Líder com folgas na Ligue 1 francesa, o Paris Saint-Germain entra em campo nesta terça-feira (12) contra o Manchester United para o que realmente importa: a Champions League, o troféu que é obsessão de todos e ainda mais de uma potência que busca entrar no grupo de gigantes do futebol europeu. Dentre as poucas certezas que se poder ter em um jogo como esses, a ausência de Neymar é a principal: o que discorre em uma série de dúvidas sobre aonde o brasileiro pode chegar.
Neymar completou recentemente 27 anos, uma idade que geralmente costuma representar a fase final para um atleta marcar definitivamente o seu nome na história. O famoso ‘ou vai ou racha’. E se a meta do camisa 10 do PSG é ser o melhor do mundo, a impressão hoje é de que este objetivo está cada vez mais longe. E vários motivos ajudam a explicar esse momento crucial na carreira do craque brasileiro.
O primeiro de todos, obviamente, é a sua lesão. Pelo segundo ano consecutivo, Neymar contundiu o osso do quinto metatarso do pé direito. O pisão recebido na partida contra o Strasbourg, na Copa da França, em 23 de janeiro, tirou de combate um jogador que vinha demonstrando recuperação técnica e de atitude em um PSG rejuvenescido desde a chegada do técnico alemão Thomas Tuchel. O camisa 10 vinha apresentando boas atuações e demonstrando sua qualidade seja na extremidade esquerda ou por dentro, como um autêntico camisa 10.
Essa recuperação citada não era de um outro problema físico, e sim na própria imagem deixada durante a Copa do Mundo de 2018. As quedas excessivas e com reações muitas vezes desnecessárias tornaram o nosso melhor jogador em piada mundial: crianças, adultos, idosos e até algumas corporações mundo afora popularizaram (ou viralizaram, na linguagem da internet) os deboches em relação a quedas fáceis e exageradas. Neymar chegou à Rússia como candidato a ser o melhor do mundo e saiu de lá talvez com a imagem mais negativa de um atleta no pós-Copa. Pior, ao fazer a sua explicação optou pelo caminho mais criticável pela opinião pública: um anúncio publicitário.
Não é a primeira vez que Neymar desfalca o PSG na competição para a qual ele foi contratado para ganhar há duas temporadas. Meses após chegar à capital francesa por históricos e até hoje inalcançáveis € 222 milhões, a sua primeira lesão no quinto metatarso lhe tirou da partida de volta das oitavas de final da Champions League contra o Real Madrid. Os espanhóis avançariam para vencer a competição pelo terceiro ano seguido. O último – e único - título de uma equipe francesa no maior certame de clubes europeus segue a ser o de 1993, do Olympique de Marseille.
O objetivo de ser o melhor jogador do mundo, seja através da Bola de Ouro ou pela FIFA, fez Neymar deixar o Barcelona, onde jogou o seu melhor futebol e conquistou a Champions League com gol marcado na final, para fugir da sombra de Messi – que desafia até reinados históricos no esporte. No PSG, seria tanto o dono do time que até confundiu um pouco as coisas com Edinson Cavani nos primeiros momentos. Mas até mesmo o protagonismo maior de sua equipe parece pender, hoje, para um outro lado: Kylian Mbappé foi sensação da França campeã mundial, encanta fora de campo pela sua simplicidade e já é tido por alguns como o símbolo maior no Parque dos Príncipes.
24 de enero de 2019
Se o PSG avançar contra o Manchester United, pelas oitavas de final, a tendência é que Mbappé apareça como herói: pela sua qualidade, poder decisivo e pelo fato de a equipe se ver privada de Neymar e Cavani, ambos lesionados. Um ganho para o time, uma perda para o sonho de protagonismo absoluto tido pelo brasileiro apenas com a camisa do Santos. Dependendo da caminhada feita pelos comandados de Thomas Tuchel, existe até a chance do camisa 10 voltar em uma fase ainda mais avançada desta Champions League, embora seja difícil imaginar uma recuperação tão rápida.
Neymar conquistou quase tudo que um jogador coletivamente pode sonhar, mas o ponto aqui é a vontade de ser o melhor do mundo. A última vez que um brasileiro conseguiu isso foi em 2007, com Kaká. Antes dele, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo: os três alcançaram este feito com menos de 27 anos. Rivaldo tinha a idade de Neymar quando recebeu a honraria em 1999. O exemplo mais antigo de um conterrâneo situado no topo do planeta bola que pode servir de inspiração para o futebolista mais caro da história é Romário. O Baixinho tinha 27 quando trocou o PSV para fazer uma inesquecível única temporada pelo Barcelona e depois conduziu o Brasil ao título mundial de 1994. Quando foi eleito o maior craque do ano, tinha 28 primaveras completadas.
Ele era o craque do Brasil na Copa de 2014 e uma lesão o tirou do torneio. Em dois anos seguidos, uma mesma contusão lhe tirou a oportunidade para brilhar no palco onde deveria e só não atrapalhou mais o seu Mundial de 2018 do que a própria postura. Neymar é craque, tem habilidade para estar no topo... mas o relógio gira com rigor cada vez maior, desafiando o sonho do menino aparentemente nascido para ser protagonista.
Outros craques aos 27 anos
Cristiano Ronaldo
Estava em sua terceira temporada no Real Madrid. O português já havia sido eleito melhor do mundo antes, em 2008, e conquistado um título europeu pelo Manchester United.
Lionel Messi
Já tinha três Bolas de Ouro e um prêmio de melhor do mundo da FIFA. Já era tri da Champions - embora sem grande participação no primeiro deles, foi o gigante nos outros.
Kaká
Fazia a sua última temporada no Milan antes de ser contratado pelo Real Madrid. De certa forma, fazia o último grande ano de sua carreira. Já havia sido eleito melhor jogador do mundo, herói e protagonista de uma conquista de Champions League.
Ronaldinho Gaúcho
Já era uma lenda na Europa. Estava na temporada 2006-07, e na anterior havia feito o melhor ano de sua carreira - alguns já ensaiavam até uma comparação com Pelé. Já tinha sido eleito pela FIFA duas vezes o melhor do mundo e teve uma Bola de Ouro.
Ronaldo Fenômeno
Aos 27 anos já havia passado pelo inferno e atingido o céu. Havia estourado em uma única temporada espetacular pelo Barcelona e virado o ‘Fenômeno’ na Inter. Era referência máxima em sua posição, uma estrela mundial. Havia sido vice-campeão mundial em 1998, feito a jornada do herói no título de 2002 e colecionado troféus importantes. Já tinha duas Bolas de Ouro e três prêmios de melhor do mundo da FIFA.
Rivaldo
Aos 27 anos era a referência maior do Barcelona, onde fazia a sua segunda temporada. Já tinha um vice-mundial, uma Copa América e um título de Copa do Mundo. Dois títulos espanhóis e uma Copa do Rei. Individualmente, seria eleito melhor jogador do mundo pela FIFA e Bola de Ouro exatamente na temporada em que completou 27 anos.
Romário
Talvez a maior inspiração atual, uma vez que aos 27 anos Romário fazia a sua última temporada espetacular pelo PSV. O auge de Romário, em uma época já um pouco mais distante, começou a ser escrito nos anos seguintes: pelo Barcelona e especialmente pela Seleção Brasileira.