Ao elogiar seus companheiros de Juventus pela "sólida performance" no empate de quarta-feira contra o Ajax, o goleiro Wojciech Szczesny assumiu algo revelador: "o Ajax é um time muito diferente do nosso. Eles atacam mais e são mais agressivos".
Qualquer um que viu a Juventus nesta temporada acharia impossível discordar. O time de Massimiliano Allegri de novo dominou a Serie A da Itália, mas não brilhou.
A Juve venceu 27 dos 32 jogos da liga, mas em poucos eles dominaram. Há vários outros times melhores para assistir na Itália, como a Atalanta ou o Napoli, mas, como disse à "Goal" o meia Amin Younes "o futebol deles não é bonito, mas é eficiente".
Isso é visto principalmente em Ronaldo, com o jogo de Amsterdã sendo o caso mais óbvio. A Juve jogou mal na Holanda. O time teve dificuldade para segurar a bola, tiveram só 39% de posse e só acertaram um chute no gol. Mas mesmo assim saíram com o empate por causa de Cristiano Ronaldo.
O português é a única razão pela qual os Bianconeri ainda estão no torneio. Foi ele o autor dos três gols contra o Atletico de Madrid nas oitavas de final. Naquele jogo o plano da Juve foi simples e eficiente: cruzar a bola para Ronaldo. Funcionou, com ele marcando dois gols de cabeça na virada de Turim. Em Amsterdã ele fez mais um.
Mais impressionante que a ameaça aérea de Ronaldo é o fato de que nenhum outro jogador marcou para a Juve no mata-mata da Champions League. Dada a dependência de Ronaldo e a capacidade de alcançar bons resultados em partidas ruins, podemos ver a Juventus como o novo Real Madrid.
Afinal, Ronaldo sempre fez o Real Madrid compensar seus fracassos no Campeonato Espanhol levando o time para a glória da Champions League. Claro que ele tinha um grande elenco de apoio: Sergio Ramos, Raphael Varane, Luka Modric e Toni Kroos são todos craques, mas gols ganham jogos e isso que fez de Ronaldo a estrela do show.
Ele marcou incríveis 50 gols para o Real Madrid apenas nas fases eliminatórias da Champions. Não é coincidência que sem Ronaldo o Real Madrid já está eliminado, enquanto seu novo clube está perto da semifinal.
Se Ronaldo vai seguir como campeão da Champions League, por outro lado, ainda não sabemos.
Arrigo Sacchi está entre aqueles que acreditam que o técnico Allegri é conservador demais e pragmático demais para triunfar na Europa. O péssimo segundo tempo contra o Atletico em Madri, que o próprio Allegri admite que foi "feio", foi a melhor evidência até aqui de que Sacchi talvez esteja certo.
Mas Ronaldo no fim das contas apareceu para o resgate, da mesma forma que ele fez tantas vezes pelo Real Madrid. O hat trick nem foi o primeiro do atacante em um mata-mata, ele fez três contra o Wolfsburg nas quartas de final de 2016.
Mas como vimos na Itália e na Europa nesta temporada, esse não é um time da Juve que vai instintivamente para a jugular do rival. A vitória de 4 a 1 sobre a Udinese no mês passado segue como o único jogo na temporada em que o time marcou mais de três gols.
O sentimento não é de que a Juve não consegue se soltar, mas de que não deixam. É revelador que a melhor performance do time sob Allegri tenha sido a vitória de 3 a 1 sobre o Real Madrid no Santiago Bernabéu na temporada passada, quando eles não tinham outra opção a não ser atacar após sofrer 3 a 0 no jogo de ida.
O zagueiro Medhi Benatia disse em janeiro que "Allegri está indo muito bem na Itália e na Champions League. Estamos falando de um técnico que entende de futebol, mas não sei se ele é o cara certo para vencer na Europa".
Com Ronaldo, porém, tudo é possível. Ele quase que garante gols e pode ser decisivo para qualquer time. Os times do Real Madrid não eram sempre os melhores da Europa -na maior parte das vezes não eram nem o melhor da Espanha- e mesmo assim eles venceram a Champions League quatro vezes em cinco anos.
Certamente eles se beneficiaram de uma dose de sorte, como as falhas dos goleiros Loris Karius e Sven Ulreich, e várias decisões dos árbitros foram para o seu lado em momentos decisivos, como a expulsão de Arturo Vidal em 2016 e o controverso pênalti contra a Juve no Bernabéu no ano seguinte.
Mas todos os campeões precisam de alguma sorte. O Barcelona não teria vencido em 2009 sem uma série de decisões polêmicas contra o Chelsea na semifinal. Claro que o time tinha uma geração incrível de jogadores que definiram uma era do futebol sob o comando de Pep Guardiola, mas precisaram de sorte.
O que o Real Madrid de Zinedine Zidane fez não deixa a desejar. Embora eles não sejam tão admirados, certamente são respeitados. Diga o que quiser de Sergio Ramos e companhia, mas eles são vencedores.
Embora eles não sejam tão admirados, certamente são respeitados. Diga o que quiser de Sergio Ramos e companhia, mas eles são vencedores.
A Juve pode não jogar bonito, mas seus torcedores não estão preocupados com estética. Eles estão preocupados por não ganharem a Champions League por 23 anos. A imagem que isso causa é pior do que jogar um futebol feio.
Eles não vão se importar em como o título é conquistado desde que ele venha.
Como já disse a lenda da Juve Giampiero Boniperti sobre a cultura do clube, "ganhar não é importante, é a única coisa que vale".