Gabigol é o artilheiro (17 gols), Arrascaeta o maior garçom (7 assistências), Everton Ribeiro quem mais cria chances (38) e Willian Arão aparece como símbolo de recuperação do Flamengo nesta excelente campanha de Brasileirão. A defesa titular encaixou para dar segurança e boa saída de jogo para o time de Jorge Jesus, mas nenhum rubro-negro deixaria de citar o nome de Gerson na hora de, com sorriso estampado no rosto, falar sobre os grandes nomes do time que lidera de forma isolada o certame nacional.
O jovem meio-campista de 22 anos foi contratado junto à Roma por cerca de R$ 49,7 milhões, e desde cedo era possível imaginá-lo como opção para as mais diferentes posições de seu setor, uma vez que na Europa foi utilizado em várias funções. Mas Gerson não apenas tomou para si o apelido de ‘coringa’ do time, como vai elevando o nível do futebol que apresenta. Apesar de ainda não estar aparecendo em abundância pelos gols ou assistências neste Brasileirão, até porque nem tem sido algo necessário, é regente de um Flamengo de ritmos variados, mas que a partir deste segundo semestre vem, invariavelmente, atropelando adversários um atrás do outro.
No Rubro-Negro, já atuou mais recuado e mais avançado. Como meio-campista, meia e até aberto pelos lados – tanto direita quanto esquerda. Seus movimentos ditam a dança do meio-campo no time de Jorge Jesus, e mesmo aos 22 anos ele chama a bola para dançar como se já fosse um veterano: tenta tirá-la do oponente, ataca o espaço para recuperá-la e depois transforma o seu amor por ela em presente distribuído para companheiros em toda a parte.
Contra o Palmeiras, em jogo de topo da tabela realizado no primeiro dia de setembro, não fez gol nem deu assistências em meio aos 3 a 0 avassaladores que demonstraram o nível diferente em que este Flamengo está. Mas não foi raro ver torcedores e analistas colocando Gerson como o melhor em campo. O camisa 8 dominou tanto o seu setor, que o seu mapa de calor daquela partida é quase uma cópia exata ao de toda a equipe. Gerson dita o ritmo.
“Não sei como liberaram ele”, disse um impressionado Jorge Jesus após vitória por 3 a 1 sobre o Grêmio, ainda na 14ª rodada do Brasileirão. “Ninguém deu nada pelo Gerson, não sei como. Ele é um grande jogador e para mim funciona como um coringa. Ele é muito evoluído taticamente e me ajuda muito”, completou o treinador português.
Gerson é cria da base do Fluminense, clube que defendeu entre 2014 e 2016, quando foi comprado pela Roma. Na capital italiana teve maior participação em sua segunda temporada (2017-18), mas não foi o bastante para que os Giallorossi quisessem tanto a sua permanência. Tanto, que no ano seguinte o carioca de Belford Roxo foi emprestado a Fiorentina, clube que ajudou a livrar do rebaixamento e onde mais foi influente antes de ser contratado pelo time que sempre torceu.
No Flamengo treinado por Jorge Jesus, o encaixe foi rápido e sua melhora como jogador fez o time também evoluir. Hoje, Gerson cria, em média, mais chances, recupera mais bola, efetua mais desarmes e troca um número muito maior de passes. As chegadas ao ataque, através de finalizações, seguem a média de sempre, mas também demonstram um poder cirúrgico em crescimento. Em dez jogos, todos como titular – ao contrário do que viveu nos seus melhores anos de Fluminense, Roma e Fiorentina -, finalizou oito vezes: acertou a mira das vezes, inclusive marcando um gol, e carimbou a trave em outras duas ocasiões.
O nível do futebol jogado no Brasil não é alto como na Europa, mas o nível deste Flamengo vai se destacando de seus pares. Isso é mérito, qualidade. E neste mérito e qualidade, Gerson desempenha um papel fundamental. Apesar da pouca idade, é um dos protagonistas do time. A polivalência não mudou tanto em relação às suas versões anteriores. O que mudou é que o camisa 8 é, hoje, um jogador melhor. E tudo leva a crer que será também assim amanhã.
*Nesta quarta-feira (25), o Flamengo de Gerson enfrenta o Internacional às 21h30, pela 21ª rodada do Campeonato Brasileiro.