Seis dirigentes do Barcelona, incluindo dois vice-presidentes, decidiram deixar seus cargos por discordâncias com o presidente Josep Maria Bartomeu e agravaram a crise política do clube catalão.
Segundo informações do jornal La Vanguardia, a lista conta com os vices Emili Rousaud e Enrique Tombas, além de Sílvio Elías, Josep Pont, Maria Teixidor e Jordi Calsamiglia, todos membros da junta diretiva.
Os quatro primeiros, inclusive Rousaud, um antigo aliado de Bartomeu e um dos líderes de sua campanha de reeleição, já estavam na mira do presidente, que teria "convidado" o grupo a renunciar como parte do plano de remodelar sua diretoria. Ele só não esperava que Teixidor e Calsamiglia aumentassem a lista de saídas e que tudo isso fosse tomado de forma conjunta.
Os seis dirigentes entregaram uma carta a Bartomeu apresentando a renúncia que pode conter elementos críticos e comprometedores da gestão atual e afirmando que a decisão é irrevogável. Em outra carta, esta tornada pública, o grupo explica os motivos da saída e agradece a torcida (leia mais abaixo).
"O golpe é considerável porque a demissão conjunta de seis dirigentes é uma reação organizada para demonstrar o desencontro com a maneira com que o presidente comanda a entidade. Não estão descartados novos abandonos", disse o La Vanguardia - neste momento, a diretoria que contava com 19 integrantes, com Bartomeu incluso, agora só tem 13.
A decisão deixa Bartomeu mais exposto, mas, ao menos pelo que determina o estatuto, ele pode continuar seu mandato que vai até junho de 2021. Desde que foi eleito em meados de 2015, o presidente do clube catalão já teve 11 mudanças no comando, o que mostra o tamanho da instabilidade política.
Os motivos da crise
São várias as razões que fizeram a coisa ficar feia nos bastidores do Barça. A começar pela própria forma como Bartomeu pretendia fazer mudanças na gestão. Rousaud, por exemplo, disse durante a semana que o presidente lhe ligou afirmando que faria as mudanças porque alguns "vazamentos incomodaram os jogadores". O vice se defendeu e disse que esse era um assunto para ser tratado "cara a cara".
Dois casos de fato desgastaram a diretoria perante o grupo recentemente. O primeiro, o chamado "Barçagate", estourou após a revelação de que a gestão Bartomeu contratou uma empresa de mídia para monitorar comentários de jogadores e até ídolos do clube, como o técnico Pep Guardiola, nas redes sociais. Há a suspeita também de que "robôs" foram criados para atacar possíveis candidatos de oposição da próxima eleição. O presidente negou as acusações, mas acabou rescindindo o contrato com a empresa e foi criticado internamente por "falta de contundência" no caso.
O segundo foi a negociação que culminou na redução do salário dos jogadores em mais de 70% em meio à crise provocada pelo novo coronavírus. Em comunicado, o elenco reclamou que surgiu "de dentro do clube" uma "pressão para fazer algo que nós sempre deixamos claro que faríamos".
Se por um lado os dirigentes criticam a "falta de pulso" de Bartomeu nos casos acima, por outro muitos consideram que ele comanda o clube de forma centralizadora e "presidencialista" - a forma como ele contatou Rousaud no início da semana seria prova disso.
Abaixo veja a carta de renúncia dos seis dirigentes do Barcelona:
"Pela presente queremos comunicar que os dirigentes que assinam abaixo comunicaram ao presidente Bartomeu a decisão de demitir de maneira irrevogável a nossa condição de diretores do FC Barcelona.
Chegamos a este ponto ao não nos vermos capazes de reverter os critérios e a forma de gestão do clube diante dos importantes objetivos do futuro e, em especial, a partir do novo cenário após a pandemia.
Devemos destacar também nosso desencanto com o lamentável episódio das redes sociais, conhecido como Barçagate, do qual fomos conhecedores por meio da imprensa.
Pedimos aqui que uma vez que se apresente o resultado da auditoria encarregada à PWC as responsabilidades sejam apuradas assim como eventual ressarcimento patrimonial que corresponda.
Como último serviçi a nosso clube, recomendamos que, tão logo as circunstâncias permitam, sejam convocadas novas eleições que permitam que o clube seja gerido da melhor maneira frente às importantes metas do futuro mais imediato.
Por último, embora não menos importante, queremos dar um reconhecimento e um agradecimento muito especial aos nossos companheiros de junta diretiva que dedicaram e dedicam suas melhores energias e esforços pelo bem do nosso querido Fútbol Club Barcelona. Também agradecer os executivos e empregados do clube pelo apoio e excelente trabalho durante o tempo em que tivemos a honra de servir nosso querido Barça.
Um forte abraço a todos.
Emili Rousaud i Parés, Enric Tombas i Navarro, Maria Teixidor i Jufresa,
Silvio Elías i Marimón, Josep Pont i Amenós, Jordi Calsamiglia i Blancafort"