Não deve ser nada fácil ser hoje Jorge Jesus. Imagine você, reles mortal, ter de escolher entre o gigante Flamengo e o gigante Benfica. Escolher entre o belíssimo Rio de Janeiro e a belíssima Lisboa. Escolher entre um salário milionário no Brasil e um salário milionário em Portugal. Escolher entre uma estrutura que te deu tudo e uma estrutura que promete te dar tudo.
Não deve mesmo ser nada fácil ser Jorge Jesus. Pronto para dizer "sim" aos encarnados, onde foi o principal treinador nas últimas décadas e criou uma forte amizade com o presidente Luís Filipe Vieira, o português acompanha tudo do pedestal que muito fez por merecer para atingir.
Lá de cima, Jesus vê uma descabível e imbecil discussão entre flamenguistas e benfiquistas. No Brasil, rebaixam a história do Benfica, a crise política-sanitária do próprio país - que já matou mais de 75 mil pessoas - e, sobretudo, o peso que tem a família numa decisão tão delicada. Em Portugal, esquecem que o Flamengo tem atualmente o domínio da América do Sul e uma torcida que hipnotiza de tão apaixonante.
Enquanto há o debate de amenidades, deixamos de olhar aquilo que de fato precisa ser destacado: a herança que o português de 66 anos vai deixar. Xingamentos e provocações deveriam dar lugar a aplausos e agradecimentos - daqui e de lá. Recuperou a essência do futebol brasileiro, provando que é possível vencer e jogar bonito ao mesmo tempo, e evidenciou (ainda mais) o futebol português. De quebra, deu uma justa chacoalhada em diversos (acomodados) treinadores - daqui e também de lá.
Há Jorge Jesus para todos. Sem briga. O Brasil e o Flamengo tiraram proveito, talvez agora seja a hora de Portugal e Benfica aproveitarem novamente.