Máximo artilheiro do Brasil e supercampeão com Libertadores e Campeonato Brasileiro em 2019, Gabigol começou 2020 ainda melhor, se no ano passado ele tinha média de 0.73 de bolas na rede, este ano subiu para 1.10 com 11 tentos em 10 jogos. Muito além dos gols, o camisa 9 conquistou a torcida pela entrega e identificação entrando para a galeria dos grandes ídolos o clube.
O sucesso de Gabigol no Flamengo é tanto, que conquistou Reinaldo, um dos grandes centroavantes revelados pelo time carioca. Para o ex-artilheiro da Gávea, o camisa 9 deveria ser, ao lado de Neymar, titular absoluto da seleção brasileira.
"Na minha opinião o Gabigol é titular, é ele, Neymar e mais 9 na seleção. O cara vem sendo o melhor do Brasil desde o Santos. O bom dele é que não está fazendo só gol, ele joga para o time, dá assistência, volta para marcar, se tiver que marcar volante ele marca. Ele caí na esquerda, na direita, é o melhor do Brasil disparado, tem que ser titular. Faz gol, joga no Flamengo, isso pesa muito", comentou em entrevista exclusiva à 'Goal.com'.
Reinaldo acredita que vestir as cores do Flamengo também dá um peso maior para tudo o que Gabigol vem fazendo, segundo ele, no Rubro-Negro, é diferente.
"O Flamengo é Flamengo, ele fez isso tudo no Santos, foi artilheiro, jogou muita bola, mas só que no Flamengo é outra repercussão. Não é menosprezar, eu joguei no Santos, respeito muito, é um clube gigante também. Eu vejo o Gabigol como o camisa 9 da seleção. Eu fui atacante e sei, ano passado, ele errava alguns gols e normalmente quando você erra você se abate, mas nunca vi abatimento nele, ele estava sempre com a mesma confiança. Ele dá carinho, discute com o juiz, com o adversário, inflama a torcida, a torcida gosta de jogador assim. Mesmo que não faça gols, corre, dá o seu melhor e fazendo gol então, melhor ainda e gol importante, toda decisão ele faz, sem dúvida nenhuma está entre os maiores ídolos da história".
Falar sobre o sucesso de Gabigol fez Reinaldo voltar no tempo e relembrar os primeiros anos no Flamengo. Logo no início da carreira, o jovem atacante teve a responsabilidade de substituir Romário, ídolo nacional e um dos maiores de todos os tempos.
"Lembro do Carlinhos me chamando na sala dele me dizendo: eu vou falar para não contratar ninguém, a gente vai confiar em você, dar a oportunidade para você, você consegue segurar a bronca? E eu disse,'vamo que vamo'.
Reinaldo recebeu todo o apoio da torcida que até fez uma música em provocação a Romário, que acabará de deixar o clube por problemas extra-campo. A canção entre outras coisas dizia "quem tem Reinaldo, não precisa de Romário".
"Essa música tenho guardadinha na minha memória, até arrepia, me emociona. Substituir um jogador do nível do Romário, ele estava no auge, teve que sair do Flamengo por problemas e eu pude substituir o melhor do mundo, mas tinha que jogar muito, fazer gol, a cobrança era muito grande. Eu consegui, fiquei dois anos sendo o principal atacante, vindo da base, correspondi, fiz uma grande dupla com o Edilson. Quero agradecer o que o torcedor fez por mim, essa música me encorajava, me dava confiança, eles me abraçaram", se emocionou emendando a importância do Baixinho no início de sua carreira.
"Romário foi muito importante para mim, ele me ajudou muito, principalmente em 99, foi um dos caras que mais me ajudaram, quando eu cheguei da base, ter o Romário do lado, eu moleque, ele me orientava, com posicionamento, o que eu tinha que fazer, ele foi uma referência para mim".
Campeão da Mercosul, Copa dos Campeões e Tri Carioca, Reinaldo relembra a rivalidade com o Vasco, que na época estava no auge.
"Era aquela rivalidade, clássico dos milhões, não podia perder para o Vasco nem em par ou ímpar. Tinha o Eurico também na época, muitos ingredientes porque era bom ganhar do Vasco, era a segunda maior torcida do Rio. Hoje mudou muito, se fizer uma pesquisa, o maior rival acho que ainda é o Vasco, mas a nível nacional, Flamengo e Palmeiras acirraram muito até depois da comemoração deles, ganharam e ficaram tirnado onda e agora essa, o Gabigol, Rafinha, brincando do não tem Mundial, não tem Copinha. A rivalidade é boa, sendo sadia, é muito boa".
Apesar de começar bem a carreira no Flamengo, Reinaldo acredita que evoluiu mais como jogador no São Paulo. Na época, o clube tinha estrura bem melhor que o time da Gávea.
"Eu treinava de manhã no Flamengo, quando não ficava alguém e não tinha carona, nada, às vezes tinha que voltar para Itaguaí e voltar a tarde para treinar de novo, era muito cansativo. Na época era um treinador, um auxiliar e um preparador físicio, um estagiário de fisoterapia e só. Sala de musculação não era boa equipada, não tinha caixa de areia. Mas estava realizando um sonho, eu era aquele cara flamenguista de arquibancada, meu pai era da geral, era o meu sonho. A estrutura do São Paulo era melhor, era melhor até que a do PSG na época, quando cheguei lá tinha 5 campos, caixa de area, alimentação certinha, eu conseguia descansar melhor, por isso acho que consegui um endimento melhor, a estrutura era toda integrada".
O ex-jogador acredita que se estivesse chegando ao Flamengo agora, vindo da base, teria sido um jogador melhor.
"Se eu fosse um jogador do Flamengo hoje, eu seria um jogador muito melhor. Eu ia perder menos gols, seria mais rápido, com mais potencia, posicionamento melhor. Flamengo está com estrutura a nível europeu fortíssima, é para aplaudir de pé. Se o Jesus quiser fazer um treino posicial ele vai ter uma pessoa só para aquilo ali, se quiser pegar o sistema defensivo também e tudo integrado com a comissão técnica. Na minha époica juntava todo mundo ali e tu dava um chute, esperava dois minutos para dar outro chute".
Por fim, Reinaldo também rasgou elogios a Jorge Jesus e disse observar o treinador português para aprender.
"Uma coisa que gosto no Jesus, ele nunca está satisfeito, sempre cobranado mais, ele faz um e quer dois, três quatro, ele começa a gesticular, eu que estudei para ser treinador, eu vejo muito jogo do Flamengo para aprender, fico vendo como o Jesus se comporta na beira do campo. O Flamengo tem fome de gols, o dia a dia, a cobrança em cima dos jogadores, como ele aborda".
Aposentado há um ano, o ex-atacante agora mira na profissão de treinador, além de fazer cursos e estudar, ele atualmente trabalha com o sub-15 do Bangu e não perde a oportunidade de ver o Flamengo em campo sempre que o clube do coração joga no Maracanã.