mas sendo muito incisivo e letal, como fez na seleção espanhola.
Lopetegui tem competência e talento para fazer um grande trabalho, resta ver se conseguirá suportar uma enorme pressão e resolver os problemas merengues.