Em meio à situação tensa envolvendo o nome de Neymar, desde o soco dado em um torcedor do Rennes até a acusação de estupro, Tite não arredou da postura de proteger o seu elenco de jogadores. E fez isso também por saber a importância de conseguir um bom resultado nesta Copa América de 2019. Conforme o próprio disse em uma das entrevistas coletivas na qual falou sobre o fator extracampo de seu camisa 10, “a seleção está acima de todos nós”. E com Neymar apto, os resultados foram muito melhores na comparação com o período em que ele foi desfalque. É o que mais preocupa agora que o seu corte foi confirmado.
Podemos citar aqui o 7 a 1 ou as ausências em jogo decisivo na Copa América de 2015, por suspensão, além da não-participação no certame continental realizado em 2016 [já que preferiu jogar a Olimpíada no Rio de Janeiro, realizada naquele ano] para exemplificar o peso deste desfalque. Mas já que estamos falando sobre o Brasil comandado por Tite, que bateu bastante no argumento da importância de Neymar para que a seleção tenha mais chances de conquistar seus objetivos, o próprio retrospecto da equipe com e sem Neymar deixam claro que há motivos de preocupação.
Neymar fez, de pênalti, o primeiro gol do Brasil comandado por Tite e deu assistência para Gabriel Jesus balançar as redes pela segunda vez na vitória por 3 a 0 sobre o Equador, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2018. Naquele momento, após seis rodadas a seleção canarinho estava fora da zona de classificação para o torneio que viria a ser realizado na Rússia. A chegada de Tite mudou isso, e o camisa 10 foi decisivo para tal: foi desfalque apenas contra a Venezuela e ajudou a garantir a vaga com participação direta em 14 dos 30 gols marcados pelo time de Tite nas Eliminatórias: foram oito assistências e seis tentos. Quase metade do total.
Considerando todas as partidas da ‘Era Tite’, até mesmo os amistosos, o retrospecto com e sem Neymar não chega a ser tão preocupante em números isolados: foi desfalque sete vezes e o Brasil sofreu apenas uma derrota, em amistoso contra a Argentina, justamente a única de Tite antes da eliminação para a Bélgica na Copa do Mundo. Mas preocupa por tudo o que o jogador entrega dentro de campo. Na artilharia são os mesmos 14 tentos de Gabriel Jesus, mas dois deles foram em torneios [Eliminatórias e dois no Mundial] e não amistosos. Mas o número que salta aos olhos é ver o quanto o time pode perder na hora do passe final: foram 15 assistências, quase o dobro em relação ao vice-líder no quesito [Willian, não convocado para a Copa América] e o triplo em relação a Gabriel Jesus e Philippe Coutinho.
6 de junho de 2019
Ainda sem saber quem será o substituto de Neymar, cortado após romper os ligamentos do tornozelo no amistoso contra o Qatar, o elenco para a disputa da Copa América dispõe de quatro nomes na busca para assumir esta responsabilidade na criação: Philippe Coutinho, Gabriel Jesus, Roberto Firmino e David Neres.
Coutinho e Jesus, como já foi citado, são os jogadores convocados com o maior número de assistências na seleção exceção feita a Neymar [5 cada um]. O primeiro, entretanto, fez uma fraca temporada no Barcelona; o segundo foi mais reserva no City e ainda assim conseguiu dar dois passes a gol a mais, embora o que se espere dele sejam gols, definição. Tudo o que não aconteceu na Copa do Mundo da qual também saiu criticado. Firmino flertou muito com o papel de armador no Liverpool campeão da Champions League, dando as mesmas 7 assistências na temporada europeia que Gabriel Jesus. David Neres aparece por último, com somente um passe para gol neste seu início sob o comando de Tite na seleção, mas com dez somados ao longo da temporada pelo Ajax.
Coutinho, Firmino, Jesus e Neres são bons nomes. Mas na seleção ainda não demonstraram que decidem como Neymar - desde 2010, ninguém o fez. Tite acertou ao dizer que, em campo, Neymar é “imprescindível” em sua equipe, mas nesta Copa América terá que mostrar por que o camisa 10 não é “insubstituível” na hora de trazer resultados.