Independentemente do desfecho neste domingo (15), 11 de julho é um dia que estará marcado para sempre na eternidade da Croácia e nos corações e nas memórias de cada croata.
Foi a data da libertação. 20 anos depois de chegar às semifinais na França, o país, independente há apenas 23 anos, já está na primeira final de Copa do Mundo da sua história.
Em uma região marcada pelo nacionalismo, com cada povo muito identificado e com a sensação de pertencimento a cada nação, história, língua e cultura, Zlatko Dalic e seus comandados fizeram toda a área dos Bálcãs, aliás, milhões de pessoas por todo o mundo, se encantarem e torcerem pela Croácia.
O choro de alegria, a emoção indescritível, viver um momento épico que mais parece um sonho absurdo e impossível. O lance que fez um povo sentir um orgulho enorme de ser croata foi definido por Mario Mandzukic.
Aos três minutos do segundo tempo da prorrogação, a terceira seguida da Croácia, o enorme desgaste físico não fez diferença alguma. O matador aproveitou mais uma boa jogada de Ivan Perisic para tornar o sonho de seu país realidade.
O gol mais importante da história da Croácia e da carreira de Mandzukic fez toda uma nação acreditar viver uma ilusão. Em conversa com a reportagem, Ante Buskulic, jornalista da Goal Croácia, confessou: seu país não crê no que está vivendo.
Mas, acredite, o sonho poderia não ter virado realidade se cerca de 20 anos atrás, um treinador não tivesse feito Mandzukic mudar de ideia. Acontece que o então jovem Mario era terceiro zagueiro quando criança e se recusava a jogar como atacante. "Técnico, esta não é minha posição", teria dito o garoto, tentando convencer seu comandante a não colocá-lo no ataque.
Ainda bem que ele foi convencido a mudar de posição. O destino queria Mandzukic como um dos melhores atacantes do mundo e herói e símbolo da Croácia.
Símbolo não apenas pelo gol, mas pela vontade e pelo enorme orgulho demonstrado pelo matador a cada vez que veste a camisa croata.
Carregando dentro de si um pouco do jovem zagueiro Mario, Mandzukic não se limita a esperar a bola para balançar as redes, ele luta até o fim por todas as bolas, ajuda uma enormidade na marcação, se movimenta e abre espaços no ataque, cria jogadas, dá assistências para os companheiros e faz de tudo no setor ofensivo, jogando pelos lados do campo e também como referência.
O camisa 17 representa seu país e tem orgulho em fazer isso. Ele, afinal, nunca esqueceu suas origens.
Por conta da Guerra de Independência da Croácia, que durou quatro anos e matou cerca de 20 mil pessoas, a família de Mandzukic deixou o país, saindo de Slavonski Brod quando ele tinha apenas quatro anos de idade. Refugiado na Alemanha, o jovem atacante teve o modesto Ditzingen como seu primeiro clube, dois anos depois.
Com a independência croata e o fim da guerra, em 1995, ele voltou ao país com a família e começou a jogar no Marsonia no ano seguinte. O atacante se profissionalizou em 2004 e já foi bem logo em sua primeira temporada como profissional, marcando 17 gols na segunda divisão. Por esse motivo, o goleador até hoje usa o número 17.
Sim, Mandzukic não esquece suas origens nem mesmo no número de sua camisa.
E, desde então, ele não parou mais. Se destacando no Marsonia, ganhou uma chance no NK Zagreb e em seguida se transferiu para o gigante da Croácia, o Dinamo Zagreb. Depois brilhou no Wolfsburg, fez história no Bayern de Munique e passou pelo Atlético de Madrid, antes de se tornar peça importantíssima na Juventus.
No entanto, se ia ganhando um título atrás do outro em seus clubes, Mandzukic sofria com a sua seleção e por não dar orgulho ao seu povo.
Mesmo na geração de ouro da Croácia, ao lado de craques como Modric e Rakitic, o atacante não conseguia ajudar a Croácia a brilhar. Constantemente comparada ao time que chegou nas semifinais em 1998, a equipe decepcionou seguidas vezes.
Caiu na fase de grupos da Euro 2012 e da Copa do Mundo de 2014, e depois nas oitavas de final da Euro 2016. O camisa 17 até tinha bons números, mas não conseguia acrescentar uma grande campanha ao seu histórico nacional.
Isso, porém, finalmente mudou na Rússia. A geração de ouro enfim correspondeu, representou seu povo, sendo o retrato da luta e do orgulho croata, tendo Mandzukic como um de seus principais espelhos.
Atrás apenas de Davor Suker (45), o segundo maior artilheiro da história da Croácia (32 gols), autor do gol mais importante da história do país e símbolo de seu povo, agora quer transformar a realidade irreal em algo ainda mais absurdo.
Contra a França, ele quer vingar o único artilheiro croata na sua frente, eliminado pelos Bleus na semifinal em 1998, e fazer a Croácia ainda mais orgulhosa com um sonho inesquecível. Um sonho que não seria possível se aquele pequeno zagueiro não tivesse se tornado um grande atacante.