As duas últimas semanas que antecederam a Copa América não foram nada fáceis para o Brasil, que começa, neste domingo (13), a abertura do torneio contra a Venezuela.
Os atuais campeões sul-americanos viram o torneio impingido a eles depois que os anfitriões originais Argentina e Colômbia se retiraram em meio a uma segunda onda de infecções por coronavírus, gerando outra crise aguda de saúde no continente.
A notícia não caiu bem no campo da Seleção, fazendo com que o time tomasse medidas quase sem precedentes para impedir que a Copa fosse disputada em um dos países mais afetados em todo o mundo.
No centro dessa resistência estava Casemiro, o líder em campo que se apresentou para enfrentar as críticas quando a seleção estava prestes a se desintegrar.
O meio-campista do Real Madrid tem usado regularmente a braçadeira de capitão de Tite desde que o treinador tomou a decisão em 2019 de retirar a responsabilidade de Neymar e alterná-la entre o time.
Apenas Dani Alves liderou a equipe em mais ocasiões do que Casemiro, uma escolha natural dada a sua posição no coração da equipe e estilo de jogo totalmente dinâmico. Acontece que ele foi chamado para liderar em um momento de crise.
Casemiro não é conhecido por sua facilidade para falar em público. Ele prefere levar seu ponto dentro dos limites do campo e deixar declarações bombásticas à imprensa para outras pessoas ao seu redor. Talvez por isso mesmo, os poucos gestos não relacionados ao futebol que ele deixou escapar nas últimas duas semanas foram tão eloqüentes.
Ele decidiu boicotar a primeira coletiva de imprensa do Brasil após o anúncio do país como sede da Copa América, no que foi relatado como um protesto à decisão, movimento que foi apoiado por seus companheiros de equipe e confirmado pelo técnico Tite.
Tite também revelou a descrença do time na mudança do local em termos tipicamente diplomáticos antes das eliminatórias da última sexta-feira para a Copa do Mundo contra o Equador.
Só depois do jogo o capitão finalmente quebrou o silêncio com uma declaração que dizia menos sobre os sentimentos de sua equipe do que sua união em meio a um ataque a Tite, que muitos exigiam que perdesse o emprego imediatamente por duvidar da capacidade do Brasil de sediar o torneio.
“Não podemos dizer mais nada porque todos sabem o que pensamos. Não podemos deixar isso mais claro. Há muito respeito da nossa parte, toda vez que queremos dar a nossa opinião muitas coisas acontecem", afirmou.
“Queremos conversar depois do jogo com o Paraguai [terça-feira passada] porque o caminho para a Copa do Mundo é o nosso foco. Queremos expressar nossas opiniões", completou.
Por fim, o Brasil resolveu disputar a Copa América, decisão amparada pela suspensão do presidente da CBF, Rogério Caboclo, sob a acusação de assédio sexual. "Somos contra a organização da Copa América, mas nunca diremos não à Seleção Brasileira. Temos uma missão a cumprir com a histórica camisa verde e amarela dos pentacampeões mundiais.", afirmou a seleção em comunicado conjunto.
Tite permanece no cargo e a maioria dos relatos aponta para Casemiro como a principal chave para manter o treinador no comando, enfrentou os responsáveis e garantindo que a equipe mantivesse uma frente unida.
De volta ao campo, ele deixou seu jogo falar, tendo um desempenho comandante depois de passar a braçadeira de capitão para Marquinhos, que completou sua 50ª convocação e levou a seleção a vitória sobre o Paraguai.
Casemiro segura o meio-campo, sozinho ou ao lado de Fred do Manchester United nas últimas partidas, e permite às estrelas do ataque do Brasil a liberdade de avançar com segurança, sabendo que suas costas estão sempre protegidas.
Ele é de longe o melhor meio-campista que a América do Sul tem a oferecer na atualidade e, sem dúvida, entre a elite mundial.
Incrivelmente, ele nunca foi derrotado em uma partida competitiva do Brasil. As duas últimas derrotas do time - para o Peru na Copa de 2016 e para a Bélgica nas quartas de final da Copa do Mundo de 2018 - ocorreram quando o sempre combativo meio-campista foi suspenso.
Tite pode ter conseguido superar a ausência de Neymar há dois anos, quando o Brasil conquistou a Copa América, mas perder Casemiro seria um duro golpe para seus planos.
O ativismo e a solidariedade do jogador, virtudes raras no jogo moderno, só confirmam ainda mais esse ponto, colocando-o como o líder do Brasil em todos os sentidos da palavra.