Imagine décadas no futuro, quando reportagens relembrarem o bicampeonato do Cruzeiro na Copa do Brasil, em 2017 e 2018. A normalidade pede testemunhos dos heróis daquelas conquistas, mas é bem provável que o torcedor que estiver acompanhando esta eventual matéria tenha sentimentos misturados.
Afinal de contas, praticamente o mesmo elenco que alcançou tamanha glória foi o que, em 2019, acabou sendo rebaixado no Campeonato Brasileiro pela primeira vez em toda a história da 'Raposa'. Listando os jogadores com participação mais constante no time, 11 deles comemoraram o título e ficaram marcados pelo rebaixamento.
Herói em 2018 e importante em 2017, Thiago Neves é o maior e mais óbvio exemplo de ídolo “cancelado”, para usar a expressão da moda.
O meia, de histórico decisivo nos jogos grandes, foi afastado por causa de sua postura extracampo, protagonizou a briga que culminou na demissão do técnico Rogério Ceni e, se fora dos gramados o símbolo da queda celeste foi a irresponsabilidade administrativa, dentro de campo o rebaixamento de 2019 tem a cara de Thiago Neves.
Mas além do camisa 10, qual outro jogador campeão da Copa do Brasil, em finais vencidas sobre Corinthians e Flamengo, perdeu o status de ídolo para entrar na lista do rancor pelo rebaixamento? Quem, na opinião do torcedor cruzeirense, segue imune à ira que tomou conta da parte azul de Belo Horizonte?
“Fábio, Léo e Henrique continuam com o mesmo prestígio, pois mostraram vontade e tentaram tirar o time dessa situação”, disse o cruzeirense Daniel Rossi da Silva a Goal, que toma conta da página Cruzeiro na História.
“Quanto a Thiago Neves e Dedé, os dois ficaram com o filme muito queimado”, completa, relembrando todo o histórico extracampo e a participação de ambos na demissão de Rogério Ceni – um dos tantos marcos da derrocada celeste em 2019.
“Não só os dois, mas Edilson, Egídio, Robinho e Fred estão com os dias contados na Toca da Raposa”.
A lista de heróis em títulos históricos sofreu uma baixa considerável, mas e a lembrança daquelas conquistas? As contratações que fizeram a diferença em 2017 e 2018, irresponsáveis sob o ponto de vista econômico-administrativo do clube, também fazem parte da história do rebaixamento. É um caso raro em que um sucesso está diretamente atrelado ao roteiro da queda.
Apesar do reconhecimento de que este elenco será lembrado tanto pelos triunfos de Copa do Brasil, quanto pelo rebaixamento, que neste domingo (15) completa sete dias, a tendência é que o tempo faça com que o torcedor consiga separar muito bem as coisas.
“Foram duas campanhas sensacionais e batemos adversários com poderio financeiro e de mídia muito maiores que os nossos, como por exemplo, Flamengo, Palmeiras e Corinthians”, destaca Daniel.
O cérebro, já foi comprovado cientificamente, tem facilidade para, com o passar do tempo, se esquecer das memórias mais negativas. Dizem que o futebol desafia a razão, mas isso não quer dizer que o torcedor cruzeirense possa se esquecer de quem saiu de um posto de herói para o de vilão.
“A última impressão é a que fica, e vários jogadores que eram tratados como ídolos e incontestáveis perderam este posto; principalmente Thiago Neves”, completa o torcedor cruzeirense.