O Barcelona entra em qualquer temporada como um dos grandes favoritos ao título da Champions League, mas nos últimos anos os catalães ficaram marcados por sofrerem viradas vexatórias – dado a improbabilidade delas acontecerem. Se em 2018 foi a Roma quem castigou os catalães nas quartas de final, neste ano foi a vez do Liverpool reverter uma derrota por 3 a 0 em uma goleada por 4 a 0 que tirou a equipe de Messi e companhia das semifinais europeias. Evidente que o primeiro reflexo desta situação é colocar sob desconfiança o trabalho feito pelo técnico Ernesto Valverde.
Após a eliminação para os ingleses, os torcedores receberam o time com vaias na vitória por 2 a 0 sobre o Getafe, dentro do Camp Nou. Foi o último jogo do Barça, que já garantiu o título espanhol, dentro de casa nesta temporada. A equipe também está na final da Copa do Rei, que será realizada em 25 de maio contra o Valencia. Ou seja: a pedra no sapato parece ser mesmo a Champions League, que motiva tanta insatisfação também pela sequência de três taças seguidas do Real Madrid. O estilo de jogo mais pragmático em uma década, entretanto, também tem um grande peso para os chiados da exigente torcida barcelonista.
O futebol de grande valorização da posse de bola, de associação fluida entre os jogadores, é uma das características históricas do Barça desde muitas décadas. Tudo isso foi muito simbolizado na figura de Johan Cruyff, tanto pelo que fez calçando as chuteiras ou da área técnica. Foi como treinador que o holandês (também um símbolo do Ajax) conquistou o seu maior título pela equipe catalã: a Champions League de 1992, a primeira na história do clube. Em campo, Pep Guardiola era o seu jogador de confiança. Anos depois, Pep atualizou os conceitos aprendidos e revolucionou o futebol moderno como treinador logo em sua primeira temporada comandando os profissionais: uma caminhada coroada com a taça da Champions League em 2008-09.
Desde então, o Barcelona jamais havia sido tão pragmático quanto a atual equipe agora comandada por Ernesto Valverde. Nesta temporada 2018-19, o Barça teve menos posse de bola em quatro jogos. Neste corte de uma década é algo inédito – e que também mostra o quanto os catalães eram obcecados pela bola. Está no DNA. Isso não quer dizer que outros estilos não sejam bem-vindos: quando conquistou pela última vez a Champions League, em 2014-15, o time treinado por Luis Enrique já não era mais o do ‘tiki-taka’ e apresentava um futebol mais direto. Coincidência ou não, aquela foi a última temporada de Xavi vestindo a camisa blaugrana.
E segundo o meio-campista, que se aposentou recentemente após quatro temporadas no futebol do Qatar, é exatamente esta queda no domínio dos jogos que explica a falta de sucesso do Barça nas provas europeias: “acho que não estamos dominando muito”, afirmou em entrevista para a TV3. "Acho que o Barcelona precisa voltar a dominar os jogos, do contrário será impossível ganhar a Champions League".
“É isso que a história nos mostra, já que o Barcelona conquistou a sua primeira Champions League quando estavam ganhando a Liga Espanhola e dominando os jogos”, completou o agora ex-jogador. Com uma carreira de treinador no horizonte, Xavi nega a possibilidade de comandar o clube de seu coração. Deseja fazer como Guardiola, seu mentor, e adquirir antes experiência com os jovens da base. Esta negativa, dita por causa de uma pergunta feita pela imprensa, seria desnecessária para o Barça. Ao menos por enquanto.
Por mais pressionado que Valverde esteja, o presidente Josep Maria Bartomeu garantiu a presença do comandante: “é o treinador que queremos. Tem o apoio do presidente e da diretoria. Renovamos com ele há pouco tempo e esse é um projeto a meio e longo prazo”, afirmou.
16 de maio de 2019
Dentre os quatro jogos em que o Barcelona teve menos posse de bola na atual temporada, o Barcelona não perdeu nenhum: venceu três vezes e empatou uma. Apenas um duelo não foi disputado dentro do Camp Nou. Não importa o resultado: se não tiver garantia de um título de Champions League, os torcedores catalães querem ver o seu time com o seu DNA nos gramados. A questão é que o futebol não lhe dá garantias. Isso ajuda a explicar a insatisfação da torcida com Ernesto Valverde.
Neste domingo (19), o Barcelona campeão espanhol enfrenta o Eibar pela última rodada da Liga Espanhola.