A seleção do Qatar surpreendeu o mundo ao conquistar a Copa da Asiática, em 2019. E foi ainda além ao confirmar um amistoso contra o Madureira, marcado para 27 de maio. O duelo faz parte da preparação dos qatari, que ao lado do Japão foi convidado a participar da Copa América que será realizada no Brasil neste ano. Uma nova adição a um histórico pouco comum envolvendo amistosos do Tricolor Suburbano.
Tudo começou em 1961, quando o Madureira passou 144 dias viajando pelo mundo. O elenco passou por Europa Ásia e Estados Unidos, realizando 36 jogos – com 23 vitórias, 3 empates, 10 derrotas e marcando 107 gols. A excursão, que incluiu duelos inéditos no Japão e em Hong Kong, é considerada a mais longa de uma equipe brasileira no exterior. Entretanto, a mais emblemática de todas as partidas internacionais do Tricolor aconteceria dois anos depois.
Em 1963, o clube carioca viajou para disputar jogos em Cuba. Era uma época em que o planeta buscava ter um contato mais próximo com o futebol que, em 1958 e 1962, havia conquistado a Copa do Mundo. Também era um período difícil na esfera geopolítica, e Cuba estava no olho do Furacão após o embargo comercial declarado pelos Estados Unidos e da crise dos mísseis – o mais próximo que o mundo esteve de uma guerra nuclear – em 1962.
O Madureira treinado por Samuel Lopes foi o primeiro time a pisar na Ilha após a revolução de 1959, e disputou cinco jogos contra diferentes equipes locais. Como já era de se esperar, uma vez que o futebol jamais foi o esporte mais popular entre os cubanos, o Tricolor venceu todos os desafios: bateu o Industriales, que havia sido campeão nacional, a seleção de havana e outros combinados locais. A rápida estadia rendeu uma imagem inesquecível, com o líder revolucionário Che Guevara posando ao lado dos jogadores do Madura, e uma camisa que entrou no gosto dos colecionadores das peças de futebol, feita em 2013 para comemorar os 50 anos daquela viagem.
Foram duas peças confeccionadas: uma grená com o rosto de Che Guevara desenhado no canto e uma outra com as cores da bandeira cubana – também com a figura de Che. As camisas foram sucesso internacional: além de terem vendido cerca de 4 mil peças em cerca de dois meses, algo fora da realidade do clube, o uniforme também foi pedido em países do exterior. Em 2017, a tradicional revista inglesa Four Four Two incluiu a camisa nas cores do país caribenho como uma das 50 mais icônicas na história do futebol.
1 de agosto de 2015
O sucesso da peça fez o Madureira lançar um outro uniforme inspirado em um de seus tantos ‘rolês aleatórios’ pelo mundo: no ano seguinte, o clube do subúrbio carioca lançou camisas em alusão à Viagem Proibida realizada para a China em 1964. O sucesso da passagem por Cuba fez com que o ditador chinês Mao Tsé-Tung chamasse, ainda pouco antes do golpe militar acontecido no Brasil em 1964, os cariocas para uma excursão pelo país asiático – o que não era permitido pelas federações, que impediam a viagem de clubes para países da esfera comunista.
O problema é que os militares tomaram o poder no Brasil e o Tricolor Suburbano ainda encontrou dificuldades para conseguir retornar para casa. De qualquer forma, o episódio foi o bastante para cinco décadas depois o Madureira seguir apostando em seus ‘rolês aleatórios’ para vender camisas pouco comuns de se ver. As peças alusivas à Viagem Proibida, entretanto, não tiveram o mesmo sucesso do uniforme cubano. Resta saber agora se um dia veremos a carismática equipe carioca vestindo um uniforme alusivo ao jogo contra o Qatar – que também enfrentará a Seleção Brasileira no dia 5 de junho, em Brasília.