Marcar belos gols foi rotina na vida de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. No entanto, nesta semana, em Resende, no Rio de Janeiro, o maior jogador da história do futebol mundial voltou a "balançar as redes", mas desta vez fora de campo. Ele inaugurou o Centro de Excelência de Futebol, a Academia Pelé, no interior do estado, com o intuito de captar novos atletas e também desenvolver cidadãos. Educação, formação e cidadania são os pilares que sustentam a iniciativa.
A expectativa pela chegada do craque era grande, na Pelé Academy, inúmeras crianças e adultos se aglomeraram para receber o rei do futebol, que mesmo um pouco debilitado, não poupou esforços para compartilhar alguns momentos com os presentes no evento. Ele foi recebido ao som da Orquestra de Cordas da Educação de Resende, composta por 28 criaças. Em seguida, 20 outras crianças do Coral do Colégio Municipal Getúlio Vargas se apresentaram ao Rei.
Os olhos do rei brilharam e se emocionaram com o carinho da criançada e no final das apresentações, ele foi contemplado com a inauguração de uma estátua feita em sua homenagem. Além disso, 1.283 mudas de várias espécies, exatamente o número de gols que o Rei marcou na carreira, foram plantadas ao redor dos campos, área nomeada como Bosque de Gols.
"Eu já falava lá em 1969, quando marquei o milésimo gol, que a gente precisava olhar pelas crianças, e elas precisam continuar sonhando para chegarem a ser o que desejam ser. Recebi essas homenagens aqui hoje, e vocês sabem que sou chorão, que me emociono mesmo. E olha que elas nem me viram jogar e, mesmo assim, consigo receber todo esse carinho. Espero que esse projeto possa ajudar a desenvolver muitas e muitas crianças",
"É uma responsabilidade muito grande ter meu nome ligado à uma cidade. Resende abriu as portas e é com muito orgulho que eu posso apresentar esse Centro de Excelência do Futebol, principalmente para preparar as crianças para serem grandes homens, grandes pessoas. Educação e esporte têm que andar juntos para criarmos cidadãos. Essa é a grande importância do projeto", completou Pelé.
Aos 78 anos de idade, Pelé não escondeu que agora sofre com as marcas do futebol, mas se mostrou feliz por sentir o peso da profissão apenas agora, "Eu joguei 25 anos, no Santos, na Seleção Brasileira, mais 5 anos no Kosmos e Deus só mandou a conta agora".
Simpático e bem-humorado, o rei também deixou uma mensagem para as crianças que desejam alcançar o êxito no futebol.
"Para ser uma criança igual ao Pele não dá mais, o meu pai e minha mãe já fecharam a casa, então não vai dar. MAs eu acho que é a disciplina que eu aprendi com meu pai, que foi jogador também. Disciplina e não achar nunca que é o melhor jogador, que já é o bom, isso ele sempre dizia. Você sempre tem que jogar, tem que melhorar e isso eu procurei fazer, nunca achar que é o bom, sempre achar que tem que melhorar. É isso que eu passo para as crianças que querem ser grandes jogadores, tem que sempre trabalhar".
Ele também revelou uma curiosidade, foi seu amigo Beckenbauer quem o ensinou a falar inglês. Vale lembrar que o craque vestiu a camisa do Cosmos, nos Estados Unidos, antes de encerrar a carreira e teve o jogador alemão como parceiro.
"Você quer saber de uma coisa, eu não falava alemão e eu aprendi algumas palavras, e o Beckenbauer brincava comigo, ele já falava inglês e uma das coisas boas que eu aprendi com ele foi falar inglês. Se eu falo mal é por causa dele".
Por fim, o rei deixou uma mensagem e pediu mais coletividade no futebol. Ele lembrou que apesar de ter marcado mais de mil gols, não atuava sozinho.
"Eu faço gol, mas sou número 10. Eu acho que quando a gente fala de fazer gols, os atacantes são quem mais aparecem é bom. No meu caso, eu tive a oportunidade de fazer muitos gols, mas eu não fazia o gol sozinho, se não tivesse um bom goleiro, um lateral para me ajudar. Ninguém joga sozinho, então eu acho importante que seja qual for a posição que o jogador se dedique e seja o melhor".