Berço do futebol no Rio de Janeiro. Foi em Bangu que o esporte, ainda chamado como ‘football’, começou a ser disputado na Cidade Maravilhosa. E, dizem, que até mesmo antes de Charles Miller voltar para São Paulo com o equipamento que plantaria a semente da nossa maior paixão nacional.
Com saudades do esporte, o escocês Thomas Donohoe [logo apelidado como ‘Seu Danau’] apresentou o esporte enquanto trabalhava na antiga fábrica de tecidos localizada no bairro da Zona Oeste carioca. Anos depois, mais precisamente em 1904, Seu Danau foi um dos fundadores do Bangu Atlético Clube.
O escudo do clube já anteciparia a sua importância para a inclusão social. Repare bem: as letras entrelaçadas da sigla BAC são, ao mesmo tempo, objetos. O ‘B’ é um monóculo, daqueles bem populares do início do século XX; o ‘A’ é um suporte para pinturas de telas, e o ‘C’ representa uma ferradura. Os respectivos significados são: o lado intelectual do clube, o incentivo à cultura e os pedidos de sorte esportiva.
Fundado por britânicos, mas representado pelos operários da fábrica. O Bangu foi o pioneiro na defesa da inclusão racial no esporte. Em 1905, o tecelão Francisco Carregal causou espanto no aristocrático público por ter entrado em campo em partida disputada contra o Fluminense. Dois anos depois, a principal federação de futebol do Rio de Janeiro [a extinta Liga Metropolitana de Football] proibiu a participação de negros dentro de campo. Inconformado com a decisão, o Alvirrubro optou por não mais disputar o torneio. Carregal, o dono da bola que entrou para a história o maior craque da história banguense.
Mesmo assim, o Alvirrubro se transformou futuramente em uma das figuras mais constantes e tradicionais do futebol carioca. Campeão estadual em 1933 [pela Liga Carioca de Football, na época da cisão de federações no Estado] e 1966 [com direito a briga feia após bater o Flamengo], tem nos negros da família Da Guia, os seus maiores heróis. Ladislau é o maior artilheiro, com 229 tentos; mas o maior craque de toda a história do clube é, também, um imortal do futebol brasileiro: Domingos da Guia, zagueiro.
Em 1985, com um bom time montado com ajuda do dinheiro oriundo do jogo do bicho, o Bangu chocou o Brasil ao chegar na final do Brasileirão – e a derrota para o Coritiba, em um Maracanã lotado, entristeceu todo o futebol carioca. O papel do contraventor Castor de Andrade, naquela época, revolucionou o clube até mesmo em seu uniforme: o desenho de um castor na camisa foi a primeira inclusão de um mascote em uma indumentária futebolística no Brasil.
Nascida com um empurrão de emigrantes, defensor da inclusão racial e dono de controvérsias únicas, o Bangu pode ser visto como uma pequena alegoria de um pedaço importante da cultura brasileira. E craques não faltaram: além de Ladislau e Domingos, foi lá que Ademir da Guia nasceu para o futebol, onde Zizinho fez história e muito mais!