Quando Thiago Galhardo foi anunciado como reforço do Internacional para 2020, o torcedor colorado não chegou a ficar com uma expectativa das mais altas: se as reações não chegaram a ser negativas, poucos imaginariam que o meia chegava para ser titular e um dos melhores do time comandado por Eduardo Coudet. Mas é exatamente isso que está acontecendo nesta temporada 2020.
Até vestir a camisa vermelha do Rio Grande do Sul, a imagem de Galhardo era a de um dos tantos ciganos da bola que alternam alguns lances de brilho com outros vários jogos apagados. Aos 31 anos, o Internacional era o seu 16º clube. Teve inúmeras passagens pelo Bangu, onde foi revelado, não engrenou quando o Botafogo apostou em seu talento e rodou entre clubes menores até alternar momentos bons e ruins em um Vasco que também seguia este mesmo ciclo.
Quando deixou o Cruz-maltino, no início de 2019, a impressão era de que uma curva descendente esperava pelo meia: foi afastado por causa de problemas de relacionamento com a direção da equipe carioca – em meio a polêmicas de salários atrasados – e acabou acertando com o Ceará. Galhardo agarrou com força a oportunidade no Vozão e viveu a temporada mais goleadora de sua carreira: em 34 jogos marcou 12 gols, muitos deles em jogos grandes (balançou as redes de Botafogo, Flamengo, Inter, Corinthians, Atlético-MG e no clássico contra o Fortaleza por exemplo).
Neste 2020 com o Inter, Galhardo se coloca como uma das principais surpresas. Atuando mais como um segundo atacante, circulando no entorno de Paolo Guerrero, a função mais próxima do gol vem apresentando a melhor versão do jogador em sua carreira.
Um retrato disso pôde ser visto na goleada por 4 a 0 sobre o Esportivo, neste domingo (02), que levou o Internacional à final do segundo turno do Campeonato Gaúcho. O gol e assistência são argumentos, mas chama a atenção ter sido titular na vaga que muitos imaginariam ser apenas de Andrés D’Alessandro.
Pois justamente na temporada em que o argentino, um dos maiores da história colorada, ainda não decidiu se, aos 39 anos, segue como atleta ou pendura as chuteiras ao término da campanha, Galhardo vem se mostrando uma boa opção para substituir D’Alessandro no esquema de jogo proposto por Coudet – que vinha escalando o camisa 10 como atacante ao lado de Guerrero. O brasileiro, aliás, hoje é até uma alternativa melhor dentro do desenho tático da equipe.
Quando abriu o placar, de cabeça, contra o Esportivo, Galhardo deu mostras de sua presença na área. E ao servir Paolo Guerrero, deixando o placar em 3 a 0, demonstrou a sua utilidade no último passe e na entrega defensiva: foi ele quem recuperou a bola antes de dar a assistência para o peruano. Intensidade aliada à entrega e qualidade.
Em 15 jogos, Galhardo marcou cinco gols. E ainda que três deles tenham sido através de cobranças de pênaltis, as quatro assistências deixam sua importância além de qualquer dúvida para o Inter de Coudet: 30% dos tentos marcados pelos gaúchos nesta temporada são responsabilidade direta de Thiago - que vai cavando cada vez mais seu status como titular.
A contrapartida de que os campeonatos estaduais não são o melhor parâmetro é válida, ainda que uma de suas assistências tenha acontecido contra a Universidad Católica, pela Libertadores. É por isso que o grande desafio para Thiago Galhardo seguir calando seus críticos é manter esta regularidade. Se conseguir, o meia que virou atacante enfim encontrará, no Inter, um clube para chamar de seu após anos rodando em clubes Brasil afora.