Há 20 anos o Vasco era campeão da Libertadores

É curioso escrever que alguns momentos são eternos, ao mesmo tempo em que se relembram os 20 anos de um acontecimento. Mas se o passar dos anos é um fato indiscutível, a verdade é que a noite de 26 de agosto de 1998 não acabou para milhões de vascaínos espalhados pelo Brasil e pelo mundo.
Pois foi quando, no ano de seu centenário, o Gigante da Colina voltava a sentar no trono supremo do futebol sul-americano meio século após ter levado a melhor sobre a ‘Máquina’ do River Plate no Sul-Americano de clubes que inspiraria a Copa Libertadores da América pouco mais de uma década depois.
Na campanha vitoriosa de 1998, o gigante argentino também esteve no caminho. Mas foi na semifinal, marcada pelo gol monumental de Juninho Pernambucano. A grande decisão, no entanto, foi diante do Barcelona de Guayaquil, uma surpresa em meio a gigantes. Mas o início do Vasco treinado por Antonio Lopes não foi dos mais animadores no caminho rumo ao título.
26 de agosto de 2018
“Nós começamos mal, mesmo sem estar jogando mal. Depois do empate com o América do México (na terceira rodada da fase de grupos) que nós começamos a nossa recuperação”, relembra o capitão daquela equipe, Mauro Galvão, com exclusividade para a Goal Brasil. Classificado em segundo no Grupo 2, o Cruzmaltino duelou contra o Cruzeiro, campeão em 1997, nas oitavas de final e levou a melhor. Depois, reencontro com o Grêmio – líder de sua chave – que tinha em um jovem Ronaldinho Gaúcho sua grande estrela e a inesquecível semifinal contra o River Plate.
Das oitavas até a semifinal, a coincidência esteve no placar agregado (sempre 2 a 1 a favor dos cariocas) e no fator casa. São Januário foi um caldeirão que jogava junto daquela equipe forte, com um ataque que às vezes era defesa e uma defesa que muitas vezes aparecia no ataque: “Falam que eu era um dos melhores zagueiros daquele time (risos), porque eu defendia muito (risos)”, relembra, também para a Goal, o atacante Luizão, artilheiro vascaíno naquela campanha e, até hoje (com 8 gols), o maior goleador do clube na competição.
26 de agosto de 2018
Aquele Vasco iniciava a temporada a perda de seus dois atacantes, Edmundo e Evair, mas encontrou em Donizete e Luizão uma dupla à altura, sempre disposta a brigar para recuperar a bola e levar perigo aos adversários. Taticamente, um 4-4-2 clássico dos anos 90 que dependendo do adversário de transformava em 3-5-2 (com o volante Nasa recuando como zagueiro para liberar o lateral Felipe).
“A gente dava muita liberdade para o Felipe, que atuava quase como um meia. O Nasa fazia a cobertura e ficávamos quase com três zagueiros quando enfrentávamos equipes com dois atacantes fortes. Mas não era um sistema fixo, dependia do adversário", pontua Mauro Galvão, que aos 37 anos levantou a taça que lhe escapara no já longínquo 1980, quando foi vice-campeão com o Internacional.
25 de agosto de 2018
Mauro teve importância ímpar na conquista, não apenas por ter sido imortalizado levantando o troféu – ato que lhe deu uma “sensação muito boa, de representar milhões de vascaínos”. A partir do mata-mata, o Vasco sofreu apenas quatro gols, e foi do veterano defensor a assistência para Luizão fazer o 2 a 0 no jogo de ida em São Januário. O título seria conquistado sem muito drama no Equador, vitória por 2 a 1 com gols de Luizão e Donizete. Um momento inesquecível não apenas para os torcedores, mas para os vários craques daquela equipe.
“Nós trabalhamos muito para aquele título, e mesmo assim sabíamos que nem sempre o título ve quando há trabalho. Nós sabíamos o que estava em jogo, e a torcida do Vasco ajudou muito. Dentro de casa, transformou São Januário em um Caldeirão. Era um time bom dentro e fora de campo", relembra Mauro Galvão.
21 de agosto de 2018
“Foi o meu primeiro título de grande expressão da minha carreira”, relembra Luizão, que depois colecionaria outros títulos, como a Copa do Mundo em 2002 e outra Libertadores, em 2005, já pelo São Paulo. “Ano do centenário do Vasco, eu fui contratado para substituir uma dupla de ataque maravilhosa, que foi Edmundo e Evair, e eu e Donizete conseguimos substituir à altura e levamos o nome do Vasco ao topo da América”.
Brasileiro que mais estufou as redes no maior torneio do nosso continente (29 gols), Luizão diz que o segredo do sucesso no torneio passa pela entrega no gramado. Mas não apenas isso: “O segredo da Libertadores? É acreditar em todas as bolas, e ter muita raça, muita determinação, muita vontade. E também existe predestinação. Eu acho que eu era um predestinado na Libertadores”.
26 de agosto de 2018
Vinte anos depois, o Vasco vive uma situação em nada parecida à daquela época. Uma instituição que, nas palavras do seu capitão de 1998, “precisa resolver os problemas políticos” e ainda se vê “muito preso ás coisas do passado”. As palavras de Mauro Galvão são em tom de uma crítica justa, mas em alguns poucos casos, olhar para trás também ajuda a inspirar. E é isso o que aquele esquadrão que brigava por todos os títulos tem que fazer pelo Vasco. Para que um clube de tanta importância volte a dar ao seu torcedor os momentos eternos, que vencem a barreira do tempo.
26 de agosto de 2018