A rivalidade entre Palmeiras e Flamengo tem crescido nestes últimos anos em que alviverdes e rubro-negros se colocaram como principais potências do futebol brasileiro - e maiores postulantes aos grandes títulos. Mas é fora de campo, neste Brasileirão 2020 realizado dentro do cenário da pandemia de Covid-19, que a animosidade entre os lados saiu da mera provocação para ganhar contornos jurídicos que podem até paralisar toda a disputa do Campeonato Brasileiro.
Neste sábado (26), uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro (TRT-RJ) fez com que o jogo entre Palmeiras e Flamengo, marcado para este domingo (27), fosse suspenso em decorrência da explosão de casos de Covid-19 entre jogadores, dirigentes e comissão técnica da equipe carioca. O lado alviverde se mostra, desde que a discussão começou, contrário ao adiamento e, neste caso, tem o apoio da CBF.
Por que a CBF insiste pela realização da partida?
A principal entidade do futebol brasileiro garante que o protocolo feito com o objetivo de tornar viável a disputa do Brasileirão é seguro e, segundo matéria publicada pelo UOL, garante que o Flamengo desrespeitou este mesmo protocolo antes de ter jogadores e outras pessoas contaminadas pelo novo coronavírus. É por isso que a CBF insiste na realização do confronto na data combinada – e promete lutar até o fim para tal.
Apesar da discussão sobre se o futebol deveria ou não ter voltado em meio a maior crise sanitária de nossas vidas, a CBF tem consigo alguns argumentos que embasam o seu lado. Na rodada de abertura do Campeonato Brasileiro, o duelo entre Goiás e São Paulo foi suspenso em cima da hora depois que 10 jogadores da equipe esmeraldina foram diagnosticados com o coronavírus. A entidade, contudo, acreditava que a contaminação diminuiria gradualmente nas rodadas seguintes e, de fato, foi o que aconteceu.
Em sua coluna escrita para a Folha de São Paulo, o jornalista Paulo Vinícius Coelho, o PVC, lembra desta situação envolvendo o Goiás x São Paulo e cita que até semanas atrás as discussões sobre atletas diagnosticados com a Covid-19 eram até mais raras do que as habituais resenhas do nosso futebol – qual time está melhor, qual está pior e qual treinador está mais perto de aumentar a extensa lista de demissão. Ou seja: em meio ao novo normal já começava até a haver um clima de normalidade para com o espetáculo.
Os casos de infectados no Brasileirão diminuíram, mas aí vieram os jogos da Libertadores e as viagens continente afora para trazer de volta, com uma força gigantesca, as contaminações em atletas, treinadores e dirigentes. O Flamengo, que visivelmente relaxou em meio ao protocolo – levando ao Equador uma grande quantidade de dirigentes, além das fotos que mostraram jogadores aglomerados sem os devidos cuidados – virou o epicentro esportivo de contaminação pela Covid-19. E aí o clube que mais insistiu pela volta do futebol durante a pandemia começou a fazer de tudo para adiar o jogo contra o Palmeiras, uma vez que não teria condições de ter a maior parte de seus principais jogadores.
Para reverter a decisão de suspensão da partida, a CBF, ainda de acordo com a já citada matéria do UOL, entregou ao TRT-RJ um relatório feito por sua Comissão Médica Especial que aponta como o Flamengo desrespeitou o protocolo sanitário durante sua viagem ao Equador – onde enfrentou Independiente Del Valle e Barcelona de Guayaquil. A polêmica foto dos jogadores rubro-negros aglomerados, que acabou resultando na demissão da pessoa que publicou a imagem (apesar de horas antes o presidente flamenguista, Rodolfo Landim, ter dito que era só “prender a respiração” antes de tirar fotos sem máscaras) foi anexada a este documento.
Brasileirão pode parar? Flamengo desclassificado?
Toda esta situação acaba levantando um enorme clima de incertezas. Não apenas sobre a realização deste Palmeiras x Flamengo, mas em relação a todo o Campeonato Brasileiro. Ainda neste sábado (26), o presidente alviverde, Mauricio Galiotte, defendeu a paralização do certame caso o protocolo pré-determinado não seja cumprido. Ou seja: se o jogo contra o Rubro-Negro não acontecer neste domingo (27).
Afinal de contas, se o duelo não acontecer neste domingo é também porque o clube carioca, segundo defendido pela CBF, desrespeitou este mesmo protocolo que embasou o retorno do futebol – que foi tão defendido pelo próprio Flamengo anterioremente.
Não é só a continuidade do Brasileirão 2020 que fica em cheque. O artigo 231 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva possui uma cláusula que ainda levanta a possibilidade de exclusão do Flamengo do Campeonato Brasileiro. Segundo publicado no jornal O Globo, este artigo está inserido na discussão sobre ações na Justiça Comum antes de serem esgotadas todas as possibilidades na Justiça Desportiva, com o eventual clube beneficiado (neste caso, o Flamengo) correndo o risco até de ser eliminado da competição.
O artigo diz o seguinte: Art. 231. Pleitear, antes de esgotadas todas as instâncias da Justiça Desportiva, matéria referente à disciplina e competições perante o Poder Judiciário, ou beneficiar-se de medidas obtidas pelos mesmos meios por terceiro.
Em meio a toda esta discussão, cada lado só pensa em não perder. A coerência se esfarela em meio à completa desunião e falta de organização geral para lidar, em primeiro lugar, com a questão de saúde antes de pensar em qualquer possibilidade de fazer uma bola rolar. O esporte, que é para ser exemplo positivo, vem sendo um exemplo negativo na forma como lida com a pandemia no Brasil.
A realização ou não deste Palmeiras x Flamengo vai muito além da polêmica entre as duas principais forças do futebol nacional hoje: deixa em aberto até mesmo o futuro do torneio.