Leandro Pereira, Alecsandro, Barrios, Borja, Deyverson, Arthur Cabral e Henrique Dourado. É difícil dizer que algum desses centroavantes contratados pelo Palmeiras de 2015 para cá, na era do patrocínio da Crefisa e da gestão do diretor Alexandre Mattos, deixou saudades na torcida ao se despedir da Academia de Futebol.
Nesse período, o time teve um talento de seleção brasileira na posição, Gabriel Jesus, mas as buscas no mercado, se renderam uma Copa do Brasil e dois Campeonatos Brasileiros, nunca pareceram alcançar o nível de exigência técnica que o clube se colocou ao ser o maior comprador e dono do mais recheado elenco do país. Se as outras posições deram em ídolos, o lugar do camisa 9 não teve a mesma sorte.
Tanto que Borja e Deyverson, as peças do elenco no último título nacional, deixaram o clube nessa janela sem grande comoção. O primeiro tenta uma reconstrução da carreira voltando ao seu país para jogar pelo Atlético Junior de Barranquilla, enquanto o segundo está a caminho da Espanha para defender o Getafe. Por aqui, restou Luiz Adriano, que chegou exatamente na pressa por aumentar o nível no meio dos campeonatos de 2019 e agora terá sua primeira temporada desde o início pelo clube.
Desde 2015
O Palmeiras começou a temporada de 2015 com Leandro Pereira escalado como referência do ataque. Goleador na Chapecoense, ele tinha a concorrência de Cristaldo, remanescente do ano anterior. E Rafael Marques, que jogava mais aberto, vez ou outra também pingou por ali e até poderia estar na lista, mas não dá para dizer que foi contratado para ser centroavante de fato.
Chega junho e o Palmeiras troca o comando de Oswaldo para Marcelo Oliveira. O clube contrata Alecsandro, do Flamengo, e, pouco depois, Lucas Barrios, que chega da Europa com status de titular e solução. Leandro dura oito meses e já vai embora em agosto, para a Bélgica. Junto disso, Gabriel Jesus sobe da base, vai ganhando espaço e o time conquista a Copa do Brasil no final do ano com a prata da casa, o paraguaio e Dudu no trio titular.
Mas Barrios viveu um 2016 de lesões e perda de protagonismo. Leandro Pereira volta da Europa por empréstimo no meio da temporada, Alecsandro marca seus gols e é bastante utilizado vindo do banco, mas a temporada é de Gabriel Jesus. Bola de Ouro e campeão brasileiro, ele acaba vendido durante a campanha para o Manchester City e a dúvida já retorna: quem será o centroavante?
Barrios que não seria, já que ele rescindiu o contrato com o clube e foi para o Grêmio em fevereiro. Alecsandro tinha seu valor, mas aos 36 anos ninguém o enxergava como titular, e em maio ele se transferiu para o Coritiba. Leandro Pereira já tinha sido emprestado para o Sport em janeiro. Rafael Marques é outro que iria embora em maio, numa troca que o levou para o Cruzeiro.
Mas, no meio disso tudo, já no comecinho do Campeonato Paulista, chegava o dono da posição: ele vinha da Colômbia e atendia por Miguel Borja.
Borja
O Palmeiras começou o ano com Eduardo Baptista escalando Willian Bigode centralizado na frente. Apesar de ter jogado assim algumas vezes ao longo das três últimas temporadas, é outro que não chegou exatamente para fazer tal função e portanto fica fora desse balanço. Então chegou Borja estreando com gol no Carnaval de 2017 e dando a impressão de que faria história.
Mas o atacante da seleção colombiana teve dificuldades em se firmar como um jogador do primeiro nível. A expectativa altíssima diante do investimento recorde (maior contratação da história do clube) e a ânsia do Palmeiras pelo título continental não ajudaram.
Quando Cuca assumiu o time em maio, frustrado com o desempenho do seu 9, pediu outro. Veio Deyverson. A falta de confiança era tanta que na eliminação da Libertadores, precisando de mais um gol contra o Barcelona, do Equador, o treinador nem tirou Borja do banco. O Palmeiras caiu nos pênaltis com Deyverson titular.
