O ataque da seleção brasileira tem dois jogadores mais experientes, de maior peso no cenário internacional, mas neste início de Copa América a impressão é de que Roberto Firmino e Philippe Coutinho não são compatíveis dentro de campo. Foi assim durante boa parte da vitória por 3 a 0 e especialmente no empate sem gols contra a Venezuela.
Coutinho vem atuando centralizado no 4-2-3-1 desenhado por Tite, mas tem a “criação de liberdade maior” nas palavras ditas pelo treinador antes do empate contra os venezuelanos. Roberto Firmino, apesar de aparecer na escalação como jogador mais avançado, volta muito para criar. É um papel que está acostumado a fazer no Liverpool, onde apesar de vestir a camisa 9 faz cada vez mais o papel de “10”... que na seleção brasileira é justamente de Philippe.
Não é o ideal por duas razões.
• Ao recuar muito, Firmino deixa de se colocar como referência. O time, que já tem duas boas opções para dar trabalho aos adversários pelos lados com David Neres/Cebolinha e Richarlison, fica sem um homem centralizado para dar profundidade.
• E porque criador por criador, hoje Firmino vive um momento melhor: fez grande temporada pelo Liverpool campeão europeu enquanto Coutinho até mesmo passou a ser negociável pelo Barcelona após um ano decepcionante. Inclusive, demonstrou isso com a camisa do Brasil: deu o cruzamento para Coutinho fazer, de cabeça, o segundo gol nos 3 a 0 sobre a frágil Bolívia e o passe para o gol impedido de Gabriel Jesus contra a Venezuela.
No momento em que Coutinho sumiu contra os venezuelanos, Firmino, bastante recuado para um centroavante, era quem buscava os passes mais agudos e arriscados. É um dos fatos que explicam o quanto Tite não foi bem nas alterações feitas contra a Venezuela, insistindo em Coutinho em mais uma noite irregular.
Hoje, Roberto Firmino é mais concorrente de Coutinho do que de Gabriel Jesus. Menos para Tite, mas teoricamente poderia dar melhores opções para uma seleção que sente a falta de um atacante que não saia tanto da área. O ideal no momento? Gabriel Jesus avançado com Firmino criando. Ou no banco, com a responsabilidade para Philippe Coutinho – tido como o craque do Brasil na ausência de Neymar.
No Liverpool foram compatíveis A dupla teve bons momentos no Liverpool, antes de Coutinho ir para o Barcelona
Esta incompatibilidade, entretanto, está apenas no desenho montado pelo treinador do Brasil. Uma seleção sem profundidade e que claramente tem sofrido para concluir suas chances. A curiosidade é que há uma alternativa para tirar o melhor de ambos, e ela já foi montada no Liverpool para todos verem.
Firmino e Coutinho atuaram juntos na Inglaterra por duas temporadas e meia. E nas vitórias mais emblemáticas dos Reds naquele período, quem exercia o papel de armador, do “camisa 10”, era Roberto. Philippe ficou pela ponta-esquerda. Ironicamente, com o corte de Neymar, que ocupa o lado canhoto do ataque, seria uma opção viável para a equipe de Tite. A única contrapartida seria tirar David Neres da ponta, o que em um momento inicial é aceitável se imaginarmos o quanto Coutinho e Firmino podem entregar.
A vitória por 7 a 0 sobre o Spartak de Moscou, na Champions League 2017-18, teve hat-trick de Coutinho pela esquerda e um tento de Firmino um pouco mais avançado em um raro 4-4-2. Os triunfos sobre o arquirrival Manchester United nas oitavas de final da Europa League, em 2015-16, tiveram Firmino como meia central no 4-2-3-1 e Coutinho na ponta-esquerda. A dupla decidiu com gols e levou a equipe adiante. O desenho foi o mesmo no épico 4 a 3 nas quartas contra o Dortmund.
Incompatibilidade só no desenho atual de Tite
Coutinho e Firmino não são incompatíveis e Jurgen Klopp conseguiu mostrar isso: um na ponta, outro atrás de uma referência na área. Esta aparente incompatibilidade acontece na seleção. Ficamos no aguardo para ver se Tite vai insistir nesta fórmula atual, que não vem dando muito certo. Se quiser mudar, não faltam opções até mesmo dentro do sistema que o Brasil já está acostumado.