Uma coisa é analisar o jogo que aconteceu, na última quinta-feira (08), no gramado do estádio Nilton Santos, pela 31ª rodada do Brasileirão, outra é refletir sobre como o já conhecido clima tenso antes deste enfrentamento ganhou contornos ainda mais fortes antes durante e após o apito final. E em meio a tudo isso, vale lembrar bons exemplos de respeito e civilidade entre alvinegros e rubro-negros no passado.
O Flamengo, líder e favorito, voltou a encontrar dificuldades contra o Botafogo, em queda livre e lutando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Mas venceu com todos os méritos no apagar das luzes, graças a um gol de Lincoln após cruzamento de Bruno Henrique.
O jogo
November 8, 2019
No primeiro tempo os donos da casa tiveram algumas boas oportunidades, mas voltaram a mostrar uma notável incapacidade para marcar gols. O Botafogo também demonstrou uma entrega acima do comum para um grupo que sofre constantemente com salários atrasados -inclusive na segunda etapa, após a expulsão boba de Luiz Fernando.
As jogadas duras do Alvinegro flertaram com a linha tênue da violência, mas não foram desleais – assim como a abordagem física do Fla no duelo do primeiro turno. Mas a resposta final ao jogo dentro de campo foi dada na bola: o Flamengo teve quase 71% da posse e finalizou o triplo do que o Botafogo (18 a 6), embora só tenha acertado a direção da meta adversária três vezes (contra duas do rival).
A violência
Mas a noite não terminou bem para nenhum dos lados. Jogadores, treinadores e dirigentes se desentenderam e passaram longe do lastro de esportividade que na verdade é a base moral de qualquer prática desportiva.
Durante a partida, torcedores do Botafogo intimidavam quem não estivesse vestindo a camisa do clube, sob a desconfiança de que fossem rubro-negros disfarçados, e protagonizaram cenas de horror e linchamento. Estas cenas também aconteceram fora do estádio, antes do pontapé inicial da partida.
Violência injustificável e também motivada pela provocação de rubro-negros que não conseguiram respeitar o limite de 10% dos ingressos como visitante, como já é de praxe há anos e como havia acontecido em via contrária no primeiro turno, e passaram a semana fazendo provocações de que invadiriam o setor destinado aos botafoguenses, donos da casa.
Uma postura que não foi coibida em um cenário de tensão – vale lembrar que em 2017 um torcedor alvinegro foi morto com golpes de um espeto antes de um clássico.
As cenas de violência mostraram, acima de tudo, a incapacidade de se conviver apesar das diferenças.
Os exemplos
Nem sempre foi assim no chamado “clássico da rivalidade” e três exemplos ajudam a mostrar que Flamengo e Botafogo podem (e devem) se relacionar com mais respeito.
O mais recente deles foi a forte amizade entre Adílio e Mendonça, respectivos ídolos de Fla e Bota. Amigos desde os tempos em que se enfrentavam na base, a parceria perdurou depois e inclusive o meio-campista rubro-negro ajudou Mendonça em sua luta contra o alcoolismo, antes de seu falencimento.
Em 1956, o Flamengo acertou uma série de amistosos com o Honvéd, clube húngaro que na época era uma das maiores potências mundiais, e convidou o Botafogo para montar um combinado que enfrentaria o esquadrão de Puskas. O combinado Flamengo-Botafogo usou camisas vermelhas com golas e calções brancos e venceu por 6 a 2.
Outro exemplo que mostra a civilidade (inexistente nas arquibancadas do estádio Nilton Santos na última quinta) aconteceu justamente com Nilton Santos. O maior ídolo da história do Botafogo fez seu último jogo profissional justamente contra o Flamengo, em 1964, e recebeu das mãos de Carlinhos um troféu que o Rubro-Negro fez para homenagear o lateral.
Ser rival não é a mesma coisa que ser inimigo: ao longo da história, Flamengo e Botafogo já mostraram isso e precisam voltar a fazer