Antes de anunciar a contratação de Muriel, em julho de 2019, o Fluminense chegou a ver o nome do italiano Gianluigi Buffon ser especulado para a posição de goleiro. Na época o veterano havia acabado de sair do PSG, mas retornaria para a Juventus – onde está até hoje. O torcedor que chegou a ficar decepcionado, e depois desconfiado com a chegada de Muriel, posteriormente não teve motivos para reclamar: o arqueiro foi um dos grandes destaques do Tricolor no ano passado. Acontece que em 2020 a situação mudou drasticamente.
A eliminação na quarta fase da Copa do Brasil, com derrota por 3 a 1 para o Atlético Goianiense, deixou isso em evidência. Se antes, em 2019, Muriel passava tamanha confiança a ponto de fazer os torcedores mais bem-humorados dizerem que o guardião da meta tricolor era melhor que Alisson, seu irmão e titular de Liverpool e seleção brasileira, o bom-humor acabou de vez após duas falhas do camisa 27 no duelo contra os goianos.
No primeiro tempo, Muriel soltou a bola nos pés de Chico, que abriu o placar para os rubro-negros. O Fluminense, que tinha a vantagem do empate por causa da vitória por 1 a 0 na ida, chegou a igualar com o zagueiro Luccas Claro, mas o time continua sofrendo no ataque após a saída de Luciano, negociado com o Porto, e não conseguiu apresentar intensidade do meio para a frente. Na segunda etapa, o Atlético-GO foi em busca do resultado e amassou o time treinado por Odair Hellmann em seu campo: teve mais a bola e arriscou mais finalizações (nove no geral, quatro na direção do gol).
A equipe carioca tinha o resultado que lhe classificava na reta final do jogo, quando Janderson arriscou um chute forte que tomou a direção do meio do gol. Muriel, contudo, rebateu a bola para frente e Marlon Freitas recolocou o Dragão em vantagem. O terceiro gol, anotado por Matheus Vargas nos acréscimos e que valeu a classificação dos goianos para as oitavas de final, não teve falha de Muriel. Mas é difícil não relacionar o resultado adverso aos erros cometidos pelo goleiro de 33 anos. Especialmente pelo fato de não ter sido a primeira falha nesta temporada.
Em 2019, Muriel esteve no Top 5 dos goleiros que mais faziam defesas no Campeonato Brasileiro: segundo a Opta Sports, salvou 77.3% dos arremates feitos em sua direção, média inferior apenas às de Santos (Athletico-PR), Paulo Victor (Grêmio), Weverton (Palmeiras) e Thiago Volpi (São Paulo). Tanto a confiança que passava, quanto as defesas milagrosas naquela campanha, o fizeram vivenciar um dos momentos mais positivos de sua carreira.
Neste atípico 2020, entretanto, os erros de Muriel passaram a ser cada vez mais constantes: contra o Flamengo, na semifinal da Taça Guanabara, o goleiro falhou claramente em um gol e mostrou insegurança em outros lances no decorrer da partida; na goleada por 5 a 1 sobre o Madureira, levou um daqueles frangos clássicos e também não teve boa exibição contra o Volta Redonda. Tanto no Brasileirão quanto na Copa do Brasil, também não vinha passando a confiança de antes.
Depois de ensaiar uma idolatria no Fluminense, Muriel trocou o céu pelo inferno na meta tricolor. Mas como a vida de goleiro é, muitas vezes, feita de emoções exacerbadas, ainda há tempo de buscar uma recuperação. E ela terá que vir no Campeonato Brasileiro, único torneio que sobrou para a equipe das Laranjeiras.