É impossível apontar um favorito em um clássico equilibrado como é Cruzeiro e Atlético. Mas como o lado azul de Belo Horizonte vive a maior crise institucional de toda a sua história, não seria exagero imaginar algum tipo de vantagem para o Galo no jogo de ida das quartas de final desta Copa do Brasil, nesta quinta-feira (11).
Ainda que fosse nos detalhes, mas também justificado pelo desempenho dos rivais antes da pausa para a Copa América: a Raposa vinha de uma sequência de nove jogos sem vitórias. Mas se o futebol desafia a mais racional das lógicas, os clássicos são quase uma roleta russa. E nesta receita de imponderáveis, o Cruzeiro conquistou uma vitória de 3 a 0.
O jogo de ida começou a ser decidido logo nos minutos iniciais. Surpresa na escalação de Mano Menezes, Pedro Rocha foi escalado como atacante mais avançado, deixando Fred no banco, e abriu o placar com um belíssimo chute que surpreendeu Victor aos 13’. Era o que bastava para os azuis jogarem ainda mais à vontade: tendo menos a bola, como nos melhores momentos da campanha do bi na Copa do Brasil em 2018, a estratégia encontrou um encaixe ainda maior.
Jogar no erro do adversário deu certo porque o Atlético errou demais: ainda no primeiro tempo Rever errou passe bobo e José Wellison, meio-campista, não conseguiu impedir o rápido desarme de Pedro Rocha, que apareceu como um raio e teve a calma para parar, pensar, não sentir a ansiedade para concluir a jogada e tocar para Thiago Neves empurrar, sem obstáculos, a bola para o fundo das redes.
“Nós tivemos mais espaço. Nós saímos na frente depois de bastante tempo. E este fato nos deu espaço que em outros jogos não vínhamos tendo, porque vínhamos saindo constantemente atrás no marcador”, explicou Mano Menezes já após a vitória, em sua entrevista coletiva. “Marcar um gol cedo dá uma condição diferente para o jogo, um jogo grande como esse, que o adversário tem a mesma responsabilidade que a sua”.
O calvário dos ídolos
A segunda etapa começou com Otero na vaga de Luan pelo lado do Atlético, mas parecia ser dia de exorcizar, dentro dos gramados, todos os problemas vividos pelo Cruzeiro fora de campo. E mais uma vez foi um lance que contou com falha de um ídolo atleticano. Se Rever havia falhado no segundo gol, Elias perdeu a bola e Victor foi castigado de forma trágica: o reflexo o mando saltar na finalização desferida por Robinho, mas a bola bateu na defesa atleticana e deu ao meia-atacante cruzeirense outra chance em questão de segundos. Segundos que foram decisivos, uma vez que o goleiro e ídolo alvinegro seguia no chão e não conseguiu se recuperar para fazer uma defesa que, em outras circunstâncias, seria fácil.
Mano gabaritou
Além de ver a sua aposta, Pedro Rocha, ser o craque do jogo, influenciando o resultado especialmente no primeiro tempo, Mano Menezes viu o time que treina desde 2016 fazer o que melhor sabe: definir bem suas investidas, defender bem a vantagem e contra-atacar. Quando os torcedores da Raposa começaram a gritar “Olé”, o comandante, ciente de que ainda faltam 90 minutos a serem disputados para definir o semifinalista, acalmou os ânimos de uma torcida que precisava extravasar pelo seu time em meio à péssimas notícias que parecem não acabar.
O noticiário dentro de campo, contudo, mudou: justamente sobre o arquirrival, o Cruzeiro voltou a vencer e agora é o favorito a chegar à semifinais. Bicampeão do torneio, segue muito vivo em busca do Tri. Em meio à sua maior crise institucional, os cruzeirenses demonstraram o poder de sua camisa e comprometimento do staff de futebol.
Nada como vencer um clássico. E, para o Cruzeiro, nada como uma Copa do Brasil para remediar as feridas.