O Palmeiras deixou o seu estádio aliviado na última quarta-feira (17), depois de conseguir, nos acréscimos, uma suada vitória por 1 a 0 sobre a Chapecoense, lanterninha neste Brasileirão. O resultado manteve a diferença em relação ao Flamengo, líder após 26 rodadas, em oito pontos.
A queda drástica de resultados no segundo semestre decretou a demissão de Luiz Felipe Scolari, curiosamente logo após uma derrota categórica para o Flamengo, e a chegada de Mano Menezes. O novo treinador já faz a sua equipe ter mais a bola, porém continua sofrendo quando enfrenta times mais fechados, como foi o caso da Chape.
Mas apesar do desempenho palmeirense seguir sob crítica, uma realidade que também se fazia presente nos títulos de 2018 e 2016, os resultados não são piores do que aquelas campanhas que terminariam em conquista. Na verdade, os 53 pontos somados pelo Palmeiras 2019 são maiores do que os times de 2016 (51 pts) e 2018 (50 pts) haviam feito após 26 rodadas.
A campanha melhor em relação à de seus últimos dois títulos brasileiros só reflete o óbvio: o Flamengo está em um nível acima. Nenhum time conseguiu pontuar, após 26 jogos no Brasileirão, mais do que os 61 pontos do Flamengo. O próprio Mano Menezes reconheceu esta realidade, após vitória sobre o Botafogo na 25ª rodada.
“O líder está fora da curva. E se ele está fora da curva, quer dizer que ele está fazendo algo diferente dos demais”, afirmou na ocasião.
Autor do gol que garantiu a vitória sobre a Chapecoense, Felipe Melo classificou como “sonho” as chances de conseguir, nas últimas 12 rodadas restantes, ultrapassar o Flamengo. Dudu, cérebro do time, também falou sobre o desempenho do Rubro-Negro. Uma mistura de resignação, pelo que os cariocas estão fazendo, com a combatividade que segue demonstrando em campo.
O Palmeiras não depende mais de si para defender o título brasileiro. Precisa, além de vencer as suas partidas, secar o Flamengo. Mas se fazer o que lhe garantiu sucessos recentemente não basta mais, é necessário encontrar uma forma de elevar o próprio nível.
A missão é difícil pensando nesta campanha atual, com o torneio entrando em sua reta final e com pouco mais de dois meses de disputa. Mas pede reflexão: como o Palmeiras pode subir ao nível de futebol que só o Flamengo tem hoje?
Em primeiro lugar, assumir que seu atual elenco e a capacidade de investimento que dispõe precisa entregar um jogo mais ofensivo, de maior agressão ao adversário. É algo que Mano Menezes já vem tentando, embora tenha fracassado ao tentar fazer o mesmo no Cruzeiro, e apesar de o tempo agora jogar contra.
Dudu, muitas vezes, passa a impressão de jogar "sozinho" no Palmeiras
Mas acima de tudo é preciso que todos os jogadores elevem o próprio nível atual, ao mesmo tempo em que compreendam o valor maior da equipe sobre o individual. Esta tem sido uma marca no Flamengo de Jorge Jesus, onde todos os principais jogadores já provaram, com atuações marcantes ou no somatório deste Brasileirão, que subiram o próprio sarrafo de atuação.
O Palmeiras ainda tem uma defesa melhor em relação ao Flamengo (sofreu 20 gols contra 22 dos rubro-negros), mas está longe de ser tão constante no ataque quanto os líderes. Individualmente, Dudu vai conseguindo manter a média do que fez em 2018, quando foi eleito craque daquele Brasileirão: contribui diretamente com gols em 0,62 das partidas nesta temporada, quase igual, ainda que abaixo aos 0,67 do ano anterior. É o atual líder de assistências do torneio (9).
O melhor do time pode até não ter melhorado, mas ao menos não piorou. Deyverson e Borja continuam deixando a desejar, enquanto boas peças como Gustavo Scarpa e Lucas Lima seguem irregulares ao passo em que Willian Bigode só voltou de lesão recentemente. Se Dudu não funcionar, a tendência é que o Palmeiras encontre ainda mais dificuldades para garantir uma vitória. Já o Flamengo consegue ter uma alternância de protagonismos mesmo com as ausências de nomes como Arrascaeta ou Gabigol.
O Palmeiras só garante o título de 2019 se tiver sorte e um desempenho incrível. A luta segue, mas já dá para imaginar a necessidade de pensar em como o time poderá subir de nível em 2020: tanto no individual quanto no conjunto, mas sobretudo na mentalidade.