Gabriel Jesus chegou ao Manchester City, em 2017, bem jovem. Hoje com 23 anos, o ex-palmeirense ainda é. Mas com um lastro de experiência muito maior: se lesionou e superou problemas físicos, conquistou títulos pelo City e seleção e já sofreu na pele as críticas por um desempenho ruim como titular em Copa do Mundo. Desde os tempos de Palmeiras demonstrava maturidade, mas o primeiro momento em que decidiu “como gente grande” na Europa foi na série de oitavas de final da Champions League contra o Real Madrid.
Tamanha foi a importância de Gabriel Jesus para eliminar os gigantes da Espanha nesta fase de mata-mata que é possível até mesmo pensar que, se não tivesse contado com o brasileiro nas duas partidas, o time de Guardiola não teria avançado para as quartas de final. Dentre os quatro gols marcados pelos ingleses contra os madridistas, três tiveram participação direta do orgulho de Jardim Peri. E foi o mesmo Gabriel Jesus que, na ida, sofreu a falta que resultou no cartão vermelho dado a Sergio Ramos, tirando o zagueiro e capitão do Real, decisivo para a equipe de Zidane, da partida de volta.
No jogo de ida, dentro do Santiago Bernabéu, a escalação de Gabriel entre os titulares surpreendeu, uma vez que Sergio Aguero – maior artilheiro do City na história e titular absoluto na referência do ataque – começou entre os reservas. O brasileiro, entretanto, exerceu uma função tática vital na ponta-esquerda, antes de marcar o gol de empate quando passou, então, a jogar como atacante centralizado. Os Citizens venceram, de virada, por 2 a 1 e a exibição do camisa 9 rendeu grandes elogios de Guardiola ainda antes da parada dos jogos por causa da pandemia da Covid-19.
“Não existe jogador no mundo igual a ele”, disse o catalão meses atrás. “Quando corre pela ponta é muito difícil pará-lo. Escolhemos ele porque ele abre muito o campo”, completou Guardiola, que repetiu estratégia parecida no jogo de volta, meses depois, dentro de um vazio Etihad Stadium – onde sequer pôde contar com Aguero, lesionado.
Se na ida foi Bernardo Silva quem ocupou a vaga centralizada como “Falso 9”, nesta sexta-feira (07) coube ao jovem Phil Foden desempenhar tal papel. E pela ponta-esquerda Gabriel Jesus mostrou o quanto sua entrega no gramado garante bons frutos: com menos de 10 minutos, o brasileiro pressionou a péssima saída de bola do Real Madrid e, justamente pelo lado onde estaria Sergio Ramos (suspenso pelo cartão que Jesus ocasionou), roubou a bola de Varane antes de servir Sterling: 1 a 0.
Quando houve alguma dúvida sobre quem avançaria rumo às quartas de final, após o Real Madrid empatar através de Benzema, Gabriel Jesus voltou a deixar Varane de calças curtas e cara de bobo perante as câmeras de TV e streaming que filmaram a reação do zagueiro francês. O brasileiro, ainda pela ponta-esquerda, voltou a desarmar o defensor e desta vez bateu para o gol: 2 a 1.
August 7, 2020
Se, nas palavras de Michael Jordan, os playoffs da NBA separam as crianças dos homens, o mata-mata da Champions League tem um efeito parecido. Dentre os 12 gols que Gabriel Jesus havia marcado no certame europeu antes destes duelos contra o Real Madrid, apenas duas vezes foram em partidas de mata-mata europeu, mas ainda assim contra adversários bem mais frágeis, como Basel e Schalke.
Com participação de protagonista para eliminar o gigante Real Madrid, seja pelos gols ou por ter forçado uma expulsão de Sergio Ramos – ausência tão bem aproveitada pelo próprio atacante no jogo de volta – Gabriel Jesus mostrou que, sob o prisma do futebol europeu, ele, com tão poucos 23 anos, já é gente grande.
“Tem que acreditar e acreditar que eles podem errar. Todos somos humanos e podemos errar, então eu sempre acredito e pressionei, pressionei muito. É uma das minhas forças. Estou muito feliz por ter feito um gol”, disse Gabriel a 'BT Sport'. “Eu trabalho para me tornar um grande atacante, trabalho duro todos os dias para ser igual ao Ronaldo (Fenômeno). A qualidade que ele tinha era diferente da minha, mas eu preciso trabalhar para virar um grande atacante”, concluiu.
O Manchester City enfrentará o Lyon na quarta de final, fase que passará a acontecer em Portugal e com apenas um duelo.