O melhor jogo da Copa América terminou 0 a 0. Depois de uma primeira fase murcha, sem muito público ou momentos para recordar, a competição foi premiada com um duelo intenso, cheio de alternativas e emoção entre Colômbia e Chile. James x Vidal foi o duelo que o torneio precisava, mesmo sem merecer.
Questão de ordem: a vitória do Chile nos pênaltis não foi só um detalhe. À sua maneira, os dois brigaram ao longo de 90 minutos pra liderar seus times, seus torcedores, seus países, a uma vaga na semifinal. Vidal venceu esse duelo, eleito inclusive melhor da partida.
Quem esteve no estádio deve ter tido a impressão que encontraria o chileno até se fosse no banheiro da Arena Corinthians. Vidal esteve em todos os lugares do campo, mostrou a vitalidade que lhe é característica, com direito às tradicionais bordoadas nos rivais, e deu o ritmo do Chile.
Com Aranguiz de aliado número um, puxou as espetadas que o atual bicampeão da América deu em uma Colômbia que começou melhor, mais organizada. E Vidal, é sempre importante lembrar, não é só força. Teve toque de letra, lançamento cortando a defesa rival, chegada na área e até gol.
O chute de esquerda anulado pelo VAR foi um estouro. Vidal gritou, pulou e sorriu para comemorar, para no minuto seguinte mostrar a frustração de quem teve o doce roubado. Abaixou a cabeça, pôs as mãos no joelho e parecia incrédulo. Gesticular com o juiz não adiantava. Até James se aproximou para dar um tapinha nas costas.
É o jeito do colombiano, mais elegante, por assim dizer. James é o maestro de uma orquestra que parece propositalmente desafinada. A Colômbia se enrola para marcar, sai jogando errado e ninguém parece guardar posição. O camisa 10 entre eles. Volta para buscar o jogo, se aproxima das pontas, assume por vezes o posto de atacante...
E tudo com classe. Seus toques de cabeça no meio-campo, para os lados, para trás e para frente, ajudam a criar espaços para Cuadrado e Falcao, este último em jornada sofrível. Passes de primeira, cortes secos e curtos... Tudo devidamente “assinado”.
Como no caso de Vidal, não cabe confundir elegância com fraqueza. Os dois têm em comum, além do talento, o posto de capitão natural do time. Levaram cartões em jogadas muito parecidas, faltas duras no meio, e saíram igualmente dando bronca no juiz, como quem está prestes a expulsar o apitador.
Também não é acaso que ambos abram as cobranças de seus times. James com estilo, no cantinho. Vidal com força, no ângulo. O chileno recebe os companheiros no meio-campo após a cobrança de pênaltis. É líder de uma geração que ensinou um país a vencer. Duas vezes. Aconteceu de novo.
Como aconteceu de novo para a Colômbia eliminada nos pênaltis no segundo torneio seguido. James terminou as cobranças um passo atrás dos companheiros. Abatido, um ano depois de perder a reta final da campanha histórica da Colômbia na Rússia por conta de uma lesão.
Vidal vai seguir, encara Uruguai ou Peru em sua busca pela terceira Copa América seguida. James ficou pelo caminho, vai buscar mais um recomeço com essa Colômbia que parece estar a um passo de estar a um passo de ser grande. Mas os dois deixaram muito para essa Copa América. Mais do que ela merecia.