Semana passada estive no Parque São Jorge. E sepultei de vez uma conversa mal resolvida com alguns amigos sobre vender o PSJ para demolição e pagamento da Arena. O tempo tratou de imortalizar aqueles locais. A Fazendinha. A Sede Náutica. A biquinha e o São Jorge. E percebi algo que precisava compartilhar com a Fiel.
Resolvi fazê-los na Goal.
O Corinthians, no alto de seus 106 anos, se tornou um gigante global. Campeão de Tudo, inclusive do Mundo duas vezes. Mas é o único gigante de São Paulo que conseguiu entrar na modernidade das arenas e dos CTs preservando o sentimento de aldeia global, de clube de bairro. Algo tipo o Fulham em Londres, ou o All Boys, em Buenos Aires.
Sim, o Corinthians hoje possui uma Arena, um CT, um CT de Base, mas as instalaçõeshistóricas fazem toda a diferença para quem mora no Bairro do Tatuapé e adjacências,como Itaquera, Anália Franco, Carrão e Aricanduva. As pessoas vivem aquilo ali. Elas,desde 1926, na chegada do clube ao bairro, respiram Corinthians.
Todo gigante já foi um clube de bairro. Mas nem todos os gigantes globais conseguem preservar este sentimento, essa vivência. O Palmeiras botou abaixo o velho Palestra, o São Paulo tenta preservar o Morumbi, mas possui o seu CT longe de seu bairro. O Santos é o que mais se aproxima desta característica, mas também acabou modernizando bem a Vila Belmiro e pouco restou dos ares de Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe. Apenas não ampliou.
Restou o Corinthians. Que preservou de forma quase intacta grande parte de sua história. Que entrou no Século XXI respeitando o passado no bairro.
Mas resta a pergunta: para que serve um clube com sentimento de aldeia ?
É importantíssimo que o clube cresça com calor humano, conhecendo o seu povo que faz o seu entorno. Por mais que dezenas de Starbucks, Outbacks e Bob’s movimentem a economia de Itaquera e da Arena, é essencial que o bairro respire Corinthians. Passar uma lição de fidelidade de de carinho para quem deseja empreender e evoluir.
A não desistir. A ver no emergente um grande agente de mudança.
Você já imaginou, em bom catalão, o Barcelona sendo este gigante mundial sem a integração da população de Les Corts sessenta anos atrás ? Ou o luxo do Arsenal, sem o charme de Avenell Road na época do Highbury ?
Graças ao sentimento de aldeia, se tornaram febre mundial.
É exatamente esta a lição que Alfredo Schürig, na Rua São Jorge, e a Miguel Ignácio Cury tentam nos passar. Global sim. Mas com alma de bairro.