Como vinho? Em sua 13ª temporada seguida como titular do Cruzeiro, Fábio parece cada vez melhor e sensacional. O injustiçado goleiro, de 36 anos, que faz por merecer uma chance na Seleção Brasileira há muito tempo, aumentou ainda mais a sua lenda perante mais de 61 mil pessoas no Mineirão.
Na noite desta quarta-feira (27), o jogador que mais vezes vestiu a camisa do Cruzeiro na história, com 736 atuações, foi fundamental na conquista do pentacampeonato celeste na Copa do Brasil. Fábio não teve muito trabalho durante os 90 minutos, mas brilhou nos momentos cruciais. O arqueiro pegou um chute forte de Paolo Guerrero, aos 44 minutos do segundo tempo, em linda defesa, e defendeu a cobrança de Diego na disputa de pênaltis, sendo vital para o merecido título estrelado.
A Raposa conquistou o sonhado pentacampeonato superando muitas cobranças e críticas ao longo da temporada, mas não foi fácil, inclusive no capítulo final da epopeia. Confira a análise da partida e da conquista estrelada.
O Flamengo começou melhor a partida, pressionando o Cruzeiro, tendo mais posse de bola e assustando mais a equipe celeste. Além do maior volume de jogo flamenguista, a lesão de Raniel com menos de quatro minutos de bola rolando e a saída do jovem atacante para o camisa 10 uruguaio Arrascaeta prejudicou o início celeste.
A Raposa, afinal, vinha com uma estratégia que foi modificada ainda no início da decisão e precisou mudar seu estilo de jogo, diante da troca de jogadores de caracaterísticas totalmente distintas. Arrascaeta é um meia-armador que se infiltra várias vezes para finalizar. Raniel, por outro lado, é um centroavante.
Não à toa, logo depois da saída do garoto, aos seis minutos, Paolo Guerrero, em bela cobrança de falta, quase abriu o placar. A bola explodiu no travessão, assustando a torcida celeste.
O Flamengo seguiu melhor nos dez minutos seguintes, mas não conseguiu criar mais chances claras de gol, enquanto o Cruzeiro foi se encontrando com sua nova configuração tática e a mudança no estilo da equipe, e conseguiu enfim equilibrar a final.
O Cruzeiro, como já é habitual, apostou em se fechar no campo de defesa, com uma marcação forte e compacta, dar a bola para o adversário e tentar explorar os espaços deixados pelo rival em rápidos contra-ataques. Até por isso, o Flamengo teve mais posse no primeiro tempo: 61% contra 39%.
A diferença é, que sem Raniel, a Raposa teve um esquema diferente, armando duas linhas de quatro com Thiago Neves e Arrascaeta na frente fazendo o primeiro combate.
O Flamengo, porém, não conseguiu transformar a maior posse de bola em chances de gol. Após a cobrança de falta de Guerrero, o Rubro-negro não criou oportunidades de gol e enfrentou muitas dificuldades em furar a boa e compacta marcação estrelada. Diego, bem marcado e sem inspiração, foi figura apagada. Berrío e Everton tentaram pelos lados, mas sem sucesso. Já o atacante peruano foi muito acionado e paricipou muito da partida, mas não recebeu bons passes para finalizar. Não à toa, Fábio não teve trabalho no primeiro tempo.
O Cruzeiro, por sua vez, teve três contra-ataques muito perigosos, todos com Arrascaeta como figura central. Na primeira jogada, o uruguaio, que entrou bem no jogo, fez lindo lance e tocou para Thiago Neves, que dentro da área, chutou por cima do gol de Muralha. No segundo contra-golpe, o meia recebeu passe de Robinho, mas finalizou para fora, e no terceiro, o camisa 10 roubou a bola de Pará, tocou para Hudson e recebeu de volta dentro da área, mas não conseguiu dominar e acabou atrasando a bola para Muralha.
No fim das contas, a Raposa teve lances de perigo e poderia ter aberto o placar, mas faltou capricho para definir os lances. Muralha, em atuação segura na primeira etapa, assim como Fábio, não precisou trabalhar. Outra semelhança dos adversários nos primeiros 45 minutos foram seus jogadores mais criativos.
A partida foi truncada, principalmente a partir dos 25 minutos, com marcação forte dos dois lados e poucos espaços, mas as atuações dos destaques de cada equipe foram decepcionantes. Se no Flamengo, Diego foi apagado e Berrío e Everton tentaram mas produziram pouco, no Cruzeiro, Alisson e Robinho tentaram, mas criaram pouco, e Thiago Neves, tirando a chance claríssima que desperdiçou, pouco apareceu.
Não à toa, na volta para o segundo tempo, Mano Menezes mexeu no time, tirando Robinho e colocando Rafinha em campo. Com um meia-atacante mais agressivo, o Cruzeiro até começou melhor a etapa final, tentando agredir o Flamengo, e conseguiu chegar mais ao campo de ataque, mas novamente sem criar chances claras de gol.
Depois de dez minutos, o Rubro-negro, que segurou a tentativa de pressão celeste, equilibrou novamente a partida, que seguiu truncada, com marcação forte e poucas oportunidades criadas dos dois lados. Ambos os times erram muitos passes e encontram dificuldades para penetrar nas defesas adversárias. Os espaços são reduzidos e a transição dificultada. Não à toa, pela falta de espaço, marcação cerrada e o duelo truncado, nenhum dos meio-campistas conseguiu ter grande atuação e as estrelas não brilharam, tendo exibições apagadas.
Com o panorama da partida seguindo o mesmo, os treinadores tentaram mudar a história no fim da partida. Mano Menezes sacou Alisson, cansado e colocou Elber para tentar ganhar vida nova e muita velocidade do lado direito e mexendo no posicionamento da equipe, com Thiago Neves indo para o flanco canhoto, onde estava Alisson. Reinaldo Rueda fez o mesmo, mas do lado esquerdo, sacando Everton e colocando o garoto Paquetá.
O jogo ganhou mais emoção com as arrancadas dos dois garotos e duas boas oportunidades foram criadas, uma de cada lado. Pelo Cruzeiro, Thiago Neves cruzou fechado e Muralha saiu mal. Arrascaeta, que fechava a jogada no segundo pau, foi surpreendido com a falha do goleiro rubro-negro e não conseguiu marcar. Pelo Flamengo, Guerrero fez linda jogada pelo lado esquerdo, entortou Léo e finalizou com muito perigo para defesa incrível de Fábio, aos 44 minutos.
A partida teve lances emocionantes e chegadas perigosas no final, mas nenhum dos goleiros voltou a trabalhar. No fim das contas, o Flamengo teve mais posse, volume e criou as duas chances mais claras de gol da final, ambas com Guerrero, com uma falta que explodiu no travessão e uma finalização que parou em Fábio. No entanto, quem teve mais oportunidades foi o Cruzeiro, que poderia ter marcado em quatro jogadas, mas viu faltar capricho em todas. Os dois times tiveram muitas dificuldades com o jogo truncado. Com o empate sem gols, a decisão da Copa do Brasil foi para a disputa de pênaltis.
E na disputa de pênaltis, brilhou a estrela de Fábio. Todos os cobradores foram bem, enquanto Muralha manteve seu histórico ruim nesta situação e sequer conseguiu acertar os cantos das cobranças. No entanto, se o goleiro flamenguista não foi bem, o cruzeirense, como habitual, foi histórico.
Jogador que mais vezes vestiu a camisa do Cruzeiro na história, Fábio, que já tinha sido vital na semifinal contra o Grêmio e pegou o chute de Guerrero nos minutos finais, defendeu a penalidade de Diego, sendo fundamental para a conquista celeste, depois confirmada com o gol de Thiago Neves na cobrança decisiva. A Raposa sacramentou o penta, se igualando justamente ao Tricolor Gaúcho como maior campeã da Copa do Brasil.
Curiosamente, com escritas sendo mantidas. O tetracampeonato da Copa do Brasil conquistado pelo Cruzeiro, assim como o penta, foi em cima do Flamengo. Em 2003, como em 2017, a Raposa empatou por 1 a 1 no Maracanã e levantou a taça no Mineirão. Aliás, em todos os títulos do torneio mata-mata, o time estrelado empatou a partida de ida, conquistando o título na volta.
E o merecido penta estrelado foi conquistado de forma emocionante e deixando grandes clubes do futebol brasileiro pelo caminho. O Cruzeiro eliminou São Paulo, Palmeiras e Grêmio, antes de bater o Flamengo na decisão. Mérito de Mano Menezes e seus comandados, que apesar dos erros no caminho e ter um estilo de jogo criticado, inclusive na final, e conviver com muita pressão, conquistou a taça e o sonhado penta.