O Corinthians se posicionou contra a volta do futebol brasileiro de forma antecipada. Em carta aberta, assinada pelo presidente corintiano Andrés Sanchez e divulgada no site oficial do clube, o Alvinegro claramente se mostrou favorável ao retorno do esporte apenas quando a pandemia for controlada no Brasil.
O clube lembrou que são mais de 23 mil falecimentos causados pela coronavírus no país, além de outros 376 mil casos, números que colocam o Brasil atrás apenas dos Estados Unidos em casos e óbitos. E a quarentena em diversas cidades parece estar longe de acabar.
"Depois de 23 mil mortes causadas pela Covid-19, todo debate é menor. Por isso, em nome do Corinthians, manifesto antes nossa solidariedade a cada brasileiro afetado por doença, luto, ou prejuízo profissional. Tudo isso importa".
Lembrando o caso da Alemanha, que retomou a Bundesliga, o Corinthians rechaça que o país vivia um outro momento com relação à pandemia. Momento este que, infelizmente, ainda não foi atingido no Brasil.
"Na Alemanha, houve diálogo intenso entre todos os agentes políticos e esportivos, e um princípio foi claro para a Bundesliga: o futebol não pode se antecipar ao controle da pandemia. Quando a sociedade confiou no sucesso do combate alinhado entre governo e estados alemães, a Bundesliga finalmente retomou seus jogos em sincronia, no último dia 16", afirma a carta.
Contra uma volta precoce do esporte no Brasil, o Alvinegro afirma: "o futebol só poderá voltar depois de uma articulação eficiente, focada tanto no bem-estar das pessoas quanto na segurança da Saúde nos estados envolvidos".
O posicionamento do clube paulista vai totalmente contra ao do Flamengo, um dos times que mais querem acelerar a volta do esporte. O clube chegou a desobedecer as recomendações da prefeitura do Rio de Janeiro e treinou sem liberação. O presidente flamenguista até se encontrou com Jair Bolsonaro em Brasília para pressionar pela volta do futebol.
Ao lado do Flamengo está o Vasco, que também quer a volta do esporte o quanto antes. No Rio Grande do Sul, a dupla Gre-Nal já voltou aos treinamentos, assim como os clubes de Belo Horizonte, Atlético-MG e Cruzeiro.
O Corinthians foi um dos maiores expoentes à favor da democracia no Brasil durante o período da Ditadura Militar no país. Com Sócrates, Casagrande e outros jogadores com voz política ativa, aquele período ficou marcado pela "Democracia Corinthiana".
Confira na íntegra a carta aberta, assinada por Andrés Sanchez:
Depois de 23 mil mortes causadas pela Covid-19, todo debate é menor. Por isso, em nome do Corinthians, manifesto antes nossa solidariedade a cada brasileiro afetado por doença, luto, ou prejuízo profissional. Tudo isso importa.
E é legítimo que o futebol – como qualquer setor – procure saídas junto ao governo federal e a seus respectivos estados, prefeituras e federações, a fim de impedir um aprofundamento da crise na atividade. É preocupante, porém, que o Brasil viva um cenário muito diferente daqueles países que retomam suas ligas.
A queda de receitas já obrigou muitos clubes a executar cortes e demissões. O Corinthians tem adotado medidas de austeridade, como a redução temporária de salários e jornada, apoiada na MP 936. Fazemos e refazemos as contas diariamente, mas somos realistas: trata-se da pior epidemia no país nos últimos 100 anos, e nenhuma atividade econômica sairá dessa sem transformações inevitáveis.
No Corinthians, não será diferente. O que não muda é o nosso compromisso com um futebol forte como carro-chefe e a parte social como tradição, e é para isso que estamos trabalhando. Como também vemos o clube como um veículo capaz de impactar mais de 30 milhões de torcedores via mídias digitais, levamos informação útil e iniciativas solidárias, com o sonho de terminar a pandemia sem nenhum torcedor a menos.
Somos testemunhas dos elogiáveis esforços da CBF, da Federação Paulista de Futebol e de outros clubes. Mas é preciso repensar, de forma ampla, o papel do futebol e sua influência nesse jogo.
Na Alemanha, houve diálogo intenso entre todos os agentes políticos e esportivos, e um princípio foi claro para a Bundesliga: o futebol não pode se antecipar ao controle da pandemia. Quando a sociedade confiou no sucesso do combate alinhado entre governo e estados alemães, a Bundesliga finalmente retomou seus jogos em sincronia, no último dia 16. Houve responsabilidade com seu produto, seus astros e seu público.
O futebol brasileiro, porém, caminha para outra direção.
Se o combate ao vírus não tem alinhamentos entre os governos, no futebol as reações estão ainda mais fragmentadas. Com decisões facultadas aos Estaduais, criam-se ruídos. O futebol perde muito como produto quando transmite que, para a bola rolar, basta decidir qual clube está mais pronto, ou qual estado está mais disposto a riscos, enquanto se somam mais de mil óbitos por dia.
Em 2020, a Série A tem 20 clubes de nove estados, cada um com panoramas distintos da doença. Isso pede um trabalho mais coordenado entre governos, clubes e federações. Num esporte coletivo, não dá para jogar sozinho.
Sem isso, qualquer retorno apenas adiará a próxima pausa forçada, em que os clubes vão, de novo, agonizar. Como negócio sustentável, o futebol só poderá voltar depois de uma articulação eficiente, focada tanto no bem-estar das pessoas quanto na segurança da Saúde nos estados envolvidos.