Tanto a campanha quanto o desempenho da Seleção Brasileira no Sul-Americano sub-20 decepcionaram. Não exatamente pelo título em si, mas por não ter chegado entre os quatro primeiros colocados, o que deixou a equipe treinada pelo técnico Carlos Amadeu fora do Mundial da categoria. Exatamente como havia acontecido em 2017, na campanha anterior sob o comando de Rogério Micale (o treinador do Ouro Olímpico em 2016).
O resultado muito aquém do esperado levantou as revoltas comuns de se ver em caso de derrota: o que precisa ser feito para mudar a base do Brasil? O que pode ser revisto? De quem é a culpa? E a verdade é que cada uma dessas respostas se completam e ganham um peso muito maior quando vamos além para pensarmos em toda a estrutura de base no Brasil. A tragédia no CT Ninho do Urubu, do Flamengo, e o acidente nas instalações do Bangu, dias depois, deixam isso ainda mais evidente.
Ainda sobre o Sul-Americano sub-20, é importante também destacar duas coisas: Carlos Amadeu, o treinador, levou boa parte destes meninos ao título da categoria sub-17 e teve desfalques de peso para o campeonato realizado agora no Chile. Rodrygo, do Santos, foi a grande estrela e, de fato, deixou a desejar especialmente no quesito de postura em campo. Mas estamos falando de um Brasil que poderia ter nomes como Vinícius Júnior (Real Madrid) e Paulinho (Leverkusen), que não foram liberador por seus clubes, mesmo caso do atacante Matheus Cunha (RB Leipzig).
Futebol e resultados decepcionantes no Sul-Americano
Além deles, lesões tiraram jovens como Alan e Victor Bobsin – volante que pertence ao Grêmio e tem grande qualidade na saída de bola, algo que fez muita falta no time. Foram algumas das dificuldades, o que não exime o treinador e nem as paupérrimas exibições de críticas. Os bastidores também não foram dos melhores e o resultado final de toda esta combinação foi mais uma campanha aquém do esperado.
Mas o que precisa ser feito para mudar a base do Brasil? Dentro de campo, aproveitar o talento em abundância existente em nosso país para formarmos melhores jogadores – atletas que entendam o esporte, suas regras e estratégias. O que pode ser revisto? Pensar que as peças em campo são, em grande maioria, meninos com pouco acesso à educação e em muitas vezes até mesmo com dificuldades cognitivas que, se ignoradas, não os ajudam a entender um esporte que exige cada vez mais um raciocínio tão melhor quanto mais rápido.
É investimento em educação e estrutura, algo que extrapola muitas vezes o futebol. A obsessão pela conquista de troféus, que evidentemente coloca pressão no treinador, é um fator que também pode atrapalhar uma vez que tende a tolher muito do talento em prol de um jogo voltado para o pragmatismo – historicamente fugindo do DNA brasileiro – na intenção de manter-se em um cargo. Portanto, os culpados são muitos e não estão apenas no resultado dentro de campo. Vale lembrar que em sua última participação em Mundiais sub-20, em 2015, o Brasil ficou a detalhes do título (foi vice-campeão, perdendo para a Sérvia).
Alojamento da base no CT Ninho do Urubu
O ápice do que é preciso melhorar na formação dos nossos futuros jogadores, entretanto, encontrou o seu lado trágico no último dia 08, no incêndio que matou dez jovens sonhadores. Se o Flamengo era uma referência no investimento dado à sua base, imagina como são as instalações em clubes menores? E em equipes montadas por empresários que visam apenas o lucro? Três dias após a tragédia do Flamengo, um novo incêndio levou três garotos do Bangu para o hospital.
A melhora da base precisa começar pela noção de que não serão formados apenas esportistas. Investir em educação aumenta o raciocínio, que pode ser utilizado em campo; boas condições dão a tranquilidade para um garoto aprender melhor. Não é mimo, como alguns podem romanticamente achar. É qualidade de vida para ajudar a dar passos além. A maior tragédia do futebol carioca ajuda a mostrar ao Brasil o quão profundo é o problema na formação de seus jogadores.