Para Marcos Senna brasileiros da Espanha na Copa: “estão em casa”

Marcos Senna não foi o primeiro brasileiro a ter defendido a seleção espanhola, um país que há muitas décadas está acostumado a ver estrangeiros vestindo as cores de sua equipe nacional. Entretanto, o paulista nascido em 1976 entrou para a história ao fazer parte de um grupo que se livrou de um grande peso e mudou a mentalidade da ‘Roja’.
Em 2008, o meio-campista foi titular absoluto na conquista da Eurocopa. Um título que tirou a ‘Roja’ de um jejum de 44 anos sem títulos e iniciou uma caminhada vitoriosa que mudou o patamar do selecionado espanhol. Um feito que enche o atual embaixador do Villarreal, clube onde também deixou seu nome marcado, cheio de orgulho, conforme explicou em conversa exclusiva para a Goal Brasil.
“Pra mim é um privilégio, poder participar desta geração ganhadora. Deu certo, a gente fez uma ótima Eurocopa. Acho que a Espanha levava uma mochila muito pesada nas costas, de sempre chegar e não conseguir ganhar, e a gente tirou essa mochila em 2008. Jogando muito bem. E a partir daí os jogadores se soltaram, passaram a acreditar que era possível”, disse.
Este ‘peso na mochila’, Marcos Senna também sentiu anos antes de entrar para a história. Em 2006, ele se transformou no primeiro jogador nascido no Brasil a defender a Espanha em Copas do Mundo. Pouco mais de uma década depois, são três os brasileiros que vestem a camisa da seleção espanhola. E o pioneiro vê com bons olhos a presença de Diego Costa, Thiago Alcântara e Rodrigo Moreno na equipe agora comandada por Fernando Hierro.
“A seleção espanhola veio crescendo gradativamente, e obviamente esses três jogadores não poderiam ficar de fora. São extremamente importantes para o que é a seleção espanhola. A adaptação deles à cultura do futebol espanhol é 100%. Se não fosse assim, eles não estariam atuando pela seleção. Eles se sentem completamente em casa”, avaliou Senna.
Sem acreditar que Rodrigo e Diego Costa possam atuar juntos, uma vez que disputam a posição no comando de ataque, Senna também revelou que uma linha tênue separa as suas torcidas por Espanha ou Brasil (“vai do momento”, disse), mas não imagina que um estrangeiro pudesse ser, no Brasil, tão bem aceito quanto ele foi vestindo a camisa ‘roja’. Questão de culturas diferentes, na opinião do brasileiro mais importante na história da seleção espanhola.
Adaptação de um brasileiro à seleção espanhola
“Na verdade eu defino isso como filho adotivo. No início você se sente um pouco estranho, ‘desubicado’. Mas aos poucos, sentindo o carinho dos pais, você vai se sentindo mais em casa".
"Este foi o meu caso. Quando me dei conta, já estava completamente integrado ao grupo. Até hoje eu sinto esse carinho, esse calor do povo espanhol, e com eles (Diego, Rodrigo e Thiago) não vai ser diferente”.
Sofreu preconceito?
“Eles tem uma preocupação para que o trato seja o melhor possível. Eu nunca me senti assim, desde o início, o cuidado deles sempre foi especial comigo. Se não fosse dessa forma, obviamente eu falaria, mas desde o início o trato foi muito especial. Não sei se porque, modéstia à parte, eu sempre tive um comportamento exemplar, nunca fui polêmico...”
O brasileiro aceitaria um estrangeiro jogando ou treinando a Seleção?
“Eu respeito a cultura de cada um, mas acho que nós, como brasileiros, não estamos preparados. Nós temos um tipo de cultura bem diferente. Pode ser que um dia aconteça, ter um jogador ou treinador em nossa seleção. Na Espanha, se um jogador vem, joga com qualidade e eles acham que vale a pena fazer o convite, eles fazem. Até mesmo porque o Brasil é um país com população muito maior, mais jogadores...”
Importância do título de 2008, e ‘alívio’
“Pra mim é um privilégio, poder participar desta geração ganhadora. Deu certo, a gente fez uma ótima Eurocopa. Acho que a Espanha levava uma mochila muito pesada nas costas, de sempre chegar e não conseguir ganhar, e a gente tirou essa mochila em 2008. Jogando muito bem. E a partir daí os jogadores se soltaram, passaram a acreditar que era possível. Depois veio a Copa do Mundo, outra Eurocopa... Acredito que a seleção da Espanha, hoje, tem uma mentalidade muito diferente, de que pode competir com qualquer seleção. E tenho certeza que entra nesta Copa como uma das favoritas também”.
“O povo espanhol reconhece que essa mudança veio a partir de 2008, porque foi uma mudança de mentalidade ganhadora. Uma mentalidade que nós, como brasileiros de origem, já vem no sangue (risos). O Espanhol sempre teve esta mentalidade, mas era a nível de clube. Com a seleção sempre tinha essa insegurança, desconfiança. Não tinha 100% dessa mentalidade, e agora tem”.
Torcida.... Brasil ou Espanha?
“Quando me perguntam isso, digo que sou privilegiado, porque tenho duas seleções pra torcer (risos). Neste ano eu estou com as duas seleções, mas estive 100% com a seleção da Espanha em curso de treinador, fui convidado para ver o primeiro jogo, tenho amigos na Espanha (Iniesta, David Silva....)".
"No Brasil eu não tenho contato com nenhum. Eu não sei se gostaria de ver as duas na final.... não sei quem precisaria cair primeiro, mas não quero ver as duas na final, porque aí eu fico mais tranquilo pra torcer (risos)”.