Borja jogou pouco nessa segunda passagem de Cuca. O técnico chegou a deixar ambos centroavantes fora do time no segundo turno de Brasileiro, atuando com Dudu, Keno e Willian. Depois, o colombiano teve mais umas chances com Alberto Valentim, no finzinho do ano, mas terminou 2017 em baixa.
Ainda assim ele começou 2018 como titular do time de Roger e chegou à Copa do Mundo pela seleção. Quando veio Luiz Felipe Scolari, no segundo semestre, rodando o elenco a cada partida, Borja era o atacante do time das Copas, às quarta-feira, e Deyverson atuava na equipe do segundo plano, no Brasileiro, aos domingos.
E aí Deyverson se destacou. Tanto que na eliminação na Copa do Brasil, para o Cruzeiro, ele entrou no lugar do concorrente já no intervalo; e na queda da Libertadores, para o Boca Juniors, colocou Borja no banco - ou seja, virou titular de fato. No fim, o título brasileiro é muito mais do centroavante carioca que do colombiano, marcando os principais gols da arrancada, inclusive o da taça, contra o Vasco, em São Januário.
Enfim, 2019... e 2020.
A impressão é que Borja não entregava aquilo que se imaginava (e/ou a cobrança, devido ao preço, foi desproporcional ao seu futebol, já que ele teve fases goleadoras) e que Deyverson, esforçado e encaixado no jogo de Felipão, deu resultado, mas não correspondia ao nível de um time que pretende ser o melhor do continente.
O Palmeiras então abre a temporada contratando Arthur Cabral, jovem centroavante do Ceará. Mas ele quase não joga e acaba emprestado. Scolari, ao seu estilo, reafirma a confiança nos seus dois homens de área, e Deyverson é o titular nos principais jogos. Mas quando o time perde o embalo após a Copa América o sinal de alerta é ligado e vem outra contratação de emergência para dar conta da má fase da posição: Luiz Adriano, após anos de Ucrânia, Itália e Rússia, chega e sai jogando, com a 10, logo nas quartas de final da Libertadores. O time acaba eliminado, Felipão é demitido e o tempo da dupla campeã nacional parece ter chegado ao fim.
Nesse caminho, ainda teve outra passagem esquisita e relâmpago. Henrique Dourado, ex-jogador palmeirense e que se recuperava de lesão no clube, acertou em julho último um empréstimo até o fim do ano. Jogou uns minutos no Brasileiro e saiu sem nenhum gol marcado.
E então agora o time abre 2020 liberando Borja e Deyverson, mantendo apenas Luiz Adriano e sem novas contratações. O assunto do momento é o uso da base, mas nenhum dos jogadores que subiu é da posição. Aliás, Fernando e Papagaio, revelações pós-Gabriel Jesus, também jogaram bem pouquinho antes de deixar o Palestra Itália.
Conclusão
A posição de centroavante é a mais negligenciada dentro do pacote de contratações do Palmeiras entre 2015 e 2019. Dando certo ou nem tanto, se buscou o tempo toda a excelência ao tirar titulares importantes de rivais em diversas posições (Weverton, Dudu, Lucas Lima, Scarpa, Marcos Rocha etc). Menos no fazedor de gol.
Com a 9 foi diferente, e a corda estourou quando o time chegou na parte mais importante da última temporada com seus dois jogadores questionados, precisando correr para um reforço às pressas, vindo da Europa, caindo direto num mata-mata continental.
O clube demorou para perceber. Se a contratação de Borja era legítima em 2017, precisou de duas chegadas em meio de temporada para substituí-lo (Deyverson naquele mesmo ano, e Luiz Adriano agora) para que se confirmasse que o colombiano pedia por novos ares.
Se Deyverson não passava a confiança total de ser o dono da posição para a ambição da temporada, poderia ter tido alguém à altura no novo elenco, de início, não quando o time estava em queda livre.
No fim, os badalados estrangeiros - Borja e Barrios - não tiveram a passagem dos sonhos, e as opções brasileiras - Leandro, Alecsandro, Deyverson - apesar da qualidade, nunca pareceram ser de primeira prateleira. Arthur acabou negado, e a passagem de Henrique mal deverá ser lembrada. O que mostra que a ambição e inquietação vistas para outras posições do campo não aconteceram com a 9. Com o time segurando a carteira e sem reforços agora, Luiz Adriano é a última esperança de que a era das contratações renda um 9 que vença, e convença, no Palmeiras.