Palmeiras é Deca ou Hexa? Entenda a polêmica

O Palmeiras conquistou o Brasileirão de 2018 e comemorou com duas mãos abertas. Mas se não houve grandes polêmicas dentro de campo, o título alviverde levanta uma grande discussão no futebol brasileiro.
A polêmica é referente à unificação dos títulos brasileiros pela CBF, ratificada, em dezembro de 2010, que deu à Taça Brasil [disputada entre 1959 e 1968] e ao ‘Robertão’ de 1967 [quando passou, também, a contar com participações de clubes que não eram apenas do eixo Rio-São Paulo] até 1970 peso equivalente ao do Campeonato Brasileiro.
Embora seja uma questão complicada, confusa para alguns, pode ser considerada como válida e justa. Até porque se alguns sabem o valor representado pela Taça Brasil ou Robertão, outros não fazem ideia do que eram tais campeonatos. Ou seja: para boa parte da nova geração, eles não tinham valor nenhum. Um erro na manutenção do legado esportivo brasileiro. Abaixo, alguns pontos importantes.
O INÍCIO DE TUDO Taça Brasil de 1959 definiu o participante na 1ª Taça Libertadores
O Brasil, como um país de dimensões continentais, só começou a avaliar a possibilidade de criar um torneio para apontar um campeão nacional em 1955. Precursora da CBF, a CBD precisava ter o seu representante para a Taça Libertadores de 1960.
Com isso, o ano de 1959 teve o primeiro campeão brasileiro e, de quebra, que representou o país campeão do mundo na edição inaugural da Libertadores. O Atlético Mineiro é gigante, mas o primeiro campeão brasileiro foi um espetacular Bahia, que após três partidas finais emocionantes bateu o Santos de Pelé. Vale lembrar que, ao contrário da Copa do Brasil, este torneio foi criado para ser o máximo título nacional.
Em 1967, o torneio Rio-São Paulo [oficialmente batizado como Roberto Gomes Pedrosa, apelidado como Robertão] passou a contar com equipes de outros estados do Brasil. Afinal de contas, um ano antes o Cruzeiro de Tostão, Dirceu Lopes e Natal havia mostrado, mais uma vez, que o bom futebol não se restringia às localidades paulistas e cariocas. O Robertão foi o embrião da fórmula que seria adotada a partir de 1971.
POUCOS JOGOS? NEM TANTO... Jogadores do Cruzeiro desfilam com a taça histórica de 1966
Dentre os argumentos usados por quem não concorda com a unificação dos títulos brasileiros, está o número de participantes e de partidas. Mas, por exemplo, a primeira edição da Taça Brasil teve o mesmo número de equipes da Copa União de 1987: 16.
Tudo bem que os times de Rio e São Paulo tinham o privilégio de entrarem já nas fases mais agudas, o que era apenas um reflexo de como o nosso futebol era tratado na época. Até a sua última edição, em 1968, a Taça Brasil chegou a contar com até 22 participantes: todos clubes campeões de seus estados, ou detentores do título anterior.
O raciocínio de legitimação é simples: se um time é campeão estadual, é o melhor daquele estado; se os melhores de cada estado se enfrentam, o que prevalecer é o campeão do Brasil – na Copa dos Campeões da Europa, antiga Champions League, o raciocínio era basicamente o mesmo, mas com clubes campeões nacionais. Já o Robertão foi se aproximando do modelo que entraria em vigência em 1971.
DOIS CAMPEÕES EM UM MESMO ANO Em 2000, Boca e o Corinthians foram campeões mundiais
O futebol, assim como a maioria dos esportes de massa, é um espelho de sua sociedade. E o Brasil, convenhamos, é cheio de inconsistências, injustiças e confusões. Por isso, dois campeões nacionais em um mesmo ano não é nada além do reflexo de um país desorganizado em todos os campos – e há décadas! O Flamengo, por exemplo, comemora o tricampeonato estadual 1978, 1979, 1979; em 2000, o Corinthians foi campeão mundial pela Fifa e o Boca Juniors levantou a Intercontinental.
Em 1967, o Palmeiras conquistou tanto o Robertão quanto a Taça Brasil e, na temporada seguinte, Santos e Botafogo foram os respectivos detentores dos troféus. É estranho, é confuso, não é o ideal... mas é a cara do Brasil.
Algumas pessoas se esquecem, ou não sabem, mas o Brasileirão desde 1971 não teve apenas infinitas mudanças em sua fórmula e número de participantes, como também seis nomes distintos. Campeonato Nacional de Clubes (1971 a 1974), Copa Brasil (1975 a 1979 e, depois, 1984, 1986 e 1987 – módulo amarelo), Taça de Ouro (1980 a 1983 e, depois, 1985), Copa União (1987 e 1988), Copa João Havelange (2000) e, enfim, Campeonato Brasileiro (1989 até hoje, exceção a 2000).
DIVISÃO CLUBISTA? Em 2016, o palmeirense comemorou o 'ênea'.
A discussão é sempre válida, mas a impressão que se tinha com a falta de aceitação com a unificação era pela ausência de títulos ou participações [lembrando que na Taça Brasil somente os campeões estaduais entravam] de alguns dos principais clubes do Brasil.
Corinthians e Flamengo, as duas maiores torcidas do país, não tiveram conquistas nacionais entre 1959 e 1968. Além disso, na contagem geral ainda ‘perderiam’ a liderança na corrida pelo número de troféus. O Rubro-Negro, por exemplo, foi 'obrigado' a ver Santos e Palmeiras o superarem em número de troféus do Brasileirão quando a CBF deu a canetada em 2010. Já o Timão seria o maior vencedor atualmente... mas com a unificação perde - temporariamente - este privilégio.
MUNDIAL AJUDA A ENTENDER Jogando 'história no lixo', FIFA acha que 2000 foi o 1º Mundial
Em 2016, quando a FIFA cometeu o erro de desconsiderar a Copa Intercontinental um Mundial de Clubes, muita gente, com razão, protestou. Alguns dos contrariados, porém, não viram que muitos dos seus argumentos são basicamente iguais aos que validaram a unificação dos títulos brasileiros.
No passado, o campeão mundial era definido apenas em um jogo. Hoje, de fato, o certame tem maior caráter planetário, com equipes de todos os continentes. Mesmo assim, times dos centros principais do futebol mundial [Europa e América do Sul] ainda contam com lugares privilegiados e entram apenas na semifinal.
A UNIFICAÇÃO É VÁLIDA!
O Bahia foi o primeiro campeão Brasileiro reconhecido pela CBF, em 1959. Depois, foi bicampeão em 1988.
Apesar de confusa, não fique surpreso ao ler que a primeira participação do seu time em campeonatos brasileiros ocorreu antes de 1971. O campeão do país é decidido desde 1959, e todo um histórico de números e estatísticas precisam (e devem!) cada vez mais ser revisto.
Portanto, o torcedor do Palmeiras tem toda a razão quando, cheio de orgulho, espalma as mãos para comemorar o Deca.