Foi justamente em um 6 de junho que o Barcelona conquistava pela última vez, em 2015, a Champions League. A final contra a Juventus foi vencida por 3 a 1 e, dentre outras coisas, sacramentou de vez as figuras de Luis Suárez e Neymar entre os grandes nomes da história barcelonista. Mas desde a saída do brasileiro para o PSG, em 2017, o Barça se perdeu e não conseguiu ser mais o mesmo.
Vale relembrar que antes da chegada de Neymar, em 2013, o Barcelona já vinha de grandes celebrações e não havia muitas dúvidas com a afirmação de que o time treinado por Pep Guardiola já poderia ser considerado o melhor e maior da história da instituição. Em 2011, quando os catalães chegaram a um acerto com o atacante brasileiro do Santos, o Barça (que golearia impiedosamente o Peixe no Mundial de Clubes) estava no ápice de seu futebol – um jogo coletivo, de passes curtos, rápidos e objetivo.
Ainda que tenha passado por uma turbulência meio óbvia após a saída de Guardiola, mentor estrutural daquele time, em 2012, o Barcelona ainda dava mostras de força. A exceção maior foi a derrota pesada para o Bayern de Munique na semifinal da Champions League na primeira campanha sem o treinador catalão – uma chacoalhada de 7 a 0 no placar agregado. Neymar chegou na temporada seguinte, 2013-14, dando um sopro de otimismo em relação ao futuro e a contratação de Luis Suárez, em 14-15, iniciou a era do “Trio MSN”.
A combinação sul-americana entre Messi, Suárez e Neymar impressionava pela efetividade. O argentino seguia como protagonista maior, mas o elenco comandado por Luis Enrique era recheado de craques que seriam a grande referência técnica em qualquer outra potência do Velho Continente.
Naquela temporada 2014-15, o Barcelona conquistou todos os principais troféus à sua disposição: La Liga, Copa do Rei e a Champions League. A decisão europeia contra uma excelente Juventus, última partida de Xavi vestido com as cores barcelonistas, teve brilhos de Iniesta, Rakitic, Luis Suárez e Neymar. Foi do brasileiro o último gol do encontro. Messi foi decisivo, mas também havia heróis tão importantes quanto nos gramados do estádio Olímpico de Berlim.
June 5, 2020
“Imagina o que é ter que marcar Suárez, Ney, Messi, Iniesta, Busquets (...) Imagina como foi a conversa na Juventus e o que falavam do Barça. Eles deviam estar se cagando”, afirmou o técnico Luis Enrique, sobre aquela equipe de 2014-15, em entrevista à Barça TV pela comemoração dos cinco anos desde aquele triunfo.
Depois daquele título europeu, Luis Suárez passou a apresentar forma irregular nos duelos fora de casa pela Champions. Mas o Barça ainda seguia forte, com Iniesta e Messi e Neymar aparecendo quando era preciso nas noites de Liga dos Campeões. A virada histórica sobre o PSG, no mata-mata de 2017, mostrava isso, ainda que o título europeu tivesse voltado para as mãos do arquirrival Real Madrid.
Instigado pela ambição de ter para si todo o protagonismo, fugindo da famosa “sombra de Messi”, Neymar comprou o projeto do PSG, que o comprou por 222 milhões de euros. Nem mesmo o caminhão de dinheiro, jamais visto até então em transações de futebol, serviu de alento para um Barcelona que ficou revoltado por perder um de seus jogadores mais decisivos.
O gigante da Catalunha seguiu hegemônico na Espanha, mas sem demonstrar a força ou o encanto que tinha quando o brasileiro desfilava pela ponta-esquerda. Nas duas temporadas seguintes à saída de Neymar, deu incríveis demonstrações de fraqueza em eliminações na Champions League: sofreu viradas impensáveis para a Roma e para o Liverpool. Messi seguia espetacular, mas com um time cada vez mais dependente do talento do argentino – que, surpreenda-se, é humano e não consegue resolver 100% dos jogos.
O vazio espiritual deixado pelo brasileiro ainda estava (e está) lá: Dembélé, Coutinho e Griezmann chegaram a peso de ouro e nenhum agradou. Iniesta foi embora e Messi pareceu ficar cada vez mais sozinho, exceção aos jogos de La Liga e Copa do Rei em que Suárez relembrava os velhos tempos como goleador. Na Champions, contudo, as memórias mais recentes são das fraquejadas. E tudo isso poderia ser ainda pior se o goleiro Ter Stegen não estivesse sob as traves para salvar quando preciso.
Na França, Neymar tampouco foi o que imaginava que seria: em meio a polêmicas e lesões, chegou a protagonizar grandes lances mas também se viu obrigado a dividir os holofotes com um jovem e espetacular Kylian Mbappé. Viu Messi, Suárez e outros ex-companheiros do Barça clamarem pela sua contratação e tentou voltar. Se vai conseguir, não sabemos, mas enquanto torrava dinheiro em jogadores sem parecer pensar no que era melhor para o seu conjunto, o Barcelona se mostrou perdido desde a saída de Neymar.
E Neymar, por outro lado, também ainda não conseguiu se encontrar.