Há não muito tempo, cada janela de início de temporada era vista com temor pelos maiores clubes da Europa. O início do período de negociações era seguido pela abertura do talão de cheques de Florentino Pérez, que buscava sempre contratar os melhores jogadores do mundo para se juntar aos galáticos do Real Madrid.
Não importa se o jogador estava no Milan, na Juventus, no Manchester United ou no Liverpool: ninguém podia competir com o dinheiro do Real. Nem mesmo o Barcelona podia competir com esse poder dos merengues, tanto que perderam Luis Figo para o clube da capital.
Mas depois de 20 anos do início do primeiro mandato de Pérez, os objetivos mudaram. Os Ronaldos (o brasileiro e o português), os David Beckham e os Robertos Carlos já não são prioridades. Agora é a vez dos "galatiquinhos", os Baby Galácticos. Os futuros craques da Espanha, do Brasil e de outras partes do mundo chegam cada vez jovens ao Real.
A política não é nova. Em 1996, os irmãos argentinos Esteban e Nícolas Cambiasso chegaram jovens ao clube. Em 2005, o próprio Florentino foi responsável pela contratação dos meninos Sérgio Ramos, Gonzalo Higuaín, Fernando Gago, Robinho e outros.
Mas a perda de um jogador em 2013 mudou tudo: Neymar. O clube merengue teve sua reputação arranhada pelo maior rival. Foi um choque para um time que sempre se orgulhou de fazer as melhores contratações do mundo ver o brasileiro fechar com o Barcelona. Na ocasião, os catalães mostraram ser cuidados em suas avaliações e ágil nas negociações.
Tudo mudou no Real Madrid depois disso. Com Gareth Bale chegaram Casemiro, Isco e Dani Carvajal, todos com 21 anos e depois Asensio também foi contratado com 19 anos. Tudo para que os Merengues não perdessem, outra vez, grandes talentos para seus rivais.
Nas últimas temporadas isso se intensificou e o Real focou quase que de forma exclusiva em contratar jovens cada vez mais novos. Além da dupla brasileira Vinícius Júnior e Rodrygo, que chegaram com 18 anos, outros jogadores fecharam com o Madrid ainda muito jovens: Martin Odegaard (16), Takefusa Kubo (18), Brahim Díaz (19), Andriy Lunin (19), Éder Militão (20) e Federico Valverde (18).
O último nome a se juntar a lista de jóias do Real foi Reinier, ex-Flamengo, que assinou contrato poucos minutos depois de completar 18 anos.
É compreensível, porém, que os jovens da América do Sul (ou de outros lugares do mundo) tenham dificuldades de se adaptar a uma nova cultura na Europa, milhares de quilômetros longe de casa, dos amigos e da família.
"É difícil, vai de jogador para jogador, de pessoa para pessoa. Alguns se adaptam mais rápido do que outros", disse o vencedor do NxGn 2020 Rodrygo em exclusiva para a Goal. Por sinal, o Real teve outros dois jogadores no top 10 do prêmio: Kubo e Reinier.
"Acho que quando o Vini chegou, ele estava um pouco sozinho porque na pré-temporada o Marcelo e o Casemiro não estavam ali. Ele, então, era o único brasileiro. Quando eu cheguei, estavam os cinco brasileiros aqui: Casemiro, Marcelo, Vini, Militão e eu, e isso me ajudou muito", completou Rodrygo, que recebeu a benção de Pelé antes de trocar o Santos pelo Real.
Vinícius e Rodrygo tiveram bons começos de trajetória no Real Madrid e agora, com a contratação de Reinier, o Real espera que o trio brasileiro seja o futuro do clube e compense, mesmo que tardiamente, a perda de Neymar em 2013.
"Temos o sonho de fazer história no Real Madrid e também na seleção", complementou o ex-Santos. "Temos uma relação muito boa, nos conhecíamos desde o Brasil. Mas como eu sou de São Paulo e eles do Rio de Janeiro, a gente se fala só por internet, pelo WhatsApp. Hoje, estamos juntos todos os dias e nossa amizade se fortalece cada vez mais. Temos muitas coisas em comum e esperamos realizar esses sonhos".
Ironicamente, o próprio Reinier afirmou que um dos maiores atrativos para ele jogar no Real foram os Galácticos que o precederam: "Quando eu era menor, eu assistia partidas dos Galácticos com meu pai. Aquilo me encantava. Por isso, eu amo o Real desde aquela época", disse o adolescente em entrevista ao Marca.
Casos como o de Valverde, que logo em sua primeira temporada já foi conquistando o status de titular no time, ou Asensio, que marcou gol até na final da Liga dos Campeões, são raros. As vezes o sucesso demora um pouco e isso é normal.
O comum é que aconteça com os jovens jogadores o que aconteceu com Martin Odegaard. O norueguês chegou no clube com 16 anos e grandes expectativas mas só agora, quatro ano mais tarde e depois de empréstimos para clubes holandeses e espanhóis, é cogitada sua participação de forma efetiva na equipe principal.
"Para os jogadores mais jovens e para mim o ideal neste momento é ter minutos em campo", disse Odegaard à TV2 em dezembro. Atualmente, ele faz uma ótima temporada com o Real Sociedad. "Era óbvio que o melhor que podiam ter feito era me emprestar mais uma vez", completou.
Só o tempo dirá se Rodrygo, Odegaard, Vinicius, Reinier e todos os outros jovns craques estarão realmente à altura do Real Madrid. Não se pode afirmar nada com certeza em um dos clubes mais fortes e competitivos do mundo.
Nem todos ficarão no Real e se tornaraão ídolos do clube. Porém os Baby Galácticos, o mais novo projeto favorito de Florentino Pérez, durará décadas. Os meninos chegaram para ficar.