Lionel Messi nem olhou para os repórteres. O capitão do Barcelona, o maior jogador do mundo, parecia não acreditar quando passou reto por todos na zona mista de Anfield. Nenhuma pergunta, nenhuma palavra ou contato visual. E dá para culpá-lo?
Este deveria ser o ano de Messi, o ano em que ele leva o time de volta ao topo da Europa. Quatro anos sem uma final de Champions League é muita coisa para um clube como o Barcelona, para um jogador como Messi. Esse tinha que ser o ano, ele prometeu que seria.
Pela primeira vez, porém, Messi perdeu seus poderes. Ele não contava com Anfield e seus próprios poderes inexplicáveis. Ele não contou com o Liverpool e sua coleção de heróis que aumenta a cada dia. Ele não contou com Divock Origi, o improvável jogador que marcou o gol da classificação.
Os dois gols do belga, somados a mais dois de Gini Wijnaldum, mandaram o Liverpool à final da maneira mais surpreendente possível. Eles estarão em Madrid no mês que vem enfrentando Ajax ou Tottenham. O Liverpool é agora o favorito. Quem teria imaginado isso há uma semana? Quem teria imaginado que seria Origi o responsável por levá-los lá?
Há um ano, Origi estava na Alemanha lutando contra o rebaixamento com o Wolfsburg. Ele marcou nove gols na Alemanha e suas performances raramente foram mais do que medianas. Ele quase foi vendido ao Wolverhampton no começo da temporada, mas não aprovou o negócio, então começou o ano no time sub-23 do Liverpool, onde pouco impressionou também.
Veja ele agora. Herói do momento. Gol da vitória no dérbi, salvador do jogo contra o Newcastle, estrela da semifinal da Champions League. Futebol é um jogo engraçado.
A história de Origi é incrível, um caso de perseverança e circunstância, de sorte e de alguém que acreditou em si mesmo. Como muitos nesse time do Liverpool, o jogador de 24 anos foi alvo de críticas e dúvidas. E aqui está ele, ainda lutando e marcando gols.
Este foi apenas a sexta vez que ele foi titular na temporada, uma medida de emergência após as lesões de Roberto Firmino, Mohamed Salah e Naby Keita. Origi, como Xherdan Shaqiri, nunca poderiam esperar começar um jogo tão importante, e quando uma chance dessa aparece você precisa aproveitar.
Ele tem agora seis gols no ano. Só Salah, Firmino, Sadio Mané e James Milner têm mais. Origi acabou com o Everton em dezembro, manteve as esperanças vivas na Premier League com um gol em St. James Park no último domingo e agora finalizou o Barcelona. Ele é um coadjuvante que foi jogado no papel principal.
Origi é popular em Liverpool. Ele sabe tocar piano e usa seu tempo livre assistindo documentários e aprendendo novas línguas. Ele idolatra Thierry Henry e Karim Benzema, entre outros, e pode passar horas vendo vídeos de atacantes, suas arrancadas e finalizações. Internamente, o Liverpool o encoraja a ser mais ele mesmo ao invés de assistir outros jogarem.
Ele pode acreditar nele mesmo agora. Agora ele tem a chance de imitar seus heróis ao conquistar o maior prêmio do futebol europeu. Claro que Origi não deve começar a final, Firmino e Salah devem estar de volta, mas se o Liverpool precisar dele, ele estará pronto.
Afinal, se você consegue ofuscar Messi em um jogo assim, você pode tudo.