O cenário não parecia dos mais complicados: o Flamengo recebeu a LDU, no Maracanã, precisando de um empate para se classificar, com uma rodada de antecedência, às oitavas de final da Libertadores da América. A equipe equatoriana vinha de quatro derrotas seguidas, considerando todos os torneios que disputa, e cercada de críticas pelo desempenho ruim tanto no certame continental quanto em sua liga nacional. Finalizado o duelo, é possível separar dois pontos positivos e dois negativos.
De positivo? A classificação garantida e mais uma mostra de que o atual elenco consegue, até o último minuto, exibir força para evitar o pior resultado possível. De negativo? Mais uma exibição cercada de sofrimento desnecessário na Libertadores com a zaga rubro-negra protagonizando falhas impensáveis para um time postulante aos maiores títulos que disputa. Em que pese o poder decisivo de seus jogadores de ataque, a parte defensiva do conjunto treinado por Rogério Ceni não tem se mostrado à altura dos objetivos para a temporada. E ainda que o empate por 2 a 2 contra a LDU tenha vindo com um jogador a menos, o saldo até aqui é o da preocupação com o futuro.
Se já era esperado ver Rogério Ceni poupando alguns de seus principais nomes, pensando na final do Campeonato Carioca contra o Fluminense, o treinador surpreendeu pela forma como escalou o time. Sem Rodrigo Caio, poupado para não sentir uma sobrecarga de jogos em após uma recuperação física, qual dos seus três criticados zagueiros (Léo Pereira, Gustavo Henrique e Bruno Viana) fariam dupla com o improvisado Willian Arão? A opção de Ceni foi a de devolver o camisa 5 ao meio e apostar justamente num trio de zaga formado por Léo, Gustavo e Bruno.
Após o jogo, Ceni explicou que a intenção era de colocar Léo Pereira improvisado na lateral-esquerda. De qualquer maneira, a expulsão de Willian Arão, justamente em seu 300º jogo pelo Flamengo, aos 15 minutos, mudou o cenário imaginado. Ainda assim, o time carioca seguia com maior posse de bola e até mesmo criando boas oportunidades no ataque – sendo o chute que Gerson acertou na trave o principal enquanto a contenda estava ainda no 0 a 0. No geral, a LDU tinha dificuldades para criar chances... a não ser em caso de falha rubro-negra.
E é aí que mora o problema.
Nestes cinco jogos pela Libertadores, o Flamengo não permitiu tanto que seus adversários tivessem grandes chances. Mas os seus adversários marcaram gols, em geral, nas poucas chances que tiveram. Especialmente em lances de bola levantada na área logo após escanteio ou diretamente através de falhas individuais.
Considerando apenas a Libertadores, seis dos nove gols sofridos pela equipe de Ceni aconteceram em lances de bola aérea. Foi assim que a LDU fez o 1 a 1, com Guerra, logo após Pedro ter aberto o placar para os donos da casa. Mas também chamou a atenção a falha de Bruno Viana quando os equatorianos fizeram o 2 a 1, já no segundo tempo, pelo fato de o zagueiro praticamente ter desistido da dividida antes de Jhojan Julio estufar as redes.
O mesmo Bruno Viana falhou duas vezes no lance que terminou com o primeiro gol do Unión La Calera, no 2 a 2 da quarta rodada da Libertadores. Como foi o segundo gol sofrido naquela ocasião? Após escanteio e confusão na área flamenguista. As falhas individuais de Bruno Viana chamam a atenção, mas quando se olha para Léo Pereira e Gustavo Henrique a verdade é que a dupla, contratada em 2020, ainda não conseguiu passar segurança – na defesa rubro-negra ela só parece querer surgir na presença de Rodrigo Caio, que não disputou nenhum jogo nesta Libertadores.
Ceni sabe dos problemas defensivos de seu time, e vem tentando resolver especialmente a questão das bolas aéreas – a opção pela trinca de zagueiros, espalhada em uma linha de quatro, foi motivada também pela boa altura dos mesmos. Mas seja nas alturas ou com até 10 jogadores dentro de sua área, o Flamengo ainda não conseguiu resolver este seu problema defensivo.
A parte boa é que o time conta com jogadores de ataque que decidem. Se nesta quarta-feira (19) não foi uma noite de gol para Gabriel Barbosa, Pedro seguiu a mostrar o seu faro artilheiro e Arrascaeta continua na rotina de salvar o Flamengo quando as coisas parecem estar perdidas. O uruguaio entrou no segundo tempo e melhorou a criatividade do time. Saiu de seus pés a cobrança de falta que terminou – quem diria! – aliviando a noite de Gustavo Henrique. Já no finalzinho da partida ele subiu mais alto do que a defesa equatoriana para, de cabeça, marcar. Chega a ser, de certa forma, irônico para o time que sabe atacar e sofre para defender.
Com um ataque que sempre resolve e uma defesa que, dentro de sua área, tem entrado constantemente em pane, é possível até ter dúvidas se a classificação do Flamengo para as oitavas de final foi tranquila ou tensa. A dificuldade gerada por suas próprias falhas defensivas depõem contra a facilidade com a qual jogadores como Pedro e Arrascaeta – e Gabigol em outros jogos – parecem sempre tirar coelhos da cartola até aqui. Mas ainda que conte com tais jogadores, se o Flamengo seguir com os problemas defensivos o time entra nos mata-matas com motivos para se preocupar.