Calvozzo: Fluminense, um clube de mal com a torcida

É impossível citar um grande clube que jamais tenha encarado uma má fase. Seja no Brasil ou no exterior, todos já viveram momentos conturbados e que precisaram unir forças para virar o jogo.

Como se não bastasse a terrível fase vivida no futebol carioca, podemos apontar o Fluminense diante do pior cenário do Estado, onde a cada dia a situação parece se complicar mais. Seja através de uma decisão infeliz ou de uma medida impopular, a direção do clube parece fazer questão de desagradar o seu principal cliente, ou seja, o seu torcedor.

É justamente neste ponto que mora o grande perigo para o tricolor, pois apesar de uma fortíssima concorrência, o time vive uma situação um pouco diferente dos seus rivais locais. Hoje não é incomum ouvir dos tricolores que eles se sentem vergonhados de usar a camisa do time, pois se imaginam representando aqueles que ali estão comandando a entidade. O ano nem começou direito e o que mais se escuta entre esses apaixonados é saber como esse time irá se portar em 2019 na Série B! Sim, pois para pelo menos 80% desses torcedores, o rebaixamento é uma realidade que já é preciso ser tratado nas Laranjeiras, tendo em vista a qualidade do elenco formado para esta temporada.

Ter um ano de poucos investimentos é algo que vira e mexe acontece com qualquer um, lógico. Mas uma coisa é imperdoável para qualquer gestão: matar a paixão de seu torcedor, coisa que a direção comandada pelo Presidente Pedro Abad está sabendo fazer com louvor. E olha que estamos falando de um clube que já foi ao “inferno” da terceira divisão do futebol nacional. A grande diferença é que naquela época os tricolores batiam no peito e diziam que estariam ao lado da equipe, mesmo tendo que enfrentar equipes de pouca tradição em estádios que não combinavam com a grandeza do Flu. Hoje em dia, mesmo sem o pior ter acontecido, o sentimento é o oposto. Muitos já até falam que querem mesmo é que o time não tenha sucesso para que algo de diferente aconteça na política interna da entidade!

O fato é que tudo que acontece atualmente no clube carioca já era bastante previsível e não me refiro a saída do antigo patrocinador que injetava muito dinheiro no elenco. Mas sim pela forma como o atual grupo político conduziu a gestão do futebol após essa ruptura. Um misto de arrogância e falta de humildade talvez explique o que os membros desta equipe fizeram ao longo dos últimos anos. Na ânsia de querer mostrar que eles é que sabiam o que era melhor para o clube, optaram por fazer tudo ao contrário do que se pedia na época.

Se vale citar alguns exemplos, podemos lembrar que o clube tinha contrato com uma das mais tradicionais fornecedoras de material esportivo há muitos anos que foi trocada por outra que nem mesmo operava no Brasil. A escolha foi um desastre. Outro fato que vale ser citado é que mesmo após perder o seu principal patrocinador, a direção preferiu se desfazer do seu principal garoto propaganda, que até depois de pendurar as chuteiras, tinha potencial de angariar fundos e trazer recursos para o clube, já que era muito identificado e hoje certamente seria a maior referência de uma equipe no futebol brasileiro. Mas com a vontade de mostrar que a entidade é maior do que qualquer atleta, se desfez de um dos principais ícones de sua história. O resultado foi que o clube ficou por quase dois anos sem um patrocinador máster desde que Fred voltou para Belo Horizonte. Não falo isso com alegria, muito pelo contrário, mas me recordo que citei que tal fato iria acontecer e afirmo com segurança que não se tratou de nenhuma genialidade da minha parte. Ao contrário, isso era bem previsível, menos para aqueles que seguem essa filosofia por ali imposta e que fizeram questão de me enviar diversas mensagens pouco carinhosas na época. Para sorte do clube, enfim um novo parceiro foi encontrado, ainda que a opção seja de um novo player no mercado, o que certamente representa mais uma jogada arriscada e provavelmente com um investimento abaixo do que o time realmente merecia receber. Mas de qualquer forma, diante do atual cenário, é melhor do que nada.

Ainda que não tenha nem citado o exemplo de como alguns atletas foram dispensados do clube, para infelicidade dos tricolores, esse tem sido o tom de tudo que envolve o clube, ou seja, é assim ou não tem nada. Hoje a tendência é que o time de Abel brigue no máximo para se classificar para a semifinal do campeonato estadual. Pensar grande, como deveria ser uma constante no Fluminense, é algo impensável atualmente. Um “apequenamento” que não combina com a história desse clube.

O clima imposto pela atual gestão se assemelha muito com a realidade criada por alguns partidos políticos no país, afinal alguém seria louco de dizer que não é a favor da igualdade social e da redução da pobreza no Brasil? Da mesma forma, duvido encontrar alguém se posicionar contra a uma política que priorize pagamentos em dia e redução de dívidas. O problema não é objetivo final, mas sim como você quer chegar nele. Existem sim outras formas menos traumáticas e que trazem a torcida junto, fazendo com que o clube saia da crise (ainda que criada pela própria diretoria) ainda mais forte. Brigar com o seu maior tesouro jamais será uma decisão sábia.  Nem sempre reduzir gasto significa aumentar o lucro. Para ter algum ganho, é preciso fazer investimento, que é bem diferente de custo elevado.

Diante de tantos problemas e mancadas, o mais honesto que o atual presidente poderia fazer seria pedir desculpa aos torcedores e se dizer incapaz de seguir no posto. Tenho certeza que essa seria a medida que ganharia os maiores elogios dos torcedores do clube, que assim como o senhor, querem apenas ver o seu time de coração brilhando nos gramados. Pense nisso, pois apesar de tantos erros, tenho convicção de que o senhor é uma pessoa íntegra e com as melhores intenções.