O Botafogo vencia o Bangu por 1 a 0 quando, com um jogador a menos (graças ao cartão vermelho recebido por Rodrigo Pimpão), desceu para os vestiários de Moça Bonita no último domingo (26), pelo Campeonato Carioca. Quando a equipe voltou para a segunda etapa, a principal mudança havia sido a saída de Walter Montillo para a entrada do jovem Fernandes.
A alteração tinha um objetivo: o meio-campista revelado nas categorias de base do clube tem característica um pouco mais defensiva que a de Montillo, que por sua vez é conhecido pela habilidade de criar jogadas ofensivas. Ironia ou não, Fernandes incendiou o jogo: correu o campo todo, apareceu na área para arriscar chutes a gol e ainda sofreu o pênalti que cravou a vitória botafoguense, por 2 a 0, no Campeonato Carioca.
Em entrevista coletiva concedida nesta segunda-feira (27), Fernandes falou da disputa por um lugar no meio de campo. Seja como volante ou meia: "Alguns jogos fiz mais como meia, a disputa está boa. Se o professor [Jair Ventura] optar como volante também estou à disposição (...) Os dois jogos que fiz foram como meia, na posição que eles [Camilo e Montillo] vêm atuando. Se precisar de mim ali, quero ajudar o grupo a sair com resultado positivo", disse.
E é bom Montillo ficar de olhos bem abertos. Afinal de contas, o argentino – principal contratação do Botafogo para a temporada – ainda não fez gol e tampouco deu alguma assistência. Isso não quer dizer, no entanto, que o camisa 7 não esteja buscando o seu melhor: ainda não está nas melhores condições físicas após o retorno do futebol chinês e, por causa do início intenso do Alvinegro na temporada (com partidas decisivas na Pré-Libertadores) chegou a desfalcar a equipe no jogo de volta contra o Olímpia, por causa de uma lesão na panturrilha.
Ao longo das nove partidas oficiais que disputou, Montillo circulou muito bem pelo meio de campo. Dependendo da característica do adversário, caía mais vezes para o lado esquerdo, direito ou ficava mais centralizado. Lá pelo meio, o camisa 7 ajudou na transição entre defesa e ataque com um toque de categoria. Mas é impossível não se perguntar por que o argentino ainda não balançou as redes ou não deu passes para gols.
Considerando as partidas de Libertadores da América e Campeonato Carioca, Montillo arriscou 10 arremates (6 pelo estadual, 4 pelo certame continental) e acertou a mira cinco vezes. Ou seja, o aproveitamento é de 50% e vale lembrar que ele obrigou o goleiro Justo Villar e Martín Silva a fazerem defesas espetaculares em tentativas de fora da área.
A maior parte dessas tentativas do argentino vem de chutes de longa distância, e na maioria das vezes o arremate é perigoso. Entretanto, ao longo de sua carreira, Montillo sempre apareceu com mais perigo quando entrava mais vezes dentro da área. Em sua passagem pelo Cruzeiro, entre 2009 e 2012, marcou vários gols assim. O mesmo também aconteceu em sua última temporada pelo Shandong Luneng, na qual jogou o seu melhor futebol na China e ajudou a equipe a escapar do rebaixamento com 13 gols. Na maior parte dessas partidas, Montillo levou mais perigo sempre que entrava perto da área.
O grande problema é que em nenhum dos seus nove jogos pelo Botafogo o argentino se aproximou muitas vezes da grande área. As exceções são a estreia na Libertadores (primeira imagem acima)... e no amistoso contra o Rio Branco, no qual balançou as redes em chute desferido no lado direito da grande área. Montillo possui talento e demonstra muita vontade com a camisa do Glorioso – o que até lhe rendeu a faixa de capitão em algumas ocasiões. Pode jogar em qualquer posição que o aproxime mais do gol e do centroavante. A grande questão para Jair Ventura é buscar tirar o melhor do jogador, próximo da área, sem comprometer a recomposição defensiva